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De promessa a sucata: que lição o Brasil pode tirar dos problemas com o porta-aviões São Paulo?

© Folhapress / Charles ShollO porta-aviões São Paulo, antes da Marinha do Brasil, deixa a baía de Guanabara pela última vez, em direção à Turquia, sendo puxado pelo rebocador holandês Alp Centre, em 4 de agosto de 2022
O porta-aviões São Paulo, antes da Marinha do Brasil, deixa a baía de Guanabara pela última vez, em direção à Turquia, sendo puxado pelo rebocador holandês Alp Centre, em 4 de agosto de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 31.08.2022
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Especialistas da Escola de Guerra Naval e da Marinha do Brasil analisaram, em entrevista à Sputnik Brasil, os prós e contras do polêmico porta-aviões São Paulo, que foi vendido como sucata para um estaleiro da Turquia.
O porta-aviões São Paulo, o maior da história da Marinha do Brasil, foi vendido recentemente, por R$ 10,5 milhões, para uma empresa turca para ser desmanchado no porto de Izmir. Comprado da França pelo Brasil em 2000, por US$ 12 milhões (cerca de R$ 22 milhões na época), ele navegou, em duas décadas, apenas 206 dias, até ser aposentado por se tornar tecnologicamente defasado e ter potencial poluente.
Em 2019, a Marinha ainda tentou iniciar um projeto de modernização, que custaria R$ 1 bilhão. Em razão do valor, a iniciativa foi deixada de lado, tornando inevitável a venda do porta-aviões — como sucata para um comprador interessado nas toneladas de ferro que compõem o navio. Com 266 metros de comprimento e 32,8 mil toneladas, quando ainda era da França, o porta-aviões esteve em frentes de batalha na África, no Oriente Médio e na Europa.
Agora o casco do navio deve chegar a Izmir em 9 de setembro. Para Robinson Farinazzo, especialista militar e oficial da reserva da Marinha do Brasil, e José Augusto Abreu de Moura, doutor pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e instrutor da Escola de Guerra Naval, diante das opções possíveis, o caminho natural do São Paulo seria mesmo o desmonte.
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Ambos acreditam que, embora ativo por apenas duas décadas, o porta-aviões deu algumas contribuições para o Brasil. Farinazzo explica que, desde a compra da embarcação, a Marinha alterou muito seus processos de aquisição, e os requisitos foram aperfeiçoados. "Hoje ela está muito mais detalhada quanto às suas demandas. Além disso, a embarcação promoveu a capacitação dos fuzileiros navais e pilotos, que tiveram experiência a partir do São Paulo", comentou à Sputnik Brasil.
Moura explicou que a embarcação foi adquirida para tentar permitir melhores condições de operar os aviões a jato.
"Ele é maior e tinha a pista maior que o [porta-aviões] Minas. Além disso, a velocidade do Minas não permitia a operação que a Marinha desejava. Esperava-se que o São Paulo fosse utilizável, mas houve problemas que restringiram a operação dele com base nos recursos que nós tínhamos. O reparo também ficou muito caro. A Marinha julgou mais conveniente se desfazer dele. Mas é importante frisar que a Marinha tem um projeto estratégico de ter um porta-aviões", apontou à Sputnik Brasil.
O instrutor da Escola de Guerra Naval ainda ressaltou que o porta-aviões serviu para as tentativas de operar melhor os caças A-4, ou AF-1, dos EUA, que foram comprados e modernizados pela Embraer.
"A ideia era ter uma capacidade de ataque no mar. A questão é que houve problemas que não foram detectados. Para um país da extensão do Brasil, é preciso ter mais investimentos no setor. Com o submarino convencional de propulsão nuclear e as fragatas classe Tamandaré, temos um primeiro passo", disse.
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Robinson Farinazzo destaca que "todo material militar tem depreciação ao longo do tempo, e, neste caso, o comprador turco arca com os custos do desmonte, e isso poderia ser um problema". O especialista se refere à quantidade de amianto, produto altamente cancerígeno, na embarcação, que ainda é desconhecida. No inventário, estão declaradas 9,6 toneladas da substância, banida em diversos países. Mas a quantidade real pode ser maior: o inventário aponta que foram visitados apenas 12% dos compartimentos. Outra desconfiança é da presença de radioatividade.
O São Paulo foi pouco usado no Brasil principalmente por causa dos problemas já identificados na época da aquisição. Segundo informações do jornal O Globo, o navio sofreu com falhas mecânicas e até uma explosão, em 2004, que causou a morte de três tripulantes, até ser retirado de atividade em 2017. Atualmente a Marinha possui somente um porta-helicópteros, que é adaptado para o uso de drones.

Farinazzo entende que esse, sim, é o problema que deveria ser abordado em Brasília. Em sua opinião, "o ideal seria o Brasil recuperar sua capacidade de desenvolver navios, principalmente no sentido de construir submarinos, corvetas e fragatas. É importante ter essa autonomia. Agora, para se produzir um porta-aviões, é preciso investimento. O Brasil precisa ser independente e ter autonomia. A indústria naval brasileira não pode depender de insumos estrangeiros".

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De modo semelhante, José Augusto de Moura reforçou o entendimento de que é preciso "fazer um esforço nacional para finalizar o submarino convencional de propulsão nuclear", embora tenha feito questão de enfatizar que a Marinha tem vários projetos, inclusive para a construção de fragatas e corvetas. Para ele, "o São Paulo não se revelou bom como se esperava, mas o problema é o seguinte: a Marinha está procurando fazer o que precisa ser feito, dentro de suas limitações, e há gente compromissada com esses projetos".
Nos últimos dias, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) cancelou a autorização de exportação do porta-aviões São Paulo e determinou o retorno da embarcação ao Brasil. A decisão foi tomada após o governo da Turquia barrar a entrada do navio no país por falta de informações sobre a quantidade de materiais tóxicos em sua estrutura.
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