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Presidente da Câmara Brasil-Rússia rejeita crise e afirma: 'Vamos dobrar o comércio com Moscou'
Presidente da Câmara Brasil-Rússia rejeita crise e afirma: 'Vamos dobrar o comércio com Moscou'
Sputnik Brasil
Enquanto os EUA e a União Europeia erguem sanções para atingir Moscou, outra parte do mundo se organiza para lidar com os desafios de uma nova ordem... 30.03.2022, Sputnik Brasil
2022-03-30T17:01-0300
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Já dizia o ditado: "Para cada porta que se fecha, abre-se uma janela". Com a pressão norte-americana e europeia sobre a economia russa, o gigante euroasiático denunciou os "países considerados hostis" e passou a olhar com "mais atenção" para os emergentes, sobretudo na África, no Oriente Médio e na América Latina.Quem confirma esse movimento é o vice-chanceler russo, Sergei Ryabkov. Segundo ele, com a declarada guerra híbrida dos EUA e da União Europeia (UE) contra Moscou, o governo de Vladimir Putin "precisa buscar oportunidades em outras regiões". Citando nominalmente as nações do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), Ryabkov falou em uma nova ordem mundial.Para compreender como o governo brasileiro estará posicionado nesse momento de reorganização geopolítica, com importantes reflexos no futuro da economia global, a Sputnik Brasil conversou com Gilberto Ramos, presidente da Câmara Brasil-Rússia de Comércio.Ele fez uma previsão otimista sobre as relações bilaterais entre Moscou e o Itamaraty: "Vamos dobrar o comércio com a Rússia em 2023".Itamaraty, Moscou e as oportunidadesCom a operação militar especial russa na Ucrânia, alguns países ocidentais se apressaram para condenar o governo russo e aplicaram duras sanções contra a economia do país. Nas últimas três semanas, muitas empresas deixaram o país, principalmente após a expulsão de alguns bancos russos do SWIFT (Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais, na sigla em inglês) e de diversas entidades para pagamento.Desde o início desse movimento anti-Rússia liderado pelo governo de Joe Biden, o Itamaraty (e outros países, como a China) adotou uma postura contrária às sanções, denunciando o caráter abusivo das medidas e apontando os riscos de uma crise generalizada nas cadeias de abastecimento global.A posição do Brasil foi uma aposta. Em vez de se associar naturalmente às determinações dos EUA e colher a simpatia dos norte-americanos, o país escolheu seguir seu próprio caminho. Com isso, não chegou a ser incluído na lista de nações hostis do Kremlin e, agora, poderá obter bons acordos com Moscou.Gilberto Ramos explicou que o grande problema a ser resolvido neste momento por empresários brasileiros e russos é "a logística, pois é preciso fugir das sanções". Porém, segundo ele, essa é uma questão que "deve ser resolvida com o tempo", dado que já "existem algumas alternativas para os negócios", embora falte um pouco mais de estudo para determinar as melhores soluções.'Nem todo mundo está saindo da Rússia'O presidente da Câmara Brasil-Rússia de Comércio explicou à Sputnik Brasil que há uma narrativa, imposta pela imprensa ocidental, de terra arrasada em torno dos recentes acontecimentos envolvendo a economia da Rússia. Isso ocorre, na maioria das vezes, como forma de apoio ao governo norte-americano e suas pretensões, declaradas reiteradas vezes por Joe Biden, de "quebrar e isolar a Rússia".O Brasil também rejeita a ideia de deixar a Rússia e perder um importante parceiro no comércio de "proteína animal, frutas, soja, milho e outros produtos", disse. Segundo Ramos, a tendência é que projetos de investimento de Moscou no Brasil sejam ampliados.A parceria na área militar e de defesa também desperta o interesse do governo brasileiro. Em sua visita a Moscou em meados de fevereiro, o presidente brasileiro teria pedido ajuda a Vladimir Putin para desenvolver o projeto de submarino nuclear da Marinha, paralisado em função das sanções norte-americanas e da desconfiança de Washington, que se recusou a ajudar o Brasil.Comércio: 'Vamos dobrar os números'Para Gilberto Ramos, o atual cenário de negócios entre Moscou e Brasília é muito promissor. Ele entende que é possível aumentar em 100% o comércio entre os países. Em sua avaliação, há apenas um entrave que precisa ser amplamente discutido: a logística.Apesar da garantia russa de que não haverá suspensão no fornecimento, dificuldades colocadas pelas sanções econômicas impostas pelos EUA estão atravancando a exportação de fertilizantes russos para o Brasil. Qualquer comprador do Brasil que queira acessar produtos russos vai ter que construir a relação comercial do zero, para viabilizar as formas de compra e pagamento.O transporte dos fertilizantes dos portos russos para o Brasil também passa por um momento de indefinição. Como as cadeias de abastecimento estão interligadas em uma economia altamente globalizada, a disparada no preço do petróleo também é um problema, assim como o trajeto nos portos e os tempos de permanência no porto e de viagem.O Brasil importa da Rússia, por ano, mais de nove milhões de toneladas de insumos para fertilizantes — cerca de 25% de tudo o que compra no exterior. Embora o governo tenha tomado atitudes para garantir a manutenção do agronegócio, Gilberto Ramos entende que poucos países podem substituir a Rússia.Bolsonaro e PutinO governo brasileiro não faz segredo sobre suas preocupações com as sanções norte-americanas e da Europa contra a Rússia. Nas últimas semanas, o país denunciou na Organização das Nações Unidas (ONU) que o isolamento diplomático da Rússia, além de provocar fome e crise na cadeia de suprimentos, deflagra um importante momento na política internacional: o sequestro das organizações multilaterais pelas potências ocidentais.Desde o dia 24 de fevereiro, quando começou a operação militar especial da Rússia na Ucrânia, os EUA e a União Europeia mobilizaram entidades de colaboração internacional para punir o governo russo. O Brasil manifestou preocupação com esse fato, e em muitas votações de organismos voltados ao multilateralismo o Itamaraty se absteve.Um dos objetivos das Relações Exteriores do Brasil é manter intactos os mandatos das agências especializadas, assim como o trabalho do G20. A chancelaria brasileira acredita que o uso dos organismos internacionais para penalizar Moscou poderá enfraquecer a própria ONU e suas agências.O Brasil denuncia que, com ou sem a Rússia, a retirada do status desta de nação mais favorecida na Organização Mundial do Comércio (OMC) é por si só uma ferida ao princípio de não discriminação da organização. A interferência de temas geopolíticos na pauta comercial pode agravar a situação do sistema de comércio internacional.Ante todas essas declarações de apoio do governo brasileiro ao presidente Vladimir Putin (às quais se somam outras), Gilberto Ramos concluiu dizendo que "manifestações mais claras não serão dadas. Independentemente do BRICS, Brasil e Rússia são países complementares".
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brasil, américa latina, américas, g20, moscou, itamaraty, palácio do itamaraty, relações, ministério das relações exteriores da rússia, relações bilaterais, relações exteriores, relações econômicas, rússia, brics, sanções, sanções econômicas, guerra de sanções, exclusiva
Já dizia o ditado: "Para cada porta que se fecha, abre-se uma janela". Com a pressão norte-americana e europeia sobre a economia russa, o gigante euroasiático denunciou os "países considerados hostis" e passou a olhar com "mais atenção" para os emergentes, sobretudo na África, no Oriente Médio e na América Latina.
Quem confirma esse movimento é o
vice-chanceler russo, Sergei Ryabkov. Segundo ele, com a
declarada guerra híbrida dos EUA e da União Europeia (UE) contra Moscou, o governo de Vladimir Putin "precisa buscar oportunidades em outras regiões". Citando
nominalmente as nações do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), Ryabkov falou em
uma nova ordem mundial.
Para compreender como o governo brasileiro estará posicionado nesse momento de reorganização geopolítica, com importantes reflexos no futuro da economia global, a Sputnik Brasil conversou com Gilberto Ramos, presidente da Câmara Brasil-Rússia de Comércio.
Ele fez uma previsão otimista sobre as relações bilaterais entre Moscou e o Itamaraty: "Vamos dobrar o comércio com a Rússia em 2023".
Itamaraty, Moscou e as oportunidades
Com a operação militar especial russa na Ucrânia, alguns países ocidentais se apressaram para condenar o governo russo e aplicaram duras sanções contra a economia do país. Nas últimas três semanas, muitas empresas deixaram o país, principalmente após a expulsão de alguns bancos russos do SWIFT (Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais, na sigla em inglês) e de diversas entidades para pagamento.
Desde o início desse movimento anti-Rússia liderado pelo governo de Joe Biden, o Itamaraty (e outros países, como a China) adotou uma postura contrária às sanções, denunciando o caráter abusivo das medidas e apontando os riscos de uma crise generalizada nas cadeias de abastecimento global.
A posição do Brasil foi uma aposta. Em vez de se associar naturalmente às determinações dos EUA e colher a simpatia dos norte-americanos, o país escolheu seguir seu próprio caminho. Com isso, não chegou a ser incluído na lista de nações hostis do Kremlin e, agora, poderá obter bons acordos com Moscou.
Gilberto Ramos explicou que o grande problema a ser resolvido neste momento por empresários brasileiros e russos é "a logística,
pois é preciso fugir das sanções". Porém, segundo ele, essa é uma questão que "
deve ser resolvida com o tempo", dado que já "existem algumas alternativas para os negócios",
embora falte um pouco mais de estudo para determinar as melhores soluções.
"Há formas de contornar isso, como a criação de plataformas interbancárias entre Brasil e Rússia", explicou. Ele ainda minimizou os detalhes dessas operações, que "devem ser definidas por banqueiros e economistas", o que pode levar algum tempo em razão das burocracias a serem enfrentadas.
'Nem todo mundo está saindo da Rússia'
O presidente da Câmara Brasil-Rússia de Comércio explicou à Sputnik Brasil que há uma narrativa, imposta pela imprensa ocidental, de terra arrasada em torno dos recentes acontecimentos envolvendo a economia da Rússia. Isso ocorre, na maioria das vezes, como forma de apoio ao governo norte-americano e suas pretensões, declaradas reiteradas vezes por Joe Biden, de "quebrar e isolar a Rússia".
Mas, segundo ele, "nem todas as empresas da Europa estão deixando o país. As montadoras francesas, por exemplo, não vão sair da Rússia. Isso representaria bilhões de dólares de perda", comentou.
O Brasil também rejeita a ideia de deixar a Rússia e perder um importante parceiro no comércio de "proteína animal, frutas, soja, milho e outros produtos", disse. Segundo Ramos, a tendência é que projetos de investimento de Moscou no Brasil sejam ampliados.
"Há um ano o Brasil assinou um acordo importante com a Rússia na área de pescados. Três das principais empresas russas do setor estão pescando em águas brasileiras. Além disso, há investimentos de vários tipos, com crescimento, principalmente no mercado de fertilizantes.
A parceria na área militar e de defesa também desperta o interesse do governo brasileiro. Em sua visita a Moscou em meados de fevereiro, o presidente brasileiro teria pedido ajuda a Vladimir Putin para desenvolver o projeto de submarino nuclear da Marinha, paralisado em função das sanções norte-americanas e da desconfiança de Washington, que se recusou a ajudar o Brasil.
Comércio: 'Vamos dobrar os números'
Para Gilberto Ramos, o atual cenário de negócios entre Moscou e Brasília é muito promissor. Ele entende que é possível aumentar em 100% o comércio entre os países. Em sua avaliação, há apenas um entrave que precisa ser amplamente discutido: a logística.
"O Brasil exportou US$ 1,6 bilhão (R$ 7,63 bilhões) em 2021. Pensamos em dobrar esse número, com as atuais circunstâncias. Mas é preciso pensar nos canais de logística. Há uma preocupação grande com relação aos fertilizantes, e isso preocupa o setor do agronegócio", comentou.
Apesar da garantia russa de que não haverá suspensão no fornecimento, dificuldades colocadas pelas sanções econômicas impostas pelos EUA estão atravancando a exportação de fertilizantes russos para o Brasil. Qualquer comprador do Brasil que queira acessar produtos russos vai ter que construir a relação comercial do zero, para viabilizar as formas de compra e pagamento.
O transporte dos fertilizantes dos portos russos para o Brasil também passa por um momento de indefinição. Como as cadeias de abastecimento estão interligadas em uma economia altamente globalizada, a disparada no preço do petróleo também é um problema, assim como o trajeto nos portos e os tempos de permanência no porto e de viagem.
O Brasil importa da Rússia, por ano, mais de nove milhões de toneladas de insumos para fertilizantes — cerca de 25% de tudo o que compra no exterior. Embora o governo tenha tomado atitudes para garantir a manutenção do agronegócio, Gilberto Ramos entende que poucos países podem substituir a Rússia.
"O Canadá não vai suprir a produção russa. Os biofertilizantes são uma saída, com projetos dentro da Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária]. Mas não é uma solução imediata, pois é preciso investimento, pesquisas e testes", comentou.
O governo brasileiro não faz segredo sobre suas preocupações com as sanções norte-americanas e da Europa contra a Rússia. Nas últimas semanas, o país denunciou na Organização das Nações Unidas (ONU) que o isolamento diplomático da Rússia, além de provocar fome e crise na cadeia de suprimentos, deflagra um importante momento na política internacional: o sequestro das organizações multilaterais pelas potências ocidentais.
Desde o dia 24 de fevereiro, quando começou a operação militar especial da Rússia na Ucrânia, os EUA e a União Europeia mobilizaram entidades de colaboração internacional para punir o governo russo. O Brasil manifestou preocupação com esse fato, e em muitas votações de organismos voltados ao multilateralismo o Itamaraty se absteve.
Um dos objetivos das Relações Exteriores do Brasil é manter intactos os mandatos das agências especializadas,
assim como o trabalho do G20. A chancelaria brasileira acredita que o uso dos organismos internacionais para penalizar Moscou poderá enfraquecer a própria ONU e suas agências.
O Brasil denuncia que, com ou sem a Rússia, a retirada do status desta de nação mais favorecida na Organização Mundial do Comércio (OMC) é por si só uma ferida ao princípio de não discriminação da organização. A interferência de temas geopolíticos na pauta comercial pode agravar a situação do sistema de comércio internacional.
Ante todas essas declarações de apoio do governo brasileiro ao presidente Vladimir Putin (às quais se somam outras), Gilberto Ramos concluiu dizendo que "manifestações mais claras não serão dadas. Independentemente do BRICS, Brasil e Rússia são países complementares".