EUA copiam modelo ucraniano no estreito de Taiwan prometendo US$ 1,1 bilhão em ajuda militar a Taipé
© AP Photo / Ministério da Defesa Nacional da República da ChinaNesta foto divulgada pelo Ministério da Defesa Nacional da República da China um caça F-16 da Força Aérea de Taiwan em primeiro plano voa no flanco de um bombardeiro H-6 da Força Aérea do Exército de Libertação do Povo Chinês (ELP) ao passar perto de Taiwan, 10 de fevereiro de 2020
© AP Photo / Ministério da Defesa Nacional da República da China
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Os EUA canalizaram dezenas de bilhões em armas para Taiwan desde 1949 para ajudar a ilha a manter sua autonomia em relação a Pequim, mesmo depois de reconhecer oficialmente que a ilha faz parte da China e romper relações formais com Taipé em 1979.
Enquanto o presidente dos EUA, Joe Biden, pressiona o Congresso para aprovar mais US$ 1,1 bilhão (cerca de R$ 5,6 bilhões) em armas e apoio militar a Taiwan, especialistas de Taiwan e da China continental concordaram que nenhuma quantia de promessas ou ajuda norte-americana pode tornar Taiwan segura, apenas a paz através do estreito pode fazer isso.
Até agora em seu governo, Biden vendeu US$ 1,065 bilhão (aproximadamente R$ 5,4 bilhões) em armas para a ilha, o que significa que o acordo proposto mais que dobraria a ajuda militar oferecida pelo presidente. A medida ocorre semanas depois que a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, visitou Taiwan e se reuniu com líderes seniores, apesar das advertências de Pequim e do Pentágono de que o gesto seria provocativo. Vários outros legisladores dos EUA seguiram o exemplo, e o Exército de Libertação Popular (ELP) realizou exercícios militares maciços em toda a ilha em resposta.
Biden, Pelosi e outros, incluindo republicanos, fizeram declarações prometendo sua solidariedade a Taiwan e insinuando que Washington defenderia militarmente Taiwan no caso de um ataque do governo chinês. No entanto, especialistas de Taiwan e da China continental estavam céticos sobre essas promessas, observando que nem as vendas de armas nem a ameaça de resposta militar dos EUA são capazes de garantir a segurança de Taiwan.
"A possibilidade de qualquer envolvimento dos EUA no conflito de Taiwan é fundamentalmente circunstancial", disse à Sputnik o pesquisador da Sociedade de Estudos Estratégicos com sede em Taiwan e um dos principais especialistas militares no ELP e segurança regional em Taiwan, o Dr. Chang Ching, na quarta-feira (31). "Tudo depende se Washington precisa ou não adotar abordagens militares para salvaguardar seus interesses nacionais quando qualquer crise específica realmente acontecer."
"Honestamente, não há base legal sólida para garantir a participação dos EUA em qualquer conflito armado para defender Taiwan", disse Chang. "Sob tais circunstâncias, os políticos dos EUA simplesmente tentam vender certas imaginações ilusórias para convencer as pessoas em Taiwan de que os Estados Unidos definitivamente farão algo para enfrentar as crises associadas à segurança de Taiwan, a fim de adquirir influências diplomáticas e outros retornos pragmáticos de Taipé."
É por isso, disse ele, que os EUA mantêm sua política de "ambiguidade estratégica" em relação a Taiwan, que é opaca tanto aos olhos taiwaneses quanto chineses, mantendo um status quo delicado. Se a China tentasse reunificar o país pela força, Washington teria que julgar quanta perda material poderia suportar em tal guerra, o que ganharia ao fazê-lo e a possibilidade de sucesso contra o ELP, antes de se comprometer com um conflito tão consequente.
É por isso, disse Chang, que os EUA estão "exercendo um esquema de guerra por procuração na Ucrânia" – para evitar uma guerra de duas frentes no caso de um conflito com a China.
No entanto, ele advertiu que mesmo isso estava se mostrando impopular tanto na Europa quanto nos EUA "sua tendência pode limitar o espaço disponível para os Estados Unidos exercerem sua manobra política no futuro", previu.
"Nenhum armamento pode garantir a segurança de Taiwan. A única abordagem para garantir a paz e a estabilidade é eliminar a hostilidade através do estreito, enquanto nem Taipé nem Pequim precisam abrir mão de seus próprios princípios", acrescentou Chang. "Pode não ser necessário que Pequim goste de Taipé ou Taipé goste de Pequim, mas ambos os lados devem aprender a viver juntos."
O professor Wang Yiwei, diretor do instituto de assuntos internacionais da Universidade Renmin da China, em Pequim, disse à Sputnik que "na verdade, os EUA deveriam estar preocupados com um confronto militar, conflito ou mesmo guerra com a China. Mas os [norte] americanos vão perder muito respeito após a visita de Pelosi e [ter] uma resposta muito forte da China, que vimos durante o exercício militar."
Wang observou que a política externa dos EUA é "dirigida gradualmente pelo complexo militar-industrial", fazendo com que passe de apoiar um confronto de longo prazo com a Rússia na Ucrânia para conflitos na Síria, Iraque e Afeganistão, para vender armas a Taiwan.
"Essa é a desculpa [norte] americana - para ajudar Taiwan a se defender", disse ele. No entanto, ele destacou que isso "ajuda a China a desenvolver sua capacidade militar para defender nossa soberania e interesses nacionais, para tornar a China uma superpotência militar".
"A América [do Norte] tem uma governança ruim e até falha internamente, e então pede ao mundo que pague os custos. Eles estão jogando a carta de Taiwan. Eles até querem copiar o modelo da Ucrânia no estreito de Taiwan. Não é porque eles não conseguem encontrar nenhum consenso internamente, mas apenas para vender armas, apenas para atacar a China ou atacar a Rússia", disse ele.
"Ninguém pode impedir a reunificação da China, porque a China é um país unido há mais de 2.000 anos. A separação de Taiwan é impossível e inaceitável", disse Wang.
"Como [o então líder chinês] Deng Xiaoping disse no início dos anos 1980, se Taiwan fosse independente, não poderia se sentir segura, poderia ser colonizada pelo Japão ou pelos EUA. Portanto, se os EUA venderem armas e mais equipamentos militares para Taiwan, causarão mais problemas para o estreito de Taiwan. Não haverá paz e estabilidade. Então a única solução é unificar."