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O que esperar da agenda internacional de Bolsonaro e Lula nas eleições de 2022?

© AP Photo / Domenico StinellisPresidente do Brasil, Jair Bolsonaro, chega à cúpula do G20 em Roma, Itália, 30 de outubro de 2021
Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, chega à cúpula do G20 em Roma, Itália, 30 de outubro de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 15.11.2021
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Em entrevista à Sputnik Brasil, Arnaldo Cardoso, cientista político formado pela PUC-SP e analista de Política Internacional, falou sobre a influência da política externa nos pleitos eleitorais, bem como seu impacto na população brasileira.
Recentemente, o ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, reuniu-se com o futuro chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, em Berlim, por mais de uma hora, para discutir a situação da Amazônia, como conciliar o desenvolvimento econômico, cooperação internacional e preservação ambiental.
Vale ressaltar que Scholz foi ignorado por Jair Bolsonaro quando, no G20, o presidente brasileiro participou de uma conversa informal com outros líderes.
Falando sobre o impacto da política externa na vida da população, Arnaldo Cardoso explicou que a política externa é um instrumento através do qual são traduzidas necessidades internas em possibilidades externas, visando ampliar o poder de controle de uma sociedade sobre seu destino.
"No atual estágio de interdependência econômica em que o mundo se encontra, marcado por fortes assimetrias, uma política externa bem concebida pode ser um instrumento importante de defesa no ambiente doméstico", explicou.
O especialista ressalta que a cada dia se torna mais evidente que a política externa de um país, através de seus acertos ou erros, afeta a vida de seus cidadãos.

Política de Estado e política de governo

Ao ser questionado se a política externa no Brasil é uma política marcada pela continuidade, Arnaldo Cardoso destacou que a política externa deve ser orientada pela busca de satisfação nacional, e sua condução deve se dar com vistas ao longo prazo e, portanto, tem esse caráter de continuidade.
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Contudo, ele observa que é natural que a cada governo esse interesse nacional seja atualizado, inclusive em função das mudanças no contexto internacional.
"Ser política de Estado não deve conflitar com o fato de que a cada mudança de governo – evento próprio das democracias – sejam empreendidos ajustes, adequações às mudanças do cenário internacional e do próprio interesse nacional, que não é estático", declarou.
Portanto, a sabedoria e honestidade de um governo está na capacidade de identificar o que precisa ser mantido e o que deve ser reformulado.

Governo Bolsonaro e política externa brasileira

Falando sobre o governo Bolsonaro e as possíveis rupturas da política externa brasileira, Arnaldo Cardoso afirmou que o atual governo "nunca teve uma política externa, ou algo que mereça esse nome".
"Táticas desconexas não constituem uma política. As práticas desse governo romperam com toda a tradição acumulada da diplomacia brasileira. Desprezou a história e desfigurou a imagem internacional do país. Desrespeitou tratados e acordos internacionais. Quebrou protocolos e produziu vexames internacionais", enfatizou.
O especialista ainda destacou que o governo colocou o país em uma condição de pária, por não saber o que é o Estado, aviltando suas instituições, e por não compreender o que é o sistema internacional e seu funcionamento, "agindo como delinquentes".
Comentando se, após a saída de Ernesto Araújo, a política externa brasileira havia retomado alguns de seus parâmetros tradicionais, Arnaldo Cardoso disse não acreditar que isso tenha ocorrido.
"Não acredito que tenha retomado parâmetros, pois, como já apontei, a prática do atual governo não respeita instituições, tradições e legados. Agem por voluntarismo, de modo precário e irresponsável, fora das estruturas formais", explicou.
Além disso, ele afirmou que "enquanto o chefe for o mesmo não haverá mudanças significativas. A saída de Araújo só aconteceu pelo caráter delirante de suas ações ter atingido as raias do absurdo".

Influência da política externa nos pleitos eleitorais no Brasil

Explicando se a política externa influencia os pleitos eleitorais no Brasil, o especialista apontou que a política externa sempre mereceu um lugar secundário no debate nacional no Brasil e, por conseguinte, não aparece nas campanhas eleitorais, contudo, há sinais de que isso está mudando.
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Segundo o especialista, com o avanço das tecnologias de informação e comunicação, grandes contingentes de cidadãos pelo mundo afora passaram a ter acesso a um volume extraordinário de informações em tempo real sobre acontecimentos internacionais, antes restritos a um público de especialistas.
"Mas sabemos bem que acesso à informação não é sinônimo de conhecimento. É preciso educação política. É preciso que cada cidadão se perceba no mundo. Entenda as condicionantes do tempo e do território. É necessário compreender a realidade histórica e as relações de poder que nos forjaram, para assim compreendermos nossos desafios e responsabilidades", completou.

Política externa terá espaço nas eleições presidenciais de 2022?

A pandemia da COVID-19 foi um evento traumático que pôs em evidência o nosso pertencimento ao mundo como unidade.
"Ainda que com intensidades variadas, sofremos os acontecimentos globais, e táticas mesquinhas e particularistas não serão eficientes para o enfrentamento dos sérios problemas globais". Indicou Arnaldo Cardoso.
"Portanto, o relacionamento internacional é imperativo e deve ser tratado com responsabilidade. O desastre da conduta internacional do governo Bolsonaro certamente será explorado na campanha eleitoral e isso poderá ter um efeito didático para que todos compreendam a importância de uma política externa", explicou.
O especialista também lembrou que temas como mudanças climáticas, Amazônia, energias renováveis, desigualdade social, acordos comerciais regionais, reforma de organismos internacionais e segurança sanitária são temas que se encontram no topo da agenda global.

O que esperar das propostas de política externa de Lula?

Falando sobre os programas dos candidatos na área da política externa, Arnaldo Cardoso afirmou que, tanto com interlocutores no partido quanto com externos, Lula tem repetido que quer fazer "mais e melhor".
"Ele tem dito também que um partido como o PT, que já completou seus 40 anos e se fundou em lutas sociais, não pode se mover apenas pelo interesse eleitoral de ocupar o poder, tem de ter projeto para melhorar o país", disse.
Arnaldo Cardoso também explicou que a direção do PT tem realizado conferências internas com sua militância no Brasil e no exterior, resgatando o trabalho de base. Há uma disposição para uma renovação de ação educativa formativa, orientada por valores democráticos, participativos e inclusivos.
"Em lugar da política de ódio do atual governo, uma política de solidariedade e empatia. Isso deve ser espelhado na campanha", destacou.
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É sabido que a política externa do governo Lula, sob a condução do ministro Celso Amorim, teve mais acertos do que erros e, portanto, é de se esperar que siga as mesmas diretrizes, com ajustes pontuais e de conjuntura, segundo ele.
De acordo com o especialista, as principais pautas que deverão compor a agenda de política externa de um novo governo Lula são: reafirmação da confiança no multilateralismo e defesa de reformas em organizações internacionais, revitalização do Mercosul, implementação do acordo comercial com a União Europeia, reaproximação com a Argentina, avanços na aliança com o BRICS, afirmação da solidariedade latino-americana, negociações ambientais e de proteção da Amazônia e segurança de dados.

Agenda internacional de Bolsonaro pode mudar?

"Como o governo Bolsonaro não teve uma política externa, não é de se esperar algo diferente do que já se viu", afirmou.
Arnaldo Cardoso destacou que a única forçosa mudança é que, sem Trump, o alinhamento submisso ao governo norte-americano perdeu sentido. Biden não tem interesse por essa vassalagem.

O que esperar das propostas de política externa de Sergio Moro e Ciro?

Conforme Arnaldo Cardoso, não há muito que esperar, com relação a projetos nacionais e política externa concatenada, de uma candidatura de Sergio Moro.
"Seu desempenho como ministro da Justiça no governo Bolsonaro foi avaliado por seus pares do Direito como medíocre. Ele nunca expressou nenhuma ideia de país, sua ação se resumiu a uma cruzada justiceira e punitivista, sem compromisso com a estabilidade política ou econômica. Por seus métodos reprováveis utilizados em sua ação investigativa, o ex-juiz deu mostras de sua subserviência a interesses norte-americanos pouco republicanos", afirmou.
Já quanto a Ciro, o especialista diz ser um político experiente e com boa formação intelectual e visão de mundo.
"Sabe-se que tem simpatia pelo neodesenvolvimentismo e é um crítico do sistema financeiro nacional e internacional. É plausível inferir que isso se refletirá numa política externa. Veremos numa eventual campanha", explicou.

Qual política externa o Brasil precisa pós-2022?

A política externa brasileira sempre teve como desafio uma inserção internacional do país com autonomia, ressalta o especialista.
Além disso, ele observa que, em um sistema internacional marcado pela assimetria de poder, ao Brasil está posto o desafio de compensar sua falta de hard power com seus recursos de soft e smart power.
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De acordo com Arnaldo Cardoso, a urgência climática global pode se revelar um contexto propício para um aprofundamento de compromissos ambientais brasileiros com contrapartidas dos países ricos para projetos de desenvolvimento sustentável com transferências de tecnologias e financiamentos.
"O mundo está carente de lideranças políticas com propósitos legítimos. Há uma juventude global cansada do blá-blá-blá de políticos tradicionais e de uma realidade que só se agrava roubando-lhes o futuro", enfatiza.
Para concluir, Arnaldo Cardoso diz que "a arena internacional não deve ser ignorada por nenhum governo. Uma política externa orientada pela busca do interesse nacional e ao mesmo tempo responsiva em relação ao futuro das novas gerações no mundo é um caminho que o Brasil pode trilhar, com ganhos para o país e para o mundo".
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