No final de julho, através de documentos e dados acessados, ficou comprovado que a força-tarefa da Operação Lava Jato tentou adquirir o software Pegasus na tentativa de criar um "bunker" cibernético na Procuradoria-Geral da República (PGR).
Entretanto, o contrato com a empresa israelense desenvolvedora do software, a NSO Group, foi cancelado após vir à tona o envolvimento do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, na negociação, conforme noticiado.
Porém, no decurso das investigações foi noticiado hoje (3), que o vereador não só tentou comprar o software Pegasus como também um outro, o Sherlock, para monitorar o Palácio do Planalto, segundo o UOL.
A informação foi confirmada por uma fonte ligada ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI), segundo a mídia.
Carlos Bolsonaro teria utilizado sua primeira viagem presidencial a Israel, ainda em março de 2019, para tratar do sistema com representantes da empresa em Tel Aviv.
O contato direto teria sido feito pelo senador Chico Rodrigues (DEM-RR), que integrava a comitiva presidencial na viagem. A mídia diz que o GSI assinou um memorando de entendimento na área da cibersegurança com o órgão correspondente em Israel, no entanto, o documento teve o sigilo classificado e até hoje não foi divulgado.
Segundo a fonte do GSI citada pela mídia, os lugares nos quais se instalariam o Sherlock seriam as principais secretarias com status de ministério, dentre elas a Casa Civil, o próprio GSI, a Secretaria de Governo (Segov), a Secretaria-Geral da Presidência, a Secretaria de Comunicação (Secom), entre outras estruturas governamentais.
Diferentemente do Pegasus, o Sherlock não seria utilizado pelo governo como um "spyware" contra jornalistas, ativistas e desafetos políticos. Na verdade, o Sherlock serviria para municiar a família Bolsonaro contra possíveis problemas internos no governo, de acordo com o UOL.
Procurados pela mídia, Carlos Bolsonaro, Chico Rodrigues, e o GSI não responderam aos questionamentos da reportagem.
Segundo Marcus Vinicius de Freitas, professor da Universidade de Relações Exteriores da China, em Pequim, China, entrevistado pela Sputnik Brasil, os softwares de espionagem criam uma dualidade muito grande na sociedade civil, pois, ao mesmo tempo que invadem a privacidade, também ajudam a encontrar possíveis ameaças, como ataques terroristas, por exemplo.
"Ao mesmo tempo em que a gente está reclamando da questão de usar o spyware contra jornalistas e ativistas de direitos humanos, você também pode usar essa mesma tecnologia para identificar terroristas, narcotraficantes, uma série de outras coisas. O Estado precisa decidir como vai direcionar para que, se a tecnologia for reconhecida como necessária, seja utilizada para aquilo que nós convencionamos como bem coletivo: combater terrorismo, narcotráfico […]", disse o especialista.