A ONU teme que a escalada da guerra civil no Afeganistão possa resultar em muito mais vítimas civis após a partida militar dos EUA e da OTAN.
"Um número sem precedentes de civis afegãos morrerá ou será mutilado este ano se a crescente violência não for monitorizada", advertiu na segunda-feira (26) a Missão de Assistência das Nações Unidas no Afeganistão em um comunicado de imprensa, que acompanha um relatório sobre a situação no país.
Segundo a organização, as vítimas civis na primeira metade de 2021 já atingiram "níveis recordes", com "um aumento particularmente acentuado de mortes e ferimentos" relatado desde maio, quando a coalizão liderada pelos EUA iniciou sua retirada.
As Nações Unidas advertiram que "sem uma redução significativa da violência, o Afeganistão está a caminho de testemunhar em 2021 o maior número de baixas civis documentadas em um único ano desde que [seus] registros começaram".
No relatório, que cobriu as baixas entre janeiro e junho de 2021, a ONU indicou que cerca de 1.659 civis afegãos foram mortos e 3.254 feridos durante esse período, números que representam um aumento de 47% em comparação com o mesmo período em 2020. Só entre maio e junho, 783 civis perderam a vida e 1.609 foram feridos, de acordo com o relatório.
O relatório indicou ainda que mulheres e crianças representaram cerca de 46% de todos os mortos e feridos civis, dados que a ONU chamou de "repugnantes". Os funcionários civis do governo, da mídia, ativistas, dirigentes religiosos (anciãos) e trabalhadores humanitários têm sido outros dos alvos principais.
A ONU responsabilizou "elementos antigovernamentais" por 64% de todas as baixas civis, sendo as forças pró-governamentais responsáveis por 25%. 39% das baixas foram atribuídas ao Talibã, com cerca de 9% atribuídas ao Estado Islâmico na Província de Khorasan, um ramo do Daesh (organizações terroristas, proibidas na Rússia e em vários outros países), ativo na Ásia Central e do Sul.
O fogo cruzado, dispositivos explosivos improvisados, assassinatos direcionados e ataques aéreos teriam sido a causa da maioria das baixas.
Deborah Lyons, representante especial da ONU para o Afeganistão, implorou ao Talibã e a Cabul que "atentassem para a trajetória sombria e arrepiante do conflito e seu impacto devastador sobre os civis", e sugeriu que o relatório elaborado era um aviso das coisas que virão se a violência não for detida.
A ONU advertiu que o número de vítimas pode aumentar drasticamente se os combates alastrarem das áreas rurais, onde a densidade populacional é baixa, para cidades com alta densidade populacional.
Por fim, a agência exortou ambos os lados a "parar os combates de afegãos contra afegãos", rejeitar uma solução militar e "intensificar [...] os esforços à mesa de negociações".