As células-tronco foram preparadas para cultivação de miniórgãos artificiais, ou seja, organoides. É o primeiro passo na realização de um projeto de fabricação industrial de tecidos humanos em condições de gravidade zero, conforme informação publicada no site da universidade.
O 3D Organoids in Space (Organoides 3D no Espaço, na tradução do inglês) é um projeto conjunto do Departamento Espacial da Universidade de Zurique e da empresa Airbus. Os biólogos da universidade prepararam uma justificativa teórica e realizaram os experimentos de laboratório, enquanto a equipe da Airbus Innovations, sob liderança de Julian Raatschen, desenvolveu o equipamento e é responsável por seu transporte à EEI.
Os organoides 3D despertam grande interesse da indústria farmacêutica: eles permitem conduzir testes toxicológicos diretamente em órgãos humanos, sem experimentos em animais. Os organoides cultivados das células-tronco dos pacientes também podem ser utilizados como "blocos de construção" para substituição de fragmentos de tecidos no tratamento de órgãos lesionados.
"Na Terra, é impossível produzir organoides 3D sem estruturas de suporte de matriz por causa da gravidade terrestre", diz em comunicado uma dos autores do projeto, Cora Thiel.
A etapa atual foi precedida por três anos de testes de produção na Terra e no espaço. Assim, em março de 2020, 250 provetas com células-tronco estiveram a bordo da EEI durante um mês. Durante esse período em condições de microgravidade, as células-tronco adultas se transformaram em estruturas diferenciadas semelhantes a órgãos, tais como fígado, ossos e cartilagens. Ao contrário, as amostras de controle cultivadas na Terra, em condições de gravidade normal, mostraram uma diferenciação das células mínima ou zero.
"Nós comprovamos que a criação de tecidos humanos no espaço é possível não apenas em teoria, mas também na prática", disse mais um participante do projeto, o professor de anatomia Oliver Ullrich.
Nesta missão, à órbita serão enviadas células-tronco dos tecidos de duas mulheres e dois homens de idades diferentes. Os pesquisadores vão verificar quão seguro e confiável é seu método na utilização de células com diferentes variações biológicas.
Os autores sugerem que no futuro a Estação Espacial Internacional vai funcionar como oficina de fabricação de miniaturas de tecidos humanos para sua utilização em nosso planeta para fins científicos e médicos.
"Tendo em vista a futura comercialização, devemos entender por quanto tempo e com que qualidade nós podemos manter os organoides após seu regresso à Terra", disse Oliver Ullrich.
A amostra do biomaterial voltará para Terra no início de outubro. Os primeiros resultados devem ser relatados em novembro.