Nesta terça-feira (10), Brasília recebeu um comboio de tanques militares. Oficialmente, a justificativa para a presença dos veículos blindados e armamentos da Força de Fuzileiros da Esquadra da Marinha foi para uma exibição na Esplanada dos Ministérios.
A parada contou com presidente da República, Jair Bolsonaro, e o ministro da Defesa, Walter Braga Netto. Entretanto, neste mesmo dia, está marcada a votação da PEC do voto impresso na Câmara.
Várias instituições e políticos expressam suas interpretações acerca do desfile, entre eles o Exército.
Para a instituição, o desfile de carros blindados hoje (10) foi "desnecessário", "inadequado" e que não reflete a posição das Forças Armadas, na visão dos militares o ato só serviu para desgastar a imagem do Exército, de acordo com o G1.
Segundo a mídia, a avaliação é que o evento não deveria nem ter sido preparado por passar a imagem de uma demonstração de força em um momento em que o governo está enfraquecido.
Na interpretação dos militares a exibição é uma forma de colocar as Forças Armadas, uma instituição de Estado, como uma instituição de governo, apoiando politicamente o presidente da República.
Os desfiles dos tanques aconteceram no mesmo dia que ficou marcado a PEC do voto impresso. Para eles, o governo poderia ter cancelado o evento, mas queria exatamente passar uma mensagem de intimidação e demonstração de força, de acordo com o G1.
Lula
O ex-presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, também fez considerações sobre o evento. Lula classificou como "patético" o desfile dos veículos blindados, e citou diversos ex-presidentes que, assim como ele, "nunca precisaram disso".
"A cena patética de hoje de receber um convite para um pequeno desfile militar na frente do Palácio. Eu acho que nem Sarney, nem Fernando Henrique Cardoso, nem eu, Dilma, nem Temer, nunca precisamos disso. O cara quer entregar um convite, o cara pega um avião, desce em Brasília, vai no gabinete, entrega o convite e acabou. Isso é o jeito do Bolsonaro dizer que ele é o presidente desse país", criticou Lula em entrevista segundo o portal Terra.
Parlamentares da CPI da Covid
O presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), usou a mesma expressão de Lula e considerou o desfile "patético" e que evidenciou o que ele chama de "fraqueza" de Bolsonaro. O senador disse ainda que "não haverá golpe contra a democracia".
"Bolsonaro imagina com isso estar mostrando força, mas na verdade está evidenciando toda a fraqueza de um presidente acuado pelas investigações de corrupção [...]. Não haverá voto impresso, não haverá nenhum tipo de golpe contra a nossa democracia. As instituições, com o Congresso à frente, não deixarão que isso aconteça. A democracia tem instrumentos para defender a própria democracia contra arroubos golpistas", disse Aziz citado pelo G1.
O relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), cobrou as Forças Armadas para deixarem de lado o que chamou de "loucuras" do presidente Jair Bolsonaro.
"É muito importante que os militares tomem consciência do efetivo cumprimento dos seus deveres constitucionais, deixando de lado essas loucuras do presidente da República. O que está em jogo é a defesa do estado democrático de direito, da Constituição, da institucionalidade e eles não podem abrir precedentes com relação a isso", disse Calheiros citado pelo portal Terra.
Segundo Marcelo Jackson, cientista Político e professor do Departamento de Educação e Tecnologias da Universidade Federal de Ouro Preto, entrevistado pela Sputnik Brasil, Bolsonaro "quer demonstrar força em seu momento de maior fraqueza".
Indagado se o presidente poderia efetivamente vir a dar um golpe de Estado, Jackson diz que ele pode tentar, mas não sabe se vai "sustentar".
"Bolsonaro vive em um mundo da década de 1960 […]. Tentar dar um golpe ele pode até tentar, mas a questão não é dar um golpe, e sim sustentá-lo. São duas coisas completamente diferentes."