Advogados de Hussein revelam interferência de EUA no julgamento do ex-presidente executado do Iraque
© AP Photo / CHRIS HONDROS Quando sentença de morte foi dada ao ex-presidente do Iraque, Saddam Hussein
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Os defensores no tribunal do executado presidente iraquiano Saddam Hussein disseram à Sputnik que os assessores americanos tiveram uma participação ativa do julgamento, instruindo os juízes sobre as decisões e pressionando os advogados.
Um dos advogados de Hussein, Muhammad Munib, contou à Sputnik:
"Sim, acho que havia assessores americanos em uma sala ao lado do juiz e havia uma porta entre eles. Acredito que muitas coisas não foram divulgadas. No sentido de que o juiz recebeu instruções desses assessores. Eles lhe disseram o que buscar e o que reconsiderar. Parecia que ele recebia ordens, já que às vezes ele voltava e retirava decisões anteriores. Houve assessores que tentaram atrair-nos a nos juntarmos a eles [...] Mas nós recusamos".
No início do julgamento, os advogados de defesa não estavam cientes do envolvimento direto dos EUA, até que um advogado americano os avisou, querendo ajudar, notou Munib. Quando os fatos foram revelados, a defesa tentou levantar a questão no tribunal, mas o outro lado negou tudo, segundo ele.
Outra advogada de defesa, Bushra Khalil, contou que ela tinha sido exposta pessoalmente a pressão intensa por parte do lado americano.
"Francamente, estava com medo que eles me matassem, já que alguns advogados foram mortos, com Khamis Obeidi sendo o último. Por várias vezes o juiz me tirou da sala. A última vez quando isso aconteceu, um americano se aproximou de mim e perguntou se eu queria voltar a entrar, e nós conversamos das 18h00 às 23h00, e no final ele me perguntou novamente se eu queria voltar ao tribunal e eu disse que sim. Então ele me disse que eu deveria ficar calada, como os meus amigos. Isso sugere que eles fizeram tudo para manter o julgamento encenado", revelou.
© EPAManifestantes com retrado de Saddam Hussein
Manifestantes com retrado de Saddam Hussein
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A forma como o julgamento foi realizado violava os princípios básicos do direito internacional, e todos entendiam qual seria o resultado desde o início, inclusive o próprio Hussein, afirmou Munib. O réu foi impedido de falar, a ele não foi sequer concedido o direito às palavras finais, e o julgamento ocorreu no Iraque para que a corte pudesse aplicar legalmente a pena de morte, explicou o advogado.
"Não há dúvida de que este não foi um julgamento no sentido literal e acadêmico. Todos os fundamentos da justiça estavam definitivamente ausentes", disse Munib.
O juiz principal no julgamento de Saddam, Rizgar Mohammed Amin, que teve que renunciar devido à interferência do governo, confirmou à Sputnik que os Estados Unidos supervisionaram o julgamento, embora constatando que foi o lado iraquiano que exerceu a maior pressão sobre quem participava do processo.
Saddam Hussein conseguiu evitar a captura durante seis meses depois que os EUA invadiram o Iraque sob pretexto de procurar armas de destruição em massa em 2003. Em dezembro do mesmo ano, ele foi finalmente detido perto de sua cidade natal de Tikrit.
A primeira audiência do tribunal especial ocorreu em julho de 2004. O tribunal considerou Saddam Hussein culpado de crimes contra a humanidade e condenou-o à morte por enforcamento em 5 de novembro de 2006. No dia 30 de dezembro Hussein foi executado.