Agentes dos EUA de volta no México: combate a drogas ou interferência na política interna?
16:28 04.11.2021 (atualizado: 12:30 12.11.2021)
© AP Photo / Christian TorresManifestantes exibem um Tio Sam 'diabólico' na fronteira com os EUA, Juarez, México
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Embora os governos do México e dos EUA afirmam ter adotado uma "nova abordagem" em suas relações desde o fim da "Iniciativa Mérida" - acordo de cooperação para a segurança entre os dois países - Washington parece ainda não ter abandonado sua política de interferência nos assuntos de seu vizinho do sul.
A administração democrata de Joe Biden insiste que elementos da Agência Antidrogas dos EUA (DEA, na sigla em inglês) deveriam estar envolvidos na política de segurança do Exército norte-americano. De igual modo, esse órgão também vem insistindo em garantias para operações no México.
Contudo, a Casa Branca teve uma surpresa desagradável nesse campo, uma vez que durante meses, o governo de Andrés Manuel López Obrador, atual presidente do México, se recusou a conceder vistos a cerca de 20 agentes da DEA.
Esta questão foi abordada durante o Diálogo de Alto Nível sobre Segurança, na Cidade do México, no início de outubro deste ano, mas nenhum dos atores conseguiu chegar a um acordo.
Detenção ou dissuasão?
O posicionamento de agentes norte-americanos no México contrasta com a "nova abordagem" que ambos os governos enfatizaram quando assinaram o "Acordo Bicentenário". Nesse acordo, está estipulado que a relação bilateral de segurança entre os dois Estados não se concentraria mais na captura de líderes de cartéis de drogas, mas antes na abordagem das "causas fundamentais" da insegurança e da violência.
Neste contexto, Washington busca consolidar sua presença territorial no México, com o objetivo de "combater a produção, o transporte e o consumo de substâncias ilícitas". Assim, o papel dos agentes da DEA é realizar atividades de investigação, tais como a coleta de informações para rastrear os líderes de grupos criminosos transnacionais e do crime organizado.
© AP Photo / Marco UgarteMembros do Exército do México patrulhando periferia do estado mexicano de Zacatecas, uma área estratégica para os cartéis de droga
Membros do Exército do México patrulhando periferia do estado mexicano de Zacatecas, uma área estratégica para os cartéis de droga
© AP Photo / Marco Ugarte
Por sua vez, o presidente mexicano prioriza a implementação de programas sociais para dissuadir as pessoas de se envolverem em atividades ilegais, o que explica a resistência de seu governo em autorizar mais vistos para os agentes norte-americanos mencionados.
As relações entre o México e os EUA se intensificaram como resultado das atividades realizadas por essa agência durante a administração do ex-presidente republicano Donald Trump.
Nova reforma - vai funcionar?
Em dezembro de 2020, o Congresso do México aprovou uma reforma para reforçar a regulamentação do funcionamento e da presença de agentes estrangeiros em território nacional. Evidentemente, essa reforma foi dedicada especialmente a elementos de agências norte-americanas.
A reforma da Lei de Segurança Nacional põe, desse jeito, fim à imunidade dos agentes estrangeiros e exige que eles reportem suas ações e os resultados de suas investigações.
© AP Photo / Jacquelyn MartinVice-presidente dos EUA, Kamala Harris, e o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, chegando para uma reunião bilateral ao Palácio Nacional na cidade do México, 8 de junho de 2021
Vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, e o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, chegando para uma reunião bilateral ao Palácio Nacional na cidade do México, 8 de junho de 2021
© AP Photo / Jacquelyn Martin
Contudo, é importante sublinhar que apesar de o governo mexicano ter recusado conceder mais vistos a agentes estrangeiros, isso não significa que não existam agentes da DEA atualmente destacados no país.
As informações sobre o número de agentes da DEA que operam no México são classificadas, sendo que divulgar informações sobre esses agentes prejudicaria ainda mais as relações com os EUA.