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Acordo entre Mercosul e Cingapura pode gerar impacto assimétrico para o Brasil, diz especialista

CC BY 2.0 / Hamner Fotos / Fachada do prédio do Mercosul (foto de arquivo)
Fachada do prédio do Mercosul (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 13.07.2022
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Em entrevista à Sputnik Brasil, cientista político destaca que o Brasil exporta produtos primários para Cingapura, enquanto segue importando produtos industrializados.
O Mercosul pode fechar em breve um acordo comercial com Cingapura. Iniciadas em 2018, as negociações visam ampliar a agenda comercial do bloco fora da América Latina, em especial com países da Ásia. Uma nova conversa entre as partes começou na segunda-feira (11), em Assunção, no Paraguai.
Cingapura é uma forte parceira comercial do Mercosul, e ambos os lados têm forte interesse no acordo. Entre os pontos negociados estão a redução de tarifas de importação, maior cooperação aduaneira e questões de propriedade intelectual e comércio eletrônico.
No recorte brasileiro, Cingapura é crucial para a estratégia do governo de ampliar a entrada de produtos na Ásia, bem como torná-los mais competitivos. De acordo com um estudo de impacto publicado em fevereiro pela Secretaria de Comércio Exterior, "as negociações com Coreia do Sul, Indonésia, Vietnã e Cingapura trarão um aumento no PIB brasileiro de R$ 502 bilhões em termos acumulados até 2040".
A Sputnik Brasil conversou com André Leite Araújo, doutor em ciências políticas e sociais pela Universidade de Bolonha, para saber que benefícios o acordo pode trazer para o bloco e para a economia brasileira.
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Araújo afirma que o acordo cobre temas inovadores, que não eram incluídos em negociações passadas, como o comércio eletrônico. Porém ele destaca que para o Brasil o "impacto comercial do acordo é assimétrico". Isso porque "as exportações do Brasil para Cingapura são voltadas para o setor primário agrícola e agropecuário". Em contraponto, o Brasil importa de Cingapura produtos industrializados.
"O acordo, pelas previsões que foram feitas pelo setor de comércio exterior do Brasil, não parece que mudaria esse cenário. Ao contrário, só aprofundaria essa mesma balança comercial: o Brasil no setor mais primário, em setores mais básicos, e Cingapura com exportações industrializadas, de maior valor agregado", explica Araújo.
Porém ele destaca que o acordo se encaixa no projeto do Mercosul de alcançar economias extrarregionais. Segundo Araújo, houve divergência entre países do bloco justamente a respeito da agenda comercial. Ele destaca que o Uruguai, em particular, vinha pressionando por uma maior flexibilização do Mercosul, que possibilitasse a assinatura de mais acordos.

"Por outro lado, a Argentina, logo no começo da pandemia, buscou frear a negociação de novos acordos porque imaginava que o livre-comércio poderia trazer um impacto negativo para as economias sul-americanas no cenário de instabilidade que foi provocado pela pandemia", explicou Araújo.

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Diante disso, o fechamento do acordo significaria que uma convergência entre os países-membros do bloco nesse sentido foi alcançada. Além disso, o acordo promoveria a ideia de reforma do Mercosul. Segundo Araújo, essa reforma tem entre os objetivos "reduzir a cobertura de temas políticos, sociais, culturais e ambientais para focar apenas em questões econômicas e comerciais", quesito no qual estão incluídas mais parcerias extrarregionais. Além de Cingapura, o bloco negocia acordos com Líbano, Canadá, Coreia do Sul e Vietnã.
Por fim, Araújo afirma que o acordo é benéfico para a diplomacia brasileira. Ele destaca que os últimos governos, em particular o do presidente Jair Bolsonaro, vinham focando mais na agenda do livre-comércio. Esses esforços resultaram em avanços na negociação do acordo entre Mercosul e União Europeia e na conclusão do acordo do bloco com a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA, na sigla em inglês), em 2021.
Araújo ressalta que é provável que Bolsonaro "apresente o acordo como um instrumento de resgate à economia, no contexto de instabilidade que o país atravessa" e use as negociações para "mostrar que o Brasil não está isolado por inteiro, apesar da política externa do presidente". "O fato de conseguir criar laços com uma economia da Ásia poderia ser apresentado desse modo, como um ganho da diplomacia", diz Araújo.
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