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Por que escolas são escolhidas como alvos de massacres?

© Folhapress / Rubens CavallariSaída de candidatos do Enem 2019 da unidade da Universidade Nove de Julho (Uninove) na Barra Funda, em São Paulo
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Em um dia triste para o Brasil, três estudantes foram esfaqueados na manhã desta sexta-feira (6) em uma escola na Ilha do Governador, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Para especialistas em segurança pública ouvidos pela Sputnik Brasil, desafio será lidar com alunos estressados após dois anos de pandemia.
Enquanto a pandemia de COVID-19 no Brasil pode estar se aproximando do fim, o país precisa lidar com outro surto: o aumento da violência nas escolas. O sinal de alerta foi feito após episódios de socos, facadas, arma de fogo e até uma granada surgirem em relatos nas redes sociais nos últimos meses.
Hoje (6) três alunos foram esfaqueados na Escola Municipal Brigadeiro Eduardo Gomes, na Ilha do Governador. De acordo com a Polícia Militar, o agressor é um colega do colégio e as vítimas são duas meninas e um menino, todos de 14 anos. Segundo o portal G1, ainda não se sabe o que motivou a agressão.
Testemunhas contaram que os ataques teriam partido de um aluno que estaria em sala de aula. Para fazer os ataques, ele teria usado uma espécie de touca ninja. Uma das garotas foi esfaqueada no rosto, no pescoço e no abdômen.
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Alunos são esfaqueados em escola na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro
Pesquisadores da área da educação e da segurança pública consultados pela Sputnik Brasil falaram sobre as razões que devem levar a um aumento da violência entre alunos, que estão sob imenso estresse — situação que é agravada por condições socioeconômicas.
Nalayne Mendonça Pinto, professora de sociologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e pesquisadora de violência no ambiente educacional, explicou que colégios e escolas são, naturalmente, espaços de conflito, principalmente porque é também função desses locais estimular o convívio social e o respeito às diferenças.
Conforme explicou, "a maioria desses confrontos escolares envolve episódios de racismo (principalmente sobre cabelos), gordofobia e perseguição aos alunos que são gays. São vários episódios de racismo religioso e intolerância contra religiões de matriz africana".
Nesse contexto, a especialista entende que o ciberbullying, fenômeno percebido com o advento das redes sociais, é crescente e potencializou situações de constrangimento, "a partir de memes e exposição pública na Internet". E as escolas ainda não estão preparadas para gerir esses diferentes conflitos.
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A professora Nalayne Mendonça Pinto, a exemplo de acadêmicos no Brasil, prefere chamar o bullying de "intimidação sistemática". Ela explica que ambos os termos são interpretados pelos jovens como "zoação, mas se revelam acusações graves, que levam, muitas vezes, aos episódios de violência psicológica e física que temos visto".

"Estamos em uma situação especial que é o pós-pandemia. Como as escolas ficaram fechadas sem um projeto de política pública nacional, as crianças, que retornaram com diversos traumas, ficaram sem assistência", avaliou.

Para Nínive Condeixa, pesquisadora do Ineac (Instituto de Estudos Comparados em Administração de Conflitos), da UFF (Universidade Federal Fluminense), o trabalho com um psicólogo e um conciliador escolar serve para auxiliar nesse processo de descoberta dos estresses, colocando alunos para serem ouvidos — abertura que muitas vezes não existe dentro de casa.
A ausência de orientação psicológica foi um problema apontado por ambas as pesquisadoras. "É a escola que acolhe milhares de jovens que ficaram isolados, e muitos deles com carência alimentar, afetiva. O sistema educacional precisa de um projeto pós-pandemia, e isso nunca foi feito", afirmou Nalayne Mendonça Pinto.

Por que as escolas?

Em 2019, o ataque à Escola Estadual Professor Raul Brasil, em Suzano, na região metropolitana de São Paulo, deixou ao menos dez estudantes e funcionários mortos, somando-se a centenas de outros massacres com desfechos parecidos pelo mundo.
No Brasil, o histórico de assassinatos em massa nas escolas é recente, e um dos casos de maior repercussão foi o da Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, no Rio de Janeiro, em 2011, que deixou 12 mortos.
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Mas, afinal, por que a escola é o alvo escolhido por esses atiradores? Nalayne Mendonça Pinto entende que a maioria das escolas (especialmente as públicas), embora acolham todas as diferenças da sociedade, "não tem uma cultura de mediação de conflitos e tampouco promovem discussões sérias sobre o respeito aos direitos humanos".
Ela explica que o assunto não é tratado com a devida seriedade e que "existem técnicas para conseguir mediar esses confrontos escolares, sendo que todas as partes precisam estar envolvidas nesse processo".
Uma série de outros fatores, que incluem transtornos mentais, que variam a cada caso, também são considerados ao analisar o que leva alguém a entrar atirando especificamente em uma escola.
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Para lidar com isso, Nalayne Mendonça Pinto disse que é preciso "identificar os alunos que estão sob estresse e trabalhar a partir disso". Entretanto, segundo ela, vale lembrar "que muitas escolas públicas sequer têm psicólogo. A escola precisa identificar os alunos e fazer um tratamento adequado para cada um".
A especialista frisou que é preciso combater a recente cultura armamentista na sociedade brasileira, pois "mais armas produzem mais violência".
"[Deve-se] fazer palestras, cursos e levar aprendizado sobre o bullying para dentro das escolas para que [os alunos] possam receber direcionamento para tratar desse tipo de conflito. Em um primeiro momento, esse direcionamento deve ser dado à equipe para que percebam que nem tudo é brincadeira de criança", comentou Nínive Condeixa.

"Não obstante, temos notado nos últimos anos um crescimento da banalização da violência, onde indivíduos normalizam a fala e o ato de desumanidade. Influenciadores de todos os tipos, da Internet aos governos, se utilizam de suas posições para disseminar ideias errôneas de como conseguir a paz e a segurança", concluiu.

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