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Cortes e problemas de gestão: próximo governo 'assumirá pepino' na Defesa, diz especialista

© Marcos Corrêa / Palácio do Planalto / CC BY 2.0Solenidade comemorativa ao Dia do Exército Brasileiro no Comando Militar do Sudeste, em 18 de abril de 2019
Solenidade comemorativa ao Dia do Exército Brasileiro no Comando Militar do Sudeste, em 18 de abril de 2019 - Sputnik Brasil, 1920, 28.09.2022
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Apesar do aumento de despesas, o Ministério da Defesa brasileiro tem sofrido bloqueios orçamentários e vive rotina de busca de pedidos complementares para a garantia de custeio. A Sputnik Brasil ouviu especialistas na área militar para discutir e apontar perspectivas para as próximas gestões federais nesse setor.
No início da semana, o Ministério da Defesa pediu à Economia uma complementação de R$ 1,3 bilhão para gastos até dezembro. A pasta tem o quarto maior gasto discricionário do Orçamento, atrás apenas da Educação, Saúde e Economia.
Conforme publicou o jornal Folha de S.Paulo, generais do Exército salientam que o governo do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PL), manteve a tendência de governos anteriores de ampliação do orçamento da Defesa. Apesar disso, o atual governo chegou a bloquear até R$ 347,3 milhões de dotações da pasta no terceiro bimestre deste ano, a despeito dos aumentos nas despesas das Forças Armadas.
Ainda segundo a publicação, existe uma avaliação de que o teto de gastos tem influência nesse cenário e que novos bloqueios podem ocorrer. Segundo as forças, há dificuldades financeiras para manter funções básicas.
© Foto / Marcos Corrêa / Palácio do Planalto / CC BY 2.0Visita às instalações do Comando do Exército com o então ministro da Defesa, Walter Braga Netto (de terno cinza), o então Comandante do Exército, Paulo Sérgio Nogueira (à direita, hoje na função de Braga Netto), e o presidente Jair Bolsonaro (à esquerda, à frente)
Visita às instalações do Comando do Exército com o então ministro da Defesa, Walter Braga Netto (de terno cinza), o então Comandante do Exército, Paulo Sérgio Nogueira (à direita, hoje na função de Braga Netto), e o presidente Jair Bolsonaro (à esquerda, à frente) (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 28.09.2022
Visita às instalações do Comando do Exército com o então ministro da Defesa, Walter Braga Netto (de terno cinza), o então Comandante do Exército, Paulo Sérgio Nogueira (à direita, hoje na função de Braga Netto), e o presidente Jair Bolsonaro (à esquerda, à frente). Foto de arquivo

Problemas de gestão?

Essa não é uma situação nova. No ano passado, o então ministro da Defesa, general Walter Braga Netto — atualmente candidato à Vice-Presidência na chapa de Bolsonaro — fez reclamações públicas sobre o orçamento das Forças Armadas. À época, o militar alertou que a situação poderia levar ao sucateamento de equipamentos militares.
Para o jornalista Pedro Paulo Rezende, especialista em questões militares, o maior problema da atual gestão em relação aos investimentos na Defesa seria o foco nos salários, um cenário que privilegia "interesses corporativos" em detrimento dos interesses operacionais.

Na avaliação de Rezende, essa situação intensifica o quadro de sucateamento das Forças Armadas, que teriam poucos recursos para investimentos e pesquisa. Segundo ele, há um quadro difícil para a próxima gestão do Planalto nesse setor: "Quem assumir o Ministério da Defesa vai assumir um pepino", afirma à Sputnik Brasil.

© Folhapress / Paula GiolitoDois blindados Urutus do Exército chegam a entrada da favela da Grota na rua Joaquim de Queiroz, no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, em 7 de setembro de 2011
Dois blindados Urutus do Exército chegam a entrada da favela da Grota na rua Joaquim de Queiroz, no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, em 7 de setembro de 2011 - Sputnik Brasil, 1920, 28.09.2022
Dois blindados Urutus do Exército chegam a entrada da favela da Grota na rua Joaquim de Queiroz, no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, em 7 de setembro de 2011
Para o especialista, o orçamento da Defesa é "alto" e o que existe é um problema de gestão. Rezende avalia que as forças precisam reduzir seus efetivos para investir em equipamentos. "As forças [ao redor do mundo], hoje em dia, são mais enxutas e mais móveis", aponta.
Para ele, o orçamento da Defesa tem gastos excessivos com salários e pensões ligadas a legislações antigas — um quadro que ainda deve se manter por alguns anos. O especialista lamenta que essa situação impeça investimentos na indústria de Defesa nacional, o que, segundo ele, poderia impulsionar a geração de tecnologia e empregos.

Avanço tecnológico e econômico

Para José Augusto Abreu de Moura, doutor pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e instrutor da Escola de Guerra Naval, os maiores desafios do setor de defesa nas próximas gestões federais estão em "dar continuidade à implementação dos projetos estratégicos das Forças Armadas".
Segundo Moura, a área da defesa no Brasil tem dificuldades políticas para obter os recursos necessários, pois o país está em uma região "pouco militarizada" e distante de regiões de conflitos. Dessa forma, o setor teria menos respaldo na opinião pública para garantir investimentos.

"É muito difícil obter recursos para elevar a estrutura de defesa ao nível compatível com o status geopolítico do Brasil, o que é especialmente preocupante atualmente, quando vivemos uma possível transição hegemônica global, o que aumenta a probabilidade de conflitos interestatais", aponta, em entrevista à Sputnik Brasil.

© Foto / Twitter da Força Aérea BrasileiraMilitares brasileiros posam na frente do avião KC-390
Militares brasileiros posam na frente do avião KC-390 - Sputnik Brasil, 1920, 28.09.2022
Militares brasileiros posam na frente do avião KC-390
Para o especialista, a ampliação do investimento em Defesa traria uma série de benefícios tanto para o setor quanto para a economia. Segundo ele, essa aplicação de recursos no setor permitiria à Defesa alcançar os níveis tecnológicos mais atuais e se manter capaz de atualizar essas bases.

"No que toca à economia, a BID [Base Industrial de Defesa] proporciona e exige mão de obra e empregos de alta qualificação e, em grande parte, ou é dual, ou seja, produz itens de emprego civil e militar, ou proporciona spill-off (adaptações de tecnologias de uso militar para uso civil), contribuindo para a elevação do nível geral da indústria nacional e para a exportação de itens de alto valor agregado", avalia.

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