Facebook soube durante anos que seus anúncios promoviam tráfico humano, revelam documentos
18:51 25.10.2021 (atualizado: 12:47 21.11.2021)
© AFP 2023 / DANIEL LEAL-OLIVASFrances Haugen, que trabalhou na equipe dedicada à integridade cívica no Facebook, em Londres. Foto de arquivo
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Recentemente ex-funcionária da empresa compartilhou milhares de documentos internos que revelaram que a empresa teria ignorado discurso de ódio e desinformação em um esforço para maximizar o lucro.
Documentos internos do Facebook, obtidos pela emissora CNN, mostram que a empresa sabia há anos que seus produtos apresentavam conteúdo de tráfico humano. De acordo com a mídia, a empresa norte-americana tinha conhecimento de que traficantes de pessoas vinham criando grupos, perfis e até comprando anúncios na plataforma desde pelo menos 2018.
A situação teria chegado ao ponto de, em 2019, a Apple ter ameaçado retirar o acesso do Facebook e do Instagram à AppStore, a plataforma da Apple para instalar aplicativos.
Os documentos foram divulgados por Frances Haugen, que deixou o Facebook em maio e enviou os dados que tinha coletado ao Congresso norte-americano e diversos meios de comunicação.
Mark Zuckerberg sublinhou que o Facebook se preocupa com a saúde mental, o bem-estar dos adolescentes e o impacto das redes sociais, negando as recentes acusaçõeshttps://t.co/q2FVESBPz5
— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) October 6, 2021
Facebook demorou a agir
Em 2018, funcionários designados para os departamentos do Oriente Médio e Norte da África sinalizaram perfis no Instagram que "ofereciam" aos usuários trabalhadores domésticos. No entanto, os documentos revelados agora mostram que esses perfis não foram considerados infratores.
© AP Photo / Susan WalshFundador do Facebook, Mark Zuckerberg, presta esclarecimentos à Comissão de Finanças do Congresso dos EUA sobre o projeto de sua moeda digital, em outubro de 2019
Fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, presta esclarecimentos à Comissão de Finanças do Congresso dos EUA sobre o projeto de sua moeda digital, em outubro de 2019
© AP Photo / Susan Walsh
Apenas em maio de 2019 a empresa lançou o programa "Política de Exploração Humana", que visa evitar que conteúdos de servidão doméstica apareçam em suas plataformas. Meses depois, quando a Apple fez a ameaça citada anteriormente, o Facebook excluiu 130 mil peças de conteúdo de servidão doméstica em árabe de suas plataformas em uma semana para evitar a suspensão na AppStore, relata o documento interno.
Ainda em 2019, um funcionário publicou no site interno da empresa um resumo de uma investigação que revelou que traficantes de pessoas pagaram US$ 152 mil (aproximadamente R$ 844 mil) para comprar anúncios no Facebook e Instagram, incluindo anúncios direcionados a homens em Dubai.
#Sputnikexplica as razões pelas quais o Facebook adiou o lançamento de novo aplicativo para crianças e toca na existente discussão sobre regulação das redes sociais, particularmente a respeito de usuários de idade menor https://t.co/WQEtp8Ed3E
— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) September 29, 2021
No entanto, de acordo com a CNN, o problema persistiu e o assunto foi mencionado em relatórios internos em 2020 e 2021, com a empresa dizendo que mulheres vítimas de traficantes foram submetidas a abusos físicos e sexuais, privadas de alimentação e pagamento, e tiveram seus passaportes confiscados a fim de impedi-las de escapar.
O porta-voz do Facebook, Andy Stone, afirmou que a empresa combate o tráfico de pessoas em seus produtos há muitos anos e que seu objetivo "continua sendo impedir que qualquer pessoa que queira explorar outras pessoas tenha um lar em nossa plataforma".