Na ocasião, o primeiro-ministro informou que um grupo de pessoas não identificadas atacou a residência do presidente do Haiti, que foi baleado e não resistiu aos ferimentos, a primeira-dama também ficou ferida.
Após o assassinato do presidente haitiano, a questão relacionada à missão de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) veio à tona.
Vale ressaltar que a missão da ONU permaneceu por 13 anos no Haiti, contudo, a instabilidade política no país persiste.
Autoridades da República Dominicana estão investigando uma possível entrada em seu território dos assassinos do presidente haitiano Jovenel Moïsehttps://t.co/ZvTW1dqins
— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) July 7, 2021
Em entrevista à Sputnik Brasil, o cientista político e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, Arnaldo Francisco Cardoso comentou sobre o assassinato do presidente Jovenel Moïse, bem como sobre a instabilidade política no país, mesmo após uma missão de paz da ONU.
De acordo com Arnaldo Francisco Cardoso, o assassinato do presidente do Haiti, Jovenel Moïse, nesta quarta-feira (7) escancara uma nova escalada de violência em uma sucessão de crises e instabilidade política no país mais pobre do continente americano.
"Expõe também, mais uma vez, o fracasso de uma missão de paz nos moldes como vêm sendo concebidas e conduzidas em diferentes partes do mundo pela Organização das Nações Unidas e seus membros", afirmou o professor.
Papel do Brasil na missão de paz da ONU no Haiti
Sobre o papel brasileiro na missão de paz da ONU no Haiti, o professor acredita que o Brasil, por ter comandado o componente militar da Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti, ou MINUSTAH, de 2004 a 2017, deveria poder contribuir com uma profissional e sincera análise crítica da missão.
O cientista político ainda lembrou que, na saída do país em 2017, o comandante das forças da missão da ONU no Haiti, o general brasileiro Ajax Porto Pinheiro, despediu-se com a afirmação de "missão cumprida", declarando crer em uma nova geração, distinta da que viveu o auge da violência. No entanto, o que se viu nos últimos anos não confirmou a avaliação do general.
"Considero por tudo lembrar que o Brasil foi o país que mais enviou tropas ao Haiti, totalizando 37.500 brasileiros envolvidos nas operações", recordou.
Denúncias e críticas contra tropas brasileiras em operações humanitárias
O primeiro militar brasileiro a comandar a missão foi o general Augusto Heleno, que atualmente é o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República.
Segundo Arnaldo Francisco Cardoso, o general Augusto Heleno ficou no país entre 2004 e 2005, dando lugar a uma sucessão de outros militares brasileiros em postos-chave na condução da MINUSTAH, como os generais Tarcísio Gomes de Freitas, Carlos Alberto Santos Cruz, Floriano Peixoto, Luís Eduardo Ramos e Edson Pujol.
Além das críticas de diversas organizações humanitárias à operação Punho de Ferro, realizada logo no início da intervenção, em julho de 2005, na Cité Soleil, a área mais pobre da capital Porto Príncipe, muitas outras denúncias de violências e abusos por parte de soldados brasileiros se seguiram ao longo dos anos da presença militar no país caribenho.
"Se, na visão dos comandantes militares brasileiros, a participação na MINUSTAH se constituiu em um excelente exercício de treinamento das tropas brasileiras, inúmeros analistas denunciaram a falta de preparo dos soldados brasileiros para atuação em operações humanitárias em comunidades urbanas carentes [...]", observou o professor.
Para o especialista, há certamente nisso muitas questões a serem debatidas acerca de intervenções militares em comunidades carentes, como vem ocorrendo no Rio de Janeiro, com péssimos resultados.
Desigualdade econômica e debilitamento das democracias
Arnaldo Francisco Cardoso explicou que em meio à pandemia, que ainda castiga inúmeras nações e que já evidenciou o agravamento de problemas decorrentes da desigualdade econômica concomitante ao debilitamento das democracias, é mais que urgente que lideranças políticas e econômicas globais assumam responsabilidades compartilhadas proporcionais às demandas de nosso tempo.
"Os problemas estão a exigir grandeza de propósitos e determinação. O egoísmo e o amesquinhamento das nações mais ricas trarão custos elevados a todos. O Haiti volta a nos lembrar disto", concluiu.