Macron crê que Europa tem de ter 'capacidade de nos defender' sem os EUA
17:34 29.09.2021 (atualizado: 07:59 21.11.2021)
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O presidente da França realizou na terça-feira (28) uma coletiva de imprensa com o primeiro-ministro da Grécia, que fortaleceu os laços defensivos entre Paris e Atenas.
Os líderes europeus devem "sair de sua ingenuidade" e defender sua independência dos EUA, afirmou na terça-feira (28) Emmanuel Macron, presidente da França, durante uma coletiva de imprensa com Kyriakos Mitsotakis, primeiro-ministro da Grécia.
"Já durante pouco mais de dez anos, os EUA estão muito concentrados em si mesmos, e têm interesses estratégicos que estão sendo reorientados para a China e o Pacífico", observou o presidente francês.
Reconhecendo que Washington tem o "direito de fazê-lo", ele apontou que "seríamos ingênuos, ou melhor, cometeríamos um erro terrível, de não querer tirar as consequências".
"Quando estamos sob pressão, mostrando que também temos poder e capacidade de nos defender, é simplesmente nos fazermos ser respeitados", afirmou Macron.
Na terça-feira (28), Macron e Mitsotakis assinaram um contrato de fornecimento de três fragatas francesas Belharra para Atenas. A construção das fragatas deve ser confiada à empresa francesa de construção naval Naval Group, que recentemente perdeu um contrato de venda de submarinos para a Austrália no valor de cerca de US$ 66 bilhões (aproximadamente R$ 352 bilhões).
A declaração de terça-feira (28) foi considerada uma resposta ao recente pacto AUKUS, que levou a Austrália a abandonar um acordo de submarinos multimilionário com a França. Macron disse que o acordo com Atenas ressalta "a confiança, e também demonstra a qualidade oferecida pela França".
O líder francês também anunciou que o embaixador da França, anteriormente chamado dos EUA devido ao escândalo sobre o término do contrato de submarino, voltaria a Washington nesta quarta-feira (29).
Estrutura paralela à OTAN?
As observações críticas dos chefes de Estado europeus em relação a Washington têm se tornado cada vez mais comuns, e são vistas por muitos como um sinal de que os EUA e a Europa estão se distanciando.
© REUTERS / Pascal RossignolEmmanuel Macron, presidente da França, dá as boas-vindas a Scott Morrison, primeiro-ministro da Austrália, em frente ao Palácio de Élysée em Paris, França, 15 de junho de 2021
Emmanuel Macron, presidente da França, dá as boas-vindas a Scott Morrison, primeiro-ministro da Austrália, em frente ao Palácio de Élysée em Paris, França, 15 de junho de 2021
© REUTERS / Pascal Rossignol
Macron, em particular, tem proposto repetidamente a criação de forças europeias para uma resposta de emergência a situações de crise. Esta visão é compartilhada por muitos líderes europeus, incluindo a ex-chanceler alemã Angela Merkel. A OTAN, que foi descrita em 2019 por Macron como tendo sofrido "morte cerebral", precisa de uma estrutura paralela devido à incerteza do compromisso dos EUA com a aliança, segundo ele.
Além da partida dos EUA do Afeganistão, as relações euro-atlânticas também foram recentemente desafiadas pelo controverso pacto de segurança AUKUS, entre os EUA, Reino Unido e a Austrália, que resultou de um cancelamento do contrato de fornecimento de submarinos por Paris a Camberra, o que, por sua vez, levou à convocação temporária dos embaixadores norte-americanos e australianos para a França.
No entanto, a França assumirá no primeiro semestre de 2022 a presidência do Conselho da UE, e espera-se que a segurança se torne uma prioridade importante para Paris. Uma cúpula conjunta de defesa está prevista para 2022 com Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, que deverá contribuir para a criação de uma força de reação rápida europeia de 5.000 efetivos.