A proposta dos EUA de apoiarem o Brasil na obtenção do status de aliado importante não-OTAN não prejudicará as relações com a Rússia, de acordo com Viktor Kheifets, professor do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Estatal de São Petersburgo, na Rússia.
"Isso não afetará as relações entre a Rússia e o Brasil de forma nenhuma, em primeiro lugar porque essas coisas não são feitas rapidamente, e há eleições no Brasil daqui a um ano, e o presidente atual Jair Bolsonaro por enquanto está perdendo em todas as questões. Em segundo lugar, as relações russo-brasileiras não são politizadas, elas estão se desenvolvendo com calma e tranquilidade, tanto com Bolsonaro, como com seu antecessor Michel Temer, de centro-direita, como com os dois presidentes de esquerda, como com Fernando Henrique Cardoso, que esteve antes dele. Portanto, não vejo uma ameaça séria aqui", disse o especialista à Sputnik.
O professor disse que a proposta norte-americana ao Brasil dificilmente será apreciada de maneira positiva por outros Estados-membros da OTAN. Ele sublinhou que o Brasil seria interessante para a aliança como um parceiro global, mas nenhum dos líderes europeus está disposto a ajudar Bolsonaro.
"O Brasil tem relações, digamos, difíceis com vários membros europeus da OTAN […] Assim, eu não me disponho a acreditar que a maioria dos membros europeus da OTAN fique entusiasmada com essa ideia, pelo menos enquanto Bolsonaro for presidente", segundo Kheifets.
O especialista russo duvida que o Brasil brigue com a China para obter apoio dos Estados Unidos na obtenção do status de aliado extra-OTAN, dado que uma das condições para tal apoio de Washington é a proibição do acesso de empresas chinesas de telecomunicações a redes móveis nacionais de 5G no país.
Se o Brasil tomar claramente o partido da China ou dos EUA na competição global entre esses países, corre o risco de perder tanto nas relações com um como com outro. "Por isso, acho que o Brasil tentará não escolher nenhum deles até o último momento", concluiu o especialista.
Anteriormente, as autoridades norte-americanas ofereceram ao Brasil apoio para obter o status de aliado importante extra-OTAN. A proposta foi feita nesta quinta-feira (5), durante a reunião do conselheirto do presidente dos Estados Unidos para a Segurança Nacional, Jake Sullivan, com o ministro da Defesa brasileiro, Walter Braga Netto.
O status de aliado importante não-OTAN permitiria aos militares brasileiros comprar armas de países da aliança em condições mais favoráveis e participar de programas de treinamento militar. Aliados extra-OTAN, em caso de conflito militar, podem ser convidados a participar do mesmo ao lado da aliança, embora tenham o direito de recusar.