Durante videoconferência na quarta-feira (25), o secretário de Defesa Lloyd Austin instruiu mais de uma dúzia de líderes de topo do departamento em todo o mundo para se prepararem para um iminente "evento com vítimas em massa", de acordo com notas detalhadas classificadas da reunião obtidas pelo portal Politico.
No encontro, o general Mark Milley, presidente do Estado-Maior Conjunto, advertiu para dados de inteligência "significativos" indicando que o Estado Islâmico-Khorasan (EI-K), um ramo do Daesh (organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países) que atua no Afeganistão e Paquistão, planejava "um ataque complexo", citam as notas suas palavras.
Os comandantes de Cabul transmitiram que o portão Abbey, onde os cidadãos americanos foram instruídos a se reunirem para entrar no aeroporto, era "o mais alto risco" e detalharam seus planos de proteção do aeroporto.
Durante outra ligação na quinta-feira (26) a Cabul, os comandantes detalharam um plano para fechar o portão Abbey durante a tarde, no horário de Cabul. Mas os americanos decidiram deixar o portão aberto por mais tempo do que queriam a fim de permitir que seus aliados britânicos continuassem evacuando seu pessoal, baseado no Hotel Baron próximo do portão.
As tropas americanas estavam ainda processando entradas para o aeroporto através do portão Abbey por volta das 18h00 em Cabul (11h30, horário de Brasília), quando um homem-bomba detonou o colete explosivo no local, matando cerca de 200 pessoas, inclusive 13 militares norte-americanos.
Na semana anterior ao ataque, o presidente Joe Biden e altos funcionários da administração falaram repetidamente em público sobre a ameaça geral que o Daesh apresentava ao aeroporto. Biden citou mesmo a ameaça como uma razão para não se estender o prazo da missão americana além de 31 de agosto.
A inteligência sobre a ameaça de segurança no aeroporto de Cabul detalhada nas chamadas foi retransmitida para cima e para baixo pela linha de comando, de acordo com um funcionário de defesa que falou sob anonimato. A Casa Branca levou a sério as ameaças e apoiou os comandantes a tomarem medidas que considerassem adequadas, acrescentou ele: "Não houve microgestão de Washington do esforço para tentar evitar este [ataque]".
Medidas para prevenir um ataque iminente incluíram o fechamento permanente de dois portões do aeroporto, a notificação dos postos do Talibã (organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países) da ameaça potencial, a limitação de tráfico de pessoas e veículos através de uma série de portões e a emissão de alertas aos cidadãos americanos, advertindo-os de ameaças específicas em locais específicos, esclareceu o funcionário.
"As forças dos EUA no HKIA [Aeroporto Internacional de Hamid Karzai] estavam cientes e considerando uma variedade de ameaças e exerceram vigilância extrema", disse ele. "Tomamos numerosas ações para proteger nossas forças e os evacuados, mas nenhuma quantidade de esforço eliminará completamente a ameaça de um inimigo determinado", concluiu.