John Bolton, ex-funcionário sênior dos EUA, exortou Washington a assumir uma linha dura contra o Paquistão após o colapso do governo do Afeganistão apoiado pelos EUA.
Ele atacou na segunda-feira (23) Paquistão no jornal Washington Post por seu suposto apoio ao Talibã (organização terrorista proibida na Rússia em vários outros países), recomendando sanções, e sugeriu que ataques militares contra as armas nucleares do país poderiam estar em ordem se certas condições fossem cumpridas.
"Com a queda de Cabul, o tempo de negligência ou equívoco acabou. A tomada do poder pelo Talibã na porta ao lado representa imediatamente um risco muito maior de que os extremistas paquistaneses aumentem sua já considerável influência em Islamabad, ameaçando em algum momento tomar o controle total", escreveu Bolton em um artigo de opinião.
Sugerindo que o exército do Paquistão e os serviços de segurança, e não a administração civil, eram as verdadeiras forças no comando do país hoje, Bolton argumentou que os Inter-Serviços de Inteligência (ISI, na sigla em inglês) paquistaneses "têm sido por muito tempo um foco de radicalismo", e que este radicalismo tem "se espalhado por todo o exército, para postos cada vez mais altos".
Segundo Bolton, os ISI oferece santuário, armas e apoio logístico ao Talibã dentro do Paquistão, e sugeriu que o grupo militante afegão pode agora "devolver o favor do santuário ao Talibã paquistanês" depois de tomar Cabul no início deste mês.
O ex-alto responsável norte-americano também confrontou as até 150 armas nucleares à disposição de Islamabad, que elevam "as tensões na região a níveis sem precedentes". Por causa de tudo isso, diz, os EUA e a OTAN deviam ter uma presença permanente no Afeganistão, cortar a ajuda e relações com Paquistão, e acelerar sua "inclinação em direção à Índia".
Declarações posteriores
Como parte de uma entrevista em podcast realizada na sexta-feira (27), John Bolton clarificou que a "ação preventiva" que referiu significava realizar ataques militares contra as armas nucleares do Paquistão de forma a evitar que terroristas tomem controle delas e as utilizem pelo mundo afora.
O republicano acusou Islamabad de praticar uma "abordagem de duas caras" com os EUA, fornecendo ao Talibã dinheiro, armas e conselhos militares, enquanto "sorri" na cara das autoridades norte-americanas "e diz que não estão fazendo nada disso".
Bolton foi assessor de segurança nacional sob a presidência de Donald Trump (2017-2021) entre 9 de abril de 2018 e 10 de setembro de 2019, e deixou seu posto após o chefe do Executivo dos EUA recusar seguir seu conselho de iniciar guerras com o Irã e a Coreia do Norte.