O premiê do Paquistão, Imran Khan, afirmou que a Agência Central de Inteligência (CIA, na sigla em inglês) dos EUA "absolutamente não" terá permissão para operar em solo paquistanês depois que Washington concluir sua retirada do Afeganistão em setembro. A declaração foi dada ao portal Axios, que transmitirá uma entrevista com o premiê no domingo (20).
A recusa não é por falta de tentativas dos EUA: o diretor da CIA, William Burns, e o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, visitaram o Paquistão nos últimos meses para discutir a continuidade da cooperação. No entanto, o governo paquistanês rejeitou todas as tentativas como um acordo, uma vez que Islamabad mantém uma relação muito próxima com o Talibã (organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países), exatamente a organização contra quem os EUA estariam operando.
Paquistão tem papel importante no Afeganistão
A Agência de Inteligência do Paquistão (ISI, na sigla em inglês) foi a porta de entrada de Washington para o Afeganistão por décadas antes da invasão dos EUA em outubro de 2001, proporcionando uma via pela qual os EUA poderiam canalizar apoio financeiro e material para tribos afegãs que lutavam contra o governo socialista afegão e seus aliados soviéticos na década de 1980, incluindo aqueles que mais tarde se tornariam o Talibã, e depois para grupos que resistiam ao governo do Talibã, que chegou ao poder após o colapso do governo socialista em 1996.
Os EUA e o Talibã chegaram a um acordo de paz em fevereiro de 2020 para que Washington encerrasse sua ocupação de 20 anos e, Cabul e retirasse suas tropas, um acordo semelhante entre o Talibã e o governo afegão se mostrou ilusório.
Dessa forma, segundo o jornal The New York Times, os EUA estão em busca de representantes no Afeganistão para apoiar depois que as últimas tropas dos EUA partirem, aparentemente refletindo a crença de que o Talibã, agora fora do poder, não levará as negociações de paz a sério e que o governo afegão entrará em colapso rapidamente em face de uma nova ofensiva da organização.
No entanto, embora Islamabad não vá cooperar com os EUA, o presidente afegão Ashraf Ghani sinalizou que seu governo pode buscar a ajuda do Paquistão para alcançar a estabilidade sem os EUA.
"A paz será principalmente decidida regionalmente e acredito que estamos em um momento crucial de repensar. É antes de mais nada uma questão de trazer o Paquistão a bordo [...]. Os EUA agora desempenham apenas um papel menor. A questão da paz ou hostilidade está agora nas mãos do Paquistão", disse Ghani ao jornal Der Spiegel em maio.