Comportamento agressivo dos EUA acelera reunificação de Taiwan à China, diz analista chinês
09:13 19.08.2022 (atualizado: 11:14 19.08.2022)
© MANDEL NGAN/AFPJoe Biden, presidente dos EUA, durante reunião com seu homólogo chinês, Xi Jinping (fora da foto), em 2021
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Reitor executivo da Universidade Renmin da China, Wang Wen, alerta que o comportamento agressivo dos EUA somente acelera a reunificação de Taiwan à China continental.
Nesta quarta-feira (18), o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) realizou o debate "BRICS, EUA e temas internacionais: a versão chinesa" com o reitor executivo do Instituto de Estudos Financeiros Chongyang da Universidade Renmin da China, Wang Wen, mediado pelo Embaixador Marcos Caramuru, conselheiro consultivo internacional do CEBRI.
Durante sua exposição, Wang Wen afirmou que a visita da presidente da Câmara dos Representantes norte-americana, Nancy Pelosi, a Taiwan, entre os dias 2 e 3 de agosto, aceleram a reunificação da ilha à China continental.
"Com essa medida, os EUA estão acelerando a unificação e Pequim está mais confiante de que é preciso dar uma resposta firme", disse Wang. "Talvez um dia nós venhamos a agradecer a Pelosi por acelerar a unificação da China."
Segundo o reitor, a visita de Pelosi configura uma intervenção nos assuntos internos da China e rompeu o equilíbrio regional.
"A visita de Pelosi trouxe distúrbio à região do Pacífico, e ela tem responsabilidade sobre isso", acredita Wang. "Queria dizer aos separatistas em Taiwan que, se continuarem nesse caminho perigoso em direção aos EUA, o resultado pode ser complicado."
© AFP 2023 / Sam YehVisitando a presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi (C), acena para jornalistas durante sua chegada ao Parlamento em Taipé em 3 de agosto de 2022
Visitando a presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi (C), acena para jornalistas durante sua chegada ao Parlamento em Taipé em 3 de agosto de 2022
© AFP 2023 / Sam Yeh
Para o especialista, a China prioriza a solução pacífica da questão taiwanesa e aposta na paciência estratégica para resolução do conflito.
"Temos paciência em buscar uma reunificação pacífica, mas se for necessário o uso da força, sabemos que a China é muito superior a Taiwan nesse quesito", alertou Wang.
Após a visita da presidente da Câmara dos Representantes norte-americana, Pequim realizou uma série de exercícios militares, inclusive utilizando mísseis hipersônicos, para marcar sua posição em relação ao território que considera uma província rebelde.
© AFP 2023 / Hector Retamal Navio militar chinês sai da ilha Pingtan, um dos pontos da China continental mais próximos de Taiwan, província de Fujian, 5 de agosto de 2022
Navio militar chinês sai da ilha Pingtan, um dos pontos da China continental mais próximos de Taiwan, província de Fujian, 5 de agosto de 2022
© AFP 2023 / Hector Retamal
Pequim também optou por suspender a cooperação com os EUA em áreas civis e militares e cancelou reuniões bilaterais entre os ministérios da Defesa dos dois países.
"Interpretamos essa visita [de Pelosi] como uma interferência nos assuntos internos da China, e precisamos reagir", disse Wang. "Nossa reação na verdade foi bastante equilibrada e racional."
O especialista lembra que, antes da administração do presidente Donald Trump nos EUA, "havia centenas de canais de diálogo e cooperação entre China e EUA", que "foram sendo fechados um a um".
© AFP 2023 / GREG BAKERImagem do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, publicada em um dos jornais chineses, Pequim, China, novembro de 2016
Imagem do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, publicada em um dos jornais chineses, Pequim, China, novembro de 2016
© AFP 2023 / GREG BAKER
Ele relata que havia uma expectativa chinesa de que as relações melhorassem durante o governo Biden, mas a administração democrata se mostrou ainda mais agressiva em relação a Pequim.
"Essa é uma situação que nos entristece e não é resultado de iniciativas da China, mas sim dos EUA", disse o reitor executivo. "A ruptura da comunicação é uma mensagem para que não haja interferência nos assuntos domésticos chineses."
O embaixador Marcos Caramuru questionou Wen acerca do diálogo estratégico China-EUA na área de mudanças climáticas, cancelado após a viagem de Pelosi a Taiwan. A cooperação climática entre os países havia sido considerada como um "oásis" de colaboração entre Pequim e Washington pelo primeiro-ministro chinês, Wang Yi.
Após o cancelamento, o enviado especial dos EUA para Assuntos Climáticos, John Kerry, declarou que a atitude era "decepcionante e equivocada", com consequências graves para toda a humanidade.
© AFP 2023 / Brendan SmialowskiO enviado especial dos Estados Unidos para questões relacionadas ao clima, John Kerry, fala durante uma coletiva de imprensa na Casa Branca, em 22 de abril de 2021, em Washington
O enviado especial dos Estados Unidos para questões relacionadas ao clima, John Kerry, fala durante uma coletiva de imprensa na Casa Branca, em 22 de abril de 2021, em Washington
© AFP 2023 / Brendan Smialowski
Wang notou que o cancelamento do diálogo com os EUA não altera as metas chinesas de combate às mudanças climáticas, que são “as mais abrangentes e ambiciosas no momento”.
"Mesmo que esse canal com os EUA tenha sido interrompido, isso não altera o objetivo de desenvolver uma economia de baixo carbono na China", declarou Wang.
Crise ucraniana
O panorama de Wen Wang sobre a visão chinesa da conjuntura internacional não ficaria completo se não abordasse a situação na Ucrânia, considerada o principal tema da agenda de segurança contemporânea.
Ele defendeu a posição chinesa de não adesão às sanções econômicas impostas contra a Rússia pelos EUA e seus aliados.
"Nós queremos a solução pacífica desse conflito, e por isso não participamos das sanções econômicas, assim como grande parte dos países do mundo", disse Wang.
© Sputnik / Maksim DurnevBandeiras da Turquia, Rússia, ONU e Ucrânia durante assinatura do "acordo de grãos" em Istambul, 22 de julho de 2022
Bandeiras da Turquia, Rússia, ONU e Ucrânia durante assinatura do "acordo de grãos" em Istambul, 22 de julho de 2022
© Sputnik / Maksim Durnev
Segundo ele, a China defende a imposição de um cessar-fogo, seguida de rodadas de negociações entre as partes beligerantes.
"O Ocidente acredita que é necessário dar apoio para um dos lados da briga, mas nós acreditamos que é necessário primeiro separar quem está brigando e depois ouvir as partes, e entender os seus motivos", descreveu Wang.
O reitor executivo acredita que as relações entre Rússia e China não serão afetadas negativamente pelo conflito ucraniano.
"A relação com a Rússia sempre seguiu o padrão de respeito mútuo e mantemos boa comunicação", assegurou Wang. "Não queremos repetir aquele padrão do século passado, no qual as relações entre potências eram sempre tensas. Rússia e China vão seguir o caminho da parceria entre potências."
© Sputnik / Sergei GuneevEm Moscou, o presidente da China, Xi Jinping (à esquerda), cumprimenta o presidente da Rússia, Vladimir Putin, em 5 de junho de 2019
Em Moscou, o presidente da China, Xi Jinping (à esquerda), cumprimenta o presidente da Rússia, Vladimir Putin, em 5 de junho de 2019
© Sputnik / Sergei Guneev
Além do enfoque bilateral, Pequim quer manter diálogos com outras potências no âmbito das Nações Unidas.
"Acreditamos no multilateralismo centrado na ONU, e não no multilateralismo falso dos EUA, de pequenos círculos, centrado somente no Ocidente, com o objetivo único de preservar a hegemonia dos EUA", concluiu Wang.
Nesta quarta-feira (18), o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) promoveu o debate o debate "BRICS, EUA e temas internacionais: a versão chinesa" com a participação do reitor executivo do Instituto de Estudos Financeiros Chongyang da Universidade Renmin da China, Wang Wen, às vésperas do início da presidência chinesa do grupo BRICS.