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Eleições 2022: o programa econômico de Lula resistirá até outubro?

© Folhapress / Mateus BonomiO ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante coletiva de imprensa realizada em Brasília, 8 de outubro de 2021
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante coletiva de imprensa realizada em Brasília, 8 de outubro de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 06.05.2022
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As eleições para presidente do Brasil prometem ser disputadas voto a voto, principalmente após o crescimento constante de Jair Bolsonaro (PL) nas últimas pesquisas. Para professor da Unicamp consultado pela Sputnik Brasil, o Lula que chegar ao pleito de outubro precisará se posicionar abertamente sobre economia.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lança amanhã (7) sua chapa para disputar a Presidência da República, pela federação PT, PV e PCdoB. O petista recebeu o apoio do PSB, que indicou Geraldo Alckmin para vice, e do Solidariedade. Lula ainda espera receber o apoio da Rede Sustentabilidade e do Psol.
Embora sua candidatura não tenha lançado um programa econômico oficial, a aliança formada com partidos de esquerda dá alguns indicativos de como será a campanha do ex-presidente até outubro, focada nas questões socioeconômicas que o país enfrenta.
Para Lucas Azeredo da Silva Teixeira, professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (IE-Unicamp), os princípios (econômicos e políticos) que servirão para a campanha de Lula já estão estabelecidos, restando saber apenas se terão penetração social e se correspondem aos anseios da sociedade.
Essa resposta, contudo, apenas as urnas poderão dar.
© Folhapress / Ana Carolina FernandesO presidente Lula mostra as mãos sujas de petróleo cru depois de acionar uma das válvulas de controle dos poços do navio-plataforma P-50 da Petrobras, que deu inicio à produção do campo de Albacora Leste, na Bacia de Campos, litoral do estado do Rio de Janeiro
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostra as mãos sujas de petróleo cru depois de acionar uma das válvulas de controle dos poços do navio-plataforma P 50 da Petrobras, que deu início à produção do campo de Albacora Leste na Bacia de Campos, litoral do estado do Rio de Janeiro (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 06.05.2022
O presidente Lula mostra as mãos sujas de petróleo cru depois de acionar uma das válvulas de controle dos poços do navio-plataforma P-50 da Petrobras, que deu inicio à produção do campo de Albacora Leste, na Bacia de Campos, litoral do estado do Rio de Janeiro. Foto de arquivo
Trançando um perfil da campanha petista, o professor enfatiza, por exemplo, que o ex-presidente busca fortalecer sua imagem de conciliador na sociedade. A escolha de Geraldo Alckmin, para o economista, é um indicativo desse projeto.
"A estratégia de formar alianças de esquerda, com um vice mais liberal, representa justamente o perfil conciliador que consagrou Lula em outras eleições. Esse é um perfil perene, não é uma novidade na campanha. Ainda assim, reforça a tese de que Lula é um político do diálogo. O vice dele em 2002, vale lembrar, era um notório liberal [José Alencar]", comentou Teixeira.
O professor da Unicamp relembrou que ao longo de suas últimas campanhas para presidente o petista defendeu um projeto econômico conservador. Para ele, a agenda de Lula quando candidato em 2002, e também depois, ao menos até 2005, era até "um pouco parecida com a de Fernando Henrique Cardoso".
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Por essa razão, Lucas Teixeira entende que não deve haver inconsistências e incoerência ao longo da campanha do petista neste ano, apesar de sua chapa presidencial ser formada por partidos que defendem uma maior intervenção do Estado na economia.
O próprio Lula, em uma das poucas vezes que falou com a imprensa sobre seu projeto para o Brasil, explicou, em entrevista publicada pelo portal Poder360, que está procurando uma aliança, mas não por razões ideológicas ou mesmo eleitorais. Segundo ele, "é para reunir condições de conseguir a façanha de colocar o pobre no Orçamento e o rico no Imposto de Renda".

O discurso de Lula para as classes mais desfavorecidas

Esse apelo econômico, relata o professor da Unicamp, é direcionado para atingir "as classes médias e os mais pobres, pessoas que perderam o poder de compra e foram duramente impactadas pela crise econômica e pela inflação alta que assolam o Brasil".
Para Lucas Teixeira, isso demonstra também que a crise brasileira "é desigual, pois afeta a classe média e os pobres de maneira diferente dos mais ricos". Ele apontou que a fome, por exemplo, tem crescido assustadoramente.
Segundo pesquisa Datafolha de dezembro de 2021, 15% da população adulta, cerca de 32 milhões de pessoas, tinham deixado de comer porque não tinham dinheiro para comprar comida.
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Além da fome, o economista entende que Lula deve explorar, até outubro, a questão da inflação. Para isso, no entanto, precisará falar de saídas e soluções, assim como de projetos para mitigar os efeitos da perda de poder aquisitivo da população.
É nesse sentido, aponta o especialista, que o petista precisará falar abertamente sobre pautas ligadas à esquerda, como uma reforma tributária que taxe os mais ricos, a extinção do teto de gastos e, consequentemente, o aumento dos investimentos públicos para alavancar a economia.
"Existe uma grande rejeição ao Lula, principalmente porque a crise econômica não é igualmente distribuída entre os diferentes setores da sociedade", disse Lucas Teixeira.
Ele entende que setores empresariais tiveram benesses do governo de Jair Bolsonaro, principalmente o agronegócio e o mercado financeiro, ao contrário dos mais pobres, cujo auxílio emergencial, embora fundamental, revelou-se insuficiente.
"Revogar reformas é algo que os setores empresariais rejeitam. A agenda do Paulo Guedes [ministro da Economia] foi muito voltada para o setor financeiro, e, com certeza, isso gera uma rejeição ao Lula. Mas existem algumas fraturas na elite que podem ser exploradas, sobretudo no âmbito dos acordos que foram perdidos pelo aumento do desmatamento, que fechou portas para outros mercados, principalmente na Europa", afirmou.
"Talvez seja essa a estratégia do Lula para entrar na elite, é um caminho", avaliou o economista, enfatizando em seguida que o ingresso de Lula entre os setores mais ricos da sociedade é muito delicado.

"Falar em tributar os ricos sempre provocará resistência das elites, e há um discurso liberal no Congresso que tenta mostrar que a classe média, a partir desse projeto, pagará mais impostos". Para o economista, apesar da iminente rejeição, "a hora de trazer esse assunto é na campanha".

Petrobras e a flutuação de preços

Finalmente, outro marco na campanha presidencial petista será a discussão sobre a Petrobras. Por um lado, é esperado que Bolsonaro fale dos escândalos de corrupção do PT envolvendo a empresa. Por outro, a política de preços da estatal irrita até mesmo o chefe do Executivo brasileiro.
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"De fato, embora Lula não tenha apresentado nenhuma proposta concreta para a Petrobras, algo precisará ser feito, até porque a posição do PT no Congresso, ao longo do governo de Jair Bolsonaro, foi nesse sentido [de abandonar a atual política de preços]", disse Lucas Teixeira, relembrando alguns projetos de lei apresentados ao Congresso por parlamentares do partido de Lula.
A atual política de preços da Petrobras "tem impactos sobre toda a economia, em razão dos fretes. É um tema muito sensível para a economia brasileira. Pensar em uma política que visa mitigar a inflação passa por reduzir essas flutuações abruptas do preço do petróleo", comentou.

"Acho que a agenda econômica que o PT apresentará ao longo de sua campanha é a busca por tentar recuperar o mercado interno, assim como valorizar o salário mínimo e as políticas sociais", disse Lucas Teixeira.

Para ele, a chapa de Lula e Alckmin conta com um fator importante na conjuntura internacional para conseguir convencer o eleitorado brasileiro de que seu projeto pode colocar o país nos trilhos do desenvolvimento: o aumento global dos investimentos públicos nas economias que ainda enfrentam as consequências da pandemia e do conflito na Ucrânia, em especial dos EUA.
"Aumentar o investimento público é uma tendência mundial, principalmente depois da COVID-19. É preciso incluir o Estado no tema do verde, é preciso pensar na sustentabilidade como motor de crescimento econômico, e o cenário internacional está favorável para caminhar nessa direção", completou.
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