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Na ONU, Bolsonaro tenta usar antipetismo como 'bala de prata', diz pesquisadora

© AP Photo / Mary AltafferO presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, discursa durante a 77ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, em 20 de setembro de 2022
O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, discursa durante a 77ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, em 20 de setembro de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 20.09.2022
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O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, discursou nesta terça-feira (20) na 77ª sessão da ONU. A Sputnik Brasil ouviu uma cientista política para comentar o impacto eleitoral da quarta aparição do brasileiro na sede da organização. Segundo ela, Bolsonaro lançou mão de estratégias conhecidas na tentativa de ampliar sua base eleitoral.
Na manhã desta terça-feira (20), Bolsonaro abriu a sessão de discursos de chefes de Estado na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) com uma fala de cerca de 20 minutos focada na tentativa de mostrar dados de recuperação econômica e acenos à sua base eleitoral. O tom do discurso foi visto por especialistas como uma tentativa de projeção de sua imagem de olho na eleição presidencial que se aproxima.
A cientista política Mayra Goulart, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ressalta que o tom do discurso de Bolsonaro, voltado ao público interno, era esperado e é comum entre figuras políticas.

"Todo político tem como principal objetivo renovar ou conquistar um mandato. É o que a gente chama na ciência política de conexão eleitoral. É um paradigma segundo o qual a manutenção e conquista de eleitores é o principal determinante do comportamento político de um futuro representante ou representante [eleito]", explica a pesquisadora em entrevista à Sputnik Brasil.

A especialista avalia que essa perspectiva ajuda a explicar a escolha de Bolsonaro pelo foco na política interna, principalmente na economia. Segundo ela, essa tem sido a estratégia do presidente brasileiro para tentar conquistar eleitores para além de sua base, apoiadora de um discurso político "extremista".
A pesquisadora afirma que essa estratégia ficou evidente no discurso de Bolsonaro, em que citou políticas "eleitoreiras" ligadas à redução da carga tributária para as classes médias e a ampliação de auxílios sociais para as classes mais pobres. "Ele menciona a economia muito com essa estratégia de expandir sua base de eleitores", aponta.
© Mary AltafferO presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, discursa durante a 77ª Assembleia Geral da ONU, em Nova York, em 20 de setembro de 2022
O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, discursa durante a 77ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, em 20 de setembro de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 20.09.2022
O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, discursa durante a 77ª Assembleia Geral da ONU, em Nova York, em 20 de setembro de 2022
Goulart também acredita que o presidente usou o discurso para acenar para sua base mais tradicional ao afirmar que os direitos humanos são o "direito à vida desde a concepção", em referência ao aborto, além de citar temas como liberdade religiosa, combate à "ideologia de gênero" e liberdade de expressão.

"Outra estratégia que ele utiliza e que nos ajuda a entender esse discurso como uma ferramenta de campanha é criticar o PT no poder, sobretudo a ideia da esquerda no poder, porque o antipetismo é a bala de prata que resta ao Bolsonaro, uma vez que essa estratégia de reativação da economia não tem mostrado muitos resultados, principalmente no que diz respeito às classes mais populares", avalia a cientista política.

Liderança do segmento conservador

Segundo Goulart, Bolsonaro mantém ao longo de sua carreira política uma constante de críticas à esquerda em âmbito internacional. A pesquisadora aponta que esse tom, visto também no discurso da ONU, é uma ferramenta usada há muito tempo pelo presidente brasileiro.

"Temos uma pesquisa que sistematiza projetos de lei e discursos de Bolsonaro enquanto ele era deputado federal. E ele, ao longo de toda a sua trajetória legislativa, fala muito de política internacional, exatamente criticando a esquerda internacionalmente, mobilizando muito essa ideia do medo da esquerda, o medo do comunismo", aponta a analista.

Para a cientista política, essa postura tem o objetivo interno de "estreitar laços com segmentos mais radicalizados" e estabelecer Bolsonaro como uma liderança do segmento conservador.
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