Assassinato do presidente do Haiti coloca em xeque as missões de paz da ONU envolvendo Brasil?

© Sputnik / Igor PatrickMilitares brasileiros da missão MINUSTAH, Haiti
Militares brasileiros da missão MINUSTAH, Haiti - Sputnik Brasil, 1920, 08.07.2021
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Na madrugada de quarta-feira (7), o primeiro-ministro interino do Haiti, Claude Joseph, informou sobre o assassinato do presidente do país, Jovenel Moïse.

Na ocasião, o primeiro-ministro informou que um grupo de pessoas não identificadas atacou a residência do presidente do Haiti, que foi baleado e não resistiu aos ferimentos, a primeira-dama também ficou ferida.

Após o assassinato do presidente haitiano, a questão relacionada à missão de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) veio à tona.

Vale ressaltar que a missão da ONU permaneceu por 13 anos no Haiti, contudo, a instabilidade política no país persiste.

Em entrevista à Sputnik Brasil, o cientista político e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, Arnaldo Francisco Cardoso comentou sobre o assassinato do presidente Jovenel Moïse, bem como sobre a instabilidade política no país, mesmo após uma missão de paz da ONU.

De acordo com Arnaldo Francisco Cardoso, o assassinato do presidente do Haiti, Jovenel Moïse, nesta quarta-feira (7) escancara uma nova escalada de violência em uma sucessão de crises e instabilidade política no país mais pobre do continente americano.

"Expõe também, mais uma vez, o fracasso de uma missão de paz nos moldes como vêm sendo concebidas e conduzidas em diferentes partes do mundo pela Organização das Nações Unidas e seus membros", afirmou o professor.

Papel do Brasil na missão de paz da ONU no Haiti

Sobre o papel brasileiro na missão de paz da ONU no Haiti, o professor acredita que o Brasil, por ter comandado o componente militar da Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti, ou MINUSTAH, de 2004 a 2017, deveria poder contribuir com uma profissional e sincera análise crítica da missão.

© Folhapress / Lula Marques Militares retornam a Brasília, capital do Brasil, após sete meses de operações no Haiti, no âmbito da operação de paz Minustah
Assassinato do presidente do Haiti coloca em xeque as missões de paz da ONU envolvendo Brasil? - Sputnik Brasil, 1920, 08.07.2021
Militares retornam a Brasília, capital do Brasil, após sete meses de operações no Haiti, no âmbito da operação de paz Minustah

O cientista político ainda lembrou que, na saída do país em 2017, o comandante das forças da missão da ONU no Haiti, o general brasileiro Ajax Porto Pinheiro, despediu-se com a afirmação de "missão cumprida", declarando crer em uma nova geração, distinta da que viveu o auge da violência. No entanto, o que se viu nos últimos anos não confirmou a avaliação do general.

"Considero por tudo lembrar que o Brasil foi o país que mais enviou tropas ao Haiti, totalizando 37.500 brasileiros envolvidos nas operações", recordou.

Denúncias e críticas contra tropas brasileiras em operações humanitárias

O primeiro militar brasileiro a comandar a missão foi o general Augusto Heleno, que atualmente é o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República.

Segundo Arnaldo Francisco Cardoso, o general Augusto Heleno ficou no país entre 2004 e 2005, dando lugar a uma sucessão de outros militares brasileiros em postos-chave na condução da MINUSTAH, como os generais Tarcísio Gomes de Freitas, Carlos Alberto Santos Cruz, Floriano Peixoto, Luís Eduardo Ramos e Edson Pujol.

© Sputnik / Igor PatrickEscritório da missão MINUSTAH no Haiti
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Escritório da missão MINUSTAH no Haiti

Além das críticas de diversas organizações humanitárias à operação Punho de Ferro, realizada logo no início da intervenção, em julho de 2005, na Cité Soleil, a área mais pobre da capital Porto Príncipe, muitas outras denúncias de violências e abusos por parte de soldados brasileiros se seguiram ao longo dos anos da presença militar no país caribenho.

"Se, na visão dos comandantes militares brasileiros, a participação na MINUSTAH se constituiu em um excelente exercício de treinamento das tropas brasileiras, inúmeros analistas denunciaram a falta de preparo dos soldados brasileiros para atuação em operações humanitárias em comunidades urbanas carentes [...]", observou o professor.

Para o especialista, há certamente nisso muitas questões a serem debatidas acerca de intervenções militares em comunidades carentes, como vem ocorrendo no Rio de Janeiro, com péssimos resultados.

Desigualdade econômica e debilitamento das democracias

Arnaldo Francisco Cardoso explicou que em meio à pandemia, que ainda castiga inúmeras nações e que já evidenciou o agravamento de problemas decorrentes da desigualdade econômica concomitante ao debilitamento das democracias, é mais que urgente que lideranças políticas e econômicas globais assumam responsabilidades compartilhadas proporcionais às demandas de nosso tempo.

"Os problemas estão a exigir grandeza de propósitos e determinação. O egoísmo e o amesquinhamento das nações mais ricas trarão custos elevados a todos. O Haiti volta a nos lembrar disto", concluiu.

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