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Racismo no Brasil persiste e presença negra na política precisa aumentar, dizem especialistas

© Folhapress / Roberto Casimiro / FotoarenaEm São Paulo, manifestante negra participa da marcha do Dia Internacional das Mulheres, em 8 de março de 2022.
Em São Paulo, manifestante negra participa da marcha do Dia Internacional das Mulheres, em 8 de março de 2022. - Sputnik Brasil, 1920, 21.03.2022
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Nesta segunda-feira (21) é comemorado o Dia Internacional contra a Discriminação Racial. A Sputnik Brasil ouviu duas especialistas para discutir os impactos do racismo na vida social brasileira e a importância do tema para as próximas eleições.
Criado pela Organização das Nações Unidas (ONU), o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial é celebrado desde 2010. A data faz referência ao Massacre de Sharpeville, incidente ocorrido em 21 de março de 1960, quando 69 pessoas foram assassinadas pela polícia do Apartheid em Joanesburgo, na África do Sul, enquanto protestavam contra as políticas de segregação racial no país.
Quase 30 anos após o fim do regime sul-africano, o racismo persiste em diversas sociedades ao redor do mundo. Em 2020, depois do homicídio de George Floyd pela polícia nos Estados Unidos, protestos antirracistas liderados pelo movimento Black Lives Matter se espalharam por vários países, incluindo o Brasil, o que gerou ampla comoção perante o tema.
© REUTERS / David DelgadoEm Nova York, EUA, em 8 de março de 2021, manifestantes participam de protesto por justiça para George Floyd, que morreu às mãos de policial em 25 de maio de 2020.
Manifestantes participam de protesto por justiça para George Floyd, que morreu às mãos de policial em 25 de maio de 2020, em Nova York, EUA, 8 de março de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 21.03.2022
Em Nova York, EUA, em 8 de março de 2021, manifestantes participam de protesto por justiça para George Floyd, que morreu às mãos de policial em 25 de maio de 2020.
Em fevereiro, no Brasil, a Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu três homens acusados pelo assassinato do imigrante congolês Moïse Kabamgabe, espancado até a morte na Barra da Tijuca, bairro da Zona Oeste da cidade. O atentado contra o refugiado também gerou uma onda de manifestações antirracistas pelo país.
Apesar da disseminação dos protestos, a professora Dani Balbi, ativista antirracista e doutora em Ciência da Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ressalta que as mudanças são limitadas no caso do Brasil, onde o racismo persiste como herança do regime escravista.

"As mudanças são significativas, mas apresentar o enegrecimento da propaganda, do mundo corporativo, e até algumas medidas importantes, como o incentivo à participação de pessoas negras na política, tem que vir articulado a uma reforma de fundo", afirma Balbi à Sputnik Brasil.

A pesquisadora acredita que o racismo continua sendo um tema central na política internacional e aponta que as dificuldades que refugiados não brancos — como africanos, árabes e indianos — enfrentam para deixar a Ucrânia em meio ao conflito no país são exemplo dessa situação.

"Acho que isso a que a gente assistiu é a expressão máxima de um racismo que é resultado desse processo de colonização de populações que foram racializadas de forma pejorativa, no caso as populações africanas e asiáticas. Essa imagem, esse fato me acende uma preocupação porque meu medo é de que os conflitos políticos comecem a se resolver a partir de uma justificativa falaciosa que retoma a centralidade da supremacia racial", coloca a professora.

Presença negra no Congresso precisa aumentar

Já a técnica administrativa Ivanilda Oliveira Silva, membro da Comissão de Negritude do PSOL e da Resistência Feminista, reconhece a importância de movimentos como o Black Lives Matter, mas salienta que apesar desse tipo de protesto a situação no Brasil não mudou.

"É claro que isso impacta, sim, no Brasil, mas não muda nossa realidade. Não mudou em nada a nossa realidade. A prova é o número de negros e negras que continuam sendo assassinados", afirma Silva à Sputnik Brasil, ressaltando também o impacto da fome e do desemprego sobre a população negra.

A integrante da Comissão de Negritude do PSOL acredita que os graves problemas de desigualdade social no país devem manter a discussão do racismo na pauta eleitoral. Para ela, houve mudanças importantes já nas eleições de 2018 no Congresso Nacional, com mais congressistas negros em Brasília, e esse avanço deve continuar.
© Folhapress / Saulo Angelo/Futura PressManifestação contra o racismo e contra o presidente Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro em 7 de junho de 2020.
Manifestação contra o racismo e contra o presidente Jair Bolsonaro, no Rio de Janeiro, em 7 de junho de 2020. - Sputnik Brasil, 1920, 21.03.2022
Manifestação contra o racismo e contra o presidente Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro em 7 de junho de 2020.
Segundo números do site da Câmara dos Deputados, o contingente de deputados negros aumentou 5% em relação à eleição de 2014, formando uma bancada de 125 representantes de diversos partidos e visões políticas. A eleição de 2018 também levou a primeira mulher indígena à Casa, a deputada Joênia Wapichana (Rede-RR).
A atual legislatura da Câmara tem 75% de congressistas brancos — 410 deputados. Dados de 2019 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o Brasil tem 56,2% de negros e 42,7% de brancos na população.

"Essas mudanças são muito lentas e acontecem de forma muito gradual, mas tivemos [...]. Por exemplo, nas últimas eleições conseguimos colocar parlamentares negros e negras, LGBTQIA+, mulheres. [...] Isso significa uma mudança no Parlamento que não tínhamos até então, mas está muito longe de atender às nossas necessidades", aponta, acrescentando que há casos de pressão e ameaças contra deputados negros.

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