Esse é mais um capítulo da longa crise do Kosovo, que se arrasta há mais de duas décadas, desde a intervenção da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), em 1999.
Mais cedo neste domingo (31), a representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, afirmou que Moscou defende que as autoridades do Kosovo e seus líderes de Washington e Bruxelas devem "cessar as provocações e respeitar os direitos dos sérvios no Kosovo".
Zakharova caracterizou o anulamento dos documentos sérvio como uma discriminação "injustificada" que serve como "mais um passo em direção à expulsão da população sérvia do Kosovo" e uma tentativa de provocar uma resposta de Belgrado.
"Os líderes do Kosovo sabem que os sérvios não permanecerão indiferentes em caso de ataque direto às suas liberdades e eles deliberadamente escalaram as tensões para provocar um cenário militar. Claro, Belgrado é o foco do ataque, que o Ocidente busca 'neutralizar'", afirmou a representante.
Mais cedo, a imprensa local afirmou que sirenes de alerta de ataque aéreo foram ligadas em regiões do norte de Kosovo, onde residem populações sérvias. Os relatos apontam que houve barricadas e foram ouvidos barulhos de tiros esporádicos.
Presidente sérvio faz alerta contra provocações
Em um comunicado televisionado mais cedo, o presidente sérvio, Aleksandar Vucic, anunciou que forças policiais do Kosovo estavam planejando uma ação operação militar contra sérvios vivendo na região norte da república autoproclamada. Vucic enfatizou que Belgrado tentará manter a paz e pediu aos seus compatriotas que não se rendam às provocações de Prisitina, que estariam tentando se mostrar como vítimas de "agressão sérvia".
"Tudo o que posso dizer é que pediremos por paz, mas também afirmou: não haverá rendição e a Sérvia vencerá. Se eles tentaram começar a perseguir sérvios, ridicularizar sérvios, matar sérvios, a Sérvia vencerá", alertou Vucic.
No dia anterior, o chanceler sérvio, Nikola Selakovic, caracterizou a tentativa das autoridades do Kosovo de anular a documentação ligada ao Estado sérvio como uma tentativa de "criar um inferno" para a população sérvia vivendo no Kosovo.
Defesa sérvia nega especulações sobre tropas sérvias no Kosovo
No domingo (31), o Ministério da Defesa da Sérvia negou relatos de que Belgrado teria enviado tropas para dentro do Kosovo e pediu que a população não espalhe notícias falsas sobre confrontos entre forças sérvias e a polícia kosovar. Segundo a pasta, tais relatos infundados estão sendo espalhados por Pristina.
"O Ministério da Defesa informa que os militares da Sérvia não cruzaram a linha administrativa e não entraram no território do Kosovo e Metohija de forma nenhum", disse a Defesa sérvia, referindo-se às regiões gêmeas que compõem o território administrativo entre Albânia e Kosovo.
Neste domingo (31), a polícia do Kosovo anunciou o fechamento das passagens de Brnjak e Jarinje, com a presença de reforços policiais na ponte sobre o rio Ibar em Kosovka Mitrovica.
Crise de décadas
Em 1999, um confronto armado entre separatistas albaneses muçulmanos da força paramilitar do Exército de Libertação do Kosovo, o Exército sérvio e forças policiais do Kosovo desencadeou uma intervenção da OTAN na forma de uma campanha de bombardeio que durou 78 dias.
A OTAN enviou tropas terrestres para a região, alegando uma missão de "manutenção da paz" destinada a prevenir uma catástrofe humanitária. Em 2004, os albaneses kosovares iniciaram uma campanha de limpeza étnica, instigando a destruição de monumentos e marcos históricos e culturais sérvios e forçando os sérvios a evacuar suas casas, levando-os às áreas do norte da região. Já em 2008, o Kosovo declarou unilateralmente sua independência da Sérvia. Belgrado, Rússia e diversos outros países se recusaram a reconhecer a separação.