Uma nova descoberta no Parque Arqueológico do Vale do Côa, região norte de Portugal, está deixando os especialistas intrigados. O local que é conhecido por sua rara concentração de arte rupestre composta por gravuras em pedra datadas do Paleolítico Superior, estimado entre 22 mil a 10 mil a.C., apresenta uma gravura diferente de todas as outras.
A imagem misteriosa é de uma cerva, gravada com uma técnica diferente das demais artes do Côa. A figura fica junto de outros traços incisos, distribuída por dois fragmentos supostamente caídos de um painel já destruído pelo tempo.
«As mais recentes descobertas no sítio do Fariseu, no Parque Arqueológico do Vale do Côa, intrigam os arqueólogos, devido a uma gravura que representa uma cerva, gravada com uma técnica diferente da da "Arte do Côa".»#Culturahttps://t.co/juiIiLU7Tk
— Camões.IP (@camoes_ip) August 18, 2021
"Encontramos um fragmento de painel que foi gravado que nada tem a ver com chamada arte móvel, mas antes parte de um painel que foi gravado, que se desprendeu e foi encontrado numa camada arqueológica", disse à agência Lusa o diretor científico da Fundação Côa Parque, Thierry Aubry.
O arqueólogo contou que resultados das datações com técnica de luminescência que estão sob responsabilidade de um laboratório na Dinamarca vão permitir estabelecer uma data mínima para a sua realização.
Thierry Aubry frisou ainda que esta peça misteriosa não está relacionada com o painel descoberto em 2020 que consistia em uma gravação por incisão de traço fino e gravura mais elaborada e pormenorizada. Mas sim, às escavações de maio deste ano na chamada "rocha 09 do Fariseu", que representa um dos principais núcleos de arte rupestre do Vale do Côa.
Na área foram encontrados 25 fragmentos de rocha com técnicas diferentes de gravação, mas esta cerva em específico intriga por sua "técnica apurada", segundo o arqueólogo.
Os estudiosos sempre acreditaram no potencial rupestre da "rocha 09 do Fariseu" do parque, que fica a cerca de 50 metros do rio Côa. Para o arqueólogo André Santos, este achado ajuda a precisar a datação do sítio arqueológico.
"Isto é importante para datarmos um tipo de gravuras que temos no Vale do Côa que, até ao momento, não está bem datada cientificamente. Para já a única certeza que temos é que a gravura é anterior a 14 mil anos, já que a arte aplicada após esta data se torna diferente", observou Santos.
Para a presidente da Fundação Côa Parque, Aida Carvalho, as gravuras do Côa têm relevante importância turística: "as gravuras do Côa são um importante recurso de atração turística ao território. Quem visita o museu questiona com frequência o conjunto de procedimentos e técnicas de datação das gravuras e esta figura poderá responder, em parte, a essa grande questão", afirmou a presidente.
A Arte do Côa foi classificada como Monumento Nacional em 1997 e como Patrimônio da Humanidade, pela UNESCO, um ano depois. A imensa galeria ao ar livre do Vale do Côa possui mais de 1.200 rochas, distribuídas por 20 mil hectares de terreno com manifestações rupestres, sendo predominantes as gravuras paleolíticas com mais de 25 mil anos.