Fronteira entre Finlândia e Rússia pode se tornar 'pesadelo estratégico' para OTAN, diz analista
© AP Photo / Olivier MatthysSecretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg (no centro), durante coletiva de imprensa junto com o chanceler da Finlândia, Pekka Haavisto (à esquerda), e a da Suécia, Ann Linde (à direita), Bruxelas, 24 de janeiro de 2022
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A grande fronteira Rússia-Finlândia se tornará um "pesadelo estratégico" para a OTAN, acredita Emma Ashford, especialista do Centro Scowcroft para Estratégia e Segurança, em uma artigo na Bloomberg.
Conforme escreve a autora, em seu desejo de enfraquecer a Rússia, os líderes da OTAN e dos EUA não levam em consideração os potenciais custos do ingresso de novos países. Entretanto, há apenas dois benefícios óbvios dessa decisão: o simbólico, isto é, a demonstração de solidariedade, e o técnico, ligado ao fato de que a integração da Suécia e Finlândia na aliança ser consistente com sua associação à União Europeia.
"Em todos os outros aspectos, a questão da adesão da Finlândia e da Suécia é mais complicada e preocupante", aponta Ashford. Assim, ambos os países têm uma economia avançada, o que lhes permite contribuir para o potencial tecnológico da OTAN, enquanto no aspecto militar possuem mais capacidades do que outras nações europeias.
"Contudo, do ponto de vista dos atuais membros da OTAN – e particularmente dos EUA – isso não é necessariamente um ganho", sublinha. De acordo com suas palavras, os exércitos finlandês e sueco já há muito tempo que têm estado focados em defender seus próprios territórios, portanto sua contribuição para a defesa comum é bem duvidosa.
Além disso, não pode ser descartado que os compromissos de Helsinque e Estocolmo de aumentar os gastos militares e fortalecer seu potencial não sejam cumpridos, visto poderem aproveitar o poderio americano "de graça".
"A história sugere que o resultado mais provável é que, em um momento em que Washington deveria estar se movimentando para a Ásia, mais dois países são acrescentados ao fardo da defesa dos EUA", alerta a analista.
A adesão da Suécia poderia ser estrategicamente benéfica para a OTAN, permitindo maior controle sobre o mar Báltico, escreve. "Ao contrário, o território finlandês é um pesadelo estratégico", escreve. A Finlândia tem uma fronteira com a Rússia de mais de 1.300 quilômetros, "altamente exposta às ameaças militares russas", afirma a autora.
"Há muitos outros motivos para ter cautela, incluindo as preocupações habituais de que, em resultado desta expansão, a aliança passará a ser um conjunto dos Estados-membros ainda mais pesado. Não é preciso ser um gênio para prever que 32 nações serão ainda mais difíceis de gerir do que 30", constata Emma Ashford, acrescentando que o apoio ao ingresso de novos membros da OTAN não é unânime.
De acordo com suas palavras, antes de aprovar as candidaturas de Estocolmo e Helsinque, os políticos devem refletir em todo o cenário estratégico e se o passo vai fortalecer a aliança ou não.
"O Artigo 10 do Tratado da Aliança do Atlântico Norte deixa claro que os membros existentes podem convidar novos Estados a aderir se eles 'contribuírem para a segurança da área do Atlântico Norte'. Por este critério, o argumento estratégico para a admissão da Suécia e da Finlândia na NATO não é garantia de sucesso", resume a analista.