Cientistas renunciam a prêmio após Bolsonaro retirar pesquisador contrário à cloroquina
16:15 06.11.2021 (atualizado: 13:26 21.11.2021)
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Um grupo de 21 cientistas renunciou em carta aberta à Ordem Nacional do Mérito Científico atribuída por Jair Bolsonaro, que removeu a medalha a um especialista que se opôs ao medicamento.
Cientistas condecorados por Jair Bolsonaro, presidente do Brasil, renunciaram à Ordem Nacional do Mérito Científico, depois que um deles foi retirado da lista por criticar o uso da cloroquina para tratamento contra a COVID-19, relata no sábado (6) o G1.
"Enquanto cientistas, não compactuamos com a forma pela qual o negacionismo em geral, as perseguições a colegas cientistas e os recentes cortes nos orçamentos federais para a ciência e tecnologia têm sido utilizados como ferramentas para fazer retroceder os importantes progressos alcançados pela comunidade cientifica brasileira nas últimas décadas", afirmou a carta publicada pelos cientistas no sábado (6).
O cientista revogado foi Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda, da Fiocruz, e Adele Benzaken, atual diretora da Fiocruz Amazônia, também foi excluída da condecoração. Os pesquisadores consideraram mesmo assim "gratificante" estarem presentes na lista.
© AFP 2023 / Douglas MagnoManifestante disfarçado de morte segura garrafa de cloroquina durante ato contra o presidente Jair Bolsonaro na Praça da Liberdade, Belo Horizonte, Brasil, 29 de maio de 2021
Manifestante disfarçado de morte segura garrafa de cloroquina durante ato contra o presidente Jair Bolsonaro na Praça da Liberdade, Belo Horizonte, Brasil, 29 de maio de 2021
© AFP 2023 / Douglas Magno
Cesar Victora, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), um dos cientistas mais influentes do mundo, e que já renunciou à medalha na sexta-feira (5), comentou em entrevista ao G1 que a "honraria era uma das coisas mais altas que um cientista pode almejar em termos de distinção", mas que "aceitar esta homenagem deste governo seria compactuar com o negacionismo, com a maneira como a pandemia tem sido enfrentada e com os cortes no orçamento científico do Brasil".
"Entretanto, a homenagem oferecida por um Governo Federal que não apenas ignora a ciência, mas ativamente boicota as recomendações da epidemiologia e da saúde coletiva, não é condizente com nossas trajetórias científicas", defendem os 21 cientistas na carta.
O uso da cloroquina e hidroxicloroquina, promovidas pelo atual presidente brasileiro durante a pandemia da COVID-19, não tem sido apoiado por estudos científicos, que apontam sua falta de eficácia no combate ao coronavírus. Especialistas epidemiológicos também têm criticado seu uso pela administração de Jair Bolsonaro.