Mali acusa França de 'subversão' e violação de seu espaço aéreo para 'espionagem'
11:54 28.04.2022 (atualizado: 15:22 28.04.2022)
© AFP 2023 / Annie RisembergPresidente interino do Mali, coronel Assimi Goita.
© AFP 2023 / Annie Risemberg
Nos siga no
Autoridades do Mali acusaram o Exército francês de violar repetidamente o espaço aéreo do país para "espionar" suas forças.
Em mais um episódio da recente escalada de tensões em meio à intervenção francesa no Mali, o governo do país africano disse que mais de 50 violações de seu espaço aéreo foram registradas desde o início do ano.
Segundo informações da Reuters, a maioria das aeronaves eram operadas por militares da França.
Uma violação recente foi o voo "ilegal" de um drone, em 20 de abril, sobre a base militar de Gossi. As aeronaves francesas voaram de um lado para o outro sobre um comboio de tropas malianas.
© AP Photo / Imprensa AssociadaMalianos protestam contra a França e a favor da Rússia no 60º aniversário da independência da República do Mali, em Bamaco, Mali, 22 de setembro de 2020.
Malianos protestam contra a França e a favor da Rússia no 60º aniversário da independência da República do Mali, em Bamaco, Mali, 22 de setembro de 2020.
© AP Photo / Imprensa Associada
O incidente aconteceu um dia depois que a França devolveu o local ao Mali como parte da retirada de suas tropas.
O Exército francês está no Mali desde 2013 "para repelir militantes" ligados ao terrorismo, segundo afirma Paris.
As tensões na região atingiram seu ponto mais alto nas últimas semanas. No último sábado (23), a Alta Autoridade da Comunicação do país anunciou a suspensão definitiva dos meios de comunicação internacionais financiados pelo Estado francês.
A junta que governa o país africano havia suspendido inicialmente as mídias em março, justificando que a imprensa francesa produzia alegações falsas de abusos do Exército do Mali.
© AP Photo / Imprensa AssociadaSoldados franceses da operação Barkhane, chegando de Gao, no Mali, desembarcam de um avião de carga C130 da Força Aérea dos EUA em Niamey, base do Níger, antes de serem transferidos de volta para suas bases na França, 9 de junho de 2021.
Soldados franceses da operação Barkhane, chegando de Gao, no Mali, desembarcam de um avião de carga C130 da Força Aérea dos EUA em Niamey, base do Níger, antes de serem transferidos de volta para suas bases na França, 9 de junho de 2021.
© AP Photo / Imprensa Associada
Na semana passada, imagens de drones mostraram soldados perto de Gossi cobrindo cadáveres com areia. Houve trocas de acusações sobre o incidente: Mali acusou os franceses; a França disse que "eram mercenários russos".
O Exército maliano, entretanto, disse que seus soldados descobriram uma vala comum perto de Gossi depois de assumir a base e que o "estado putrefato dos corpos mostra que os assassinatos ocorreram muito antes".
"As forças francesas são culpadas de subversão ao publicar imagens falsas montadas para acusar o Exército maliano de matar civis", disse o governo do país africano em comunicado na terça-feira (26).
© Baba AhmedManifestantes protestam contra a presença militar francesa e pela unidade territorial do país na Praça da Independência, na capital do Mali, Bamako, 15 de novembro de 2019.
Manifestantes protestam contra a presença militar francesa e pela unidade territorial do país na Praça da Independência, na capital do Mali, Bamako, 15 de novembro de 2019.
© Baba Ahmed
Esta não é a primeira vez que o Mali acusa a França de espionagem militar. Em fevereiro, o governo maliano disse que as ações de Paris tornaram mais fácil a atividade terrorista no país africano e que os franceses espionaram bases militares.
"Os militares da França dividiram deliberadamente o Mali e realizaram espionagem durante sua luta contra militantes islamistas", declarou, na ocasião, Choguel Maiga, primeiro-ministro interino do país africano, citado pela Reuters.
Segundo ele, a chegada das tropas francesas em 2013 não só dividiu o país como permitiu que os jihadistas ligados à Al-Qaeda (organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países) se reagrupassem e continuassem realizando ataques.