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'Lula e Bolsonaro se mostraram independentes, e isso para a Rússia é positivo', diz especialista
'Lula e Bolsonaro se mostraram independentes, e isso para a Rússia é positivo', diz especialista
Sputnik Brasil
Moscou surpreendeu ao ser capaz de gerar boas relações tanto com Lula quanto com Bolsonaro. Mas será que os candidatos modificarão a política brasileira em... 06.10.2022, Sputnik Brasil
2022-10-06T18:33-0300
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Nesta quinta-feira (6), especialistas russos se reuniram no clube de Discussão Valdai para debater o resultado das eleições brasileiras e suas consequências para as relações entre Brasil e Rússia.O ano de 2022 trouxe mudanças fundamentais para a geopolítica mundial como um todo e para a Rússia em particular. Países ocidentais liderados pelos EUA impuseram sanções econômicas contra Moscou e estão engajados em seu isolamento diplomático. Apesar de não representarem maioria, a aliança ocidental tem significativo peso econômico, político e militar nas relações internacionais.Nesse contexto, a Rússia redobra seus esforços para manter relações estreitas com países da Ásia, África e América Latina. As eleições gerais brasileiras de 2022 foram acompanhadas de perto pelos principais especialistas russos.Os especialistas notaram que a Rússia foi capaz de um feito que poucos esperavam: estabelecer relações bilaterais sólidas tanto com Lula, quanto com Bolsonaro.Razumovsky nota que as elites políticas de Brasil e Rússia mantêm a memória histórica dos anos do governo Lula, durante os quais "as relações atingiram o seu auge histórico". Já com Bolsonaro, Moscou também conseguiu "estabelecer uma relação pragmática importante".O especialista descarta o que chamou de "mitos" propagados durante a campanha eleitoral brasileira, que retrataram Lula como candidato pró-americano.Segundo o especialista, a campanha de Bolsonaro baseava essas suspeitas na disposição dos EUA de reconhecerem o resultado das eleições brasileiras rapidamente e sem questionamentos.No entanto, ele nota que "pela biografia de Lula, vemos que ele foi capaz de manter uma boa relação com os EUA, enquanto enterrou alguns projetos importantes [de Washington], como no caso da ALCA".Para ele, "ambos os candidatos mostraram ser líderes políticos independentes, e isso para a Rússia é com certeza um fator positivo".O diretor do Centro de Estudos Ibero-Americanos da Universidade Estatal de São Petersburgo, Viktor Jeifets, no entanto, alerta que Lula e Bolsonaro não necessariamente se manteriam igualmente próximos à Rússia."Não acredito que Bolsonaro realizaria mudanças desvantajosas para a Rússia em sua política externa", acredita Jeifets. "Já Lula […] poderá ser pressionado por membros do PT que regularmente expressam sua posição contrária à operação militar especial russa nas redes sociais. Lula, com certeza, sentirá essa pressão."Operação militar russaA posição do Brasil em relação a operação militar especial russa tem sido um fator importante na cooperação entre os dois países. Apesar de o Brasil ter condenado o início da operação em fevereiro de 2022, o país não adotou sanções econômicas contra a Rússia.Além disso, Brasília não se engajou no isolamento diplomático da Rússia, preferindo a abstenção em resoluções para expulsar Moscou de órgãos como o Conselho de Direitos Humanos da ONU. No Conselho de Segurança da ONU, o Brasil também opta pela abstenção em resoluções sensíveis para a Rússia.Segundo a pesquisadora sênior do Instituto de América Latina da Academia de Ciências da Rússia, a tradição diplomática brasileira determina a sua neutralidade, apesar da cobertura midiática local crítica à operação militar."Apesar de serem antípodas políticos, as posições de Lula e Bolsonaro se aproximam: ambos acreditam que o conflito deve ser resolvido de forma pacífica", disse Okuneva. "Eles não chegam a dizer como isso poderia se concretizar, [...] mas defendem o diálogo de paz."BRICSOs especialistas também se mostraram otimistas quanto ao engajamento do Brasil no BRICS. Depois de um susto no início do governo Bolsonaro, sobram poucas dúvidas de que o Brasil manterá a cooperação com o grupo.O especialista ainda nota que o BRICS está citado diversas vezes no plano de governo do candidato Jair Bolsonaro. Já o ex-presidente Lula, como um dos fundadores da agremiação, teria poucos motivos para abandoná-la."Os brasileiros são muito pragmáticos, independentes e [...] calculam o que lhes é mais vantajoso", disse Jeifets. "Está claro que o BRICS pode tirar o país da recessão econômica. Eles sabem que o BRICS é necessário economicamente e não estão preparados para renunciar ao grupo."URSAL?Apesar das coincidências entre Lula e Bolsonaro, quando o assunto é Rússia, os candidatos têm visões diametralmente opostas quanto à integração latino-americana.Durante o governo Lula, foram feitos avanços históricos para a unidade regional, com a fundação de agremiações como a UNASUL e a CELAC. Já Bolsonaro empreendeu a retirada do Brasil de ambos os fóruns, o que Razumovsky chamou de "o ponto mais baixo da política regional brasileira".Como um país empenhado na construção de um mundo multipolar, a Rússia veria com bons olhos a formação de um polo de poder sólido na América Latina, independente dos EUA.Mas a situação é mais complexa do que parece. A classe empresarial russa estaria interessada em uma abertura maior das economias regionais, por vezes demasiadamente protegidas por blocos regionais como o Mercosul."O processo de abertura do Mercosul seria muito bom para a Rússia. Nossos empresários enfrentam dificuldades para acessar o mercado mercosulino, por causa das altas tarifas, sobretudo na área de máquinas de construção", revelou o especialista.A necessidade de reduzir a Tarifa Externa Comum do Mercosul, no entanto, divide os líderes do Brasil, da Argentina, do Paraguai e do Uruguai. Especialistas brasileiros temem que o fim da tarifa poderia levar à redução drástica na relevância do Mercosul.Nesta quinta-feira (6), especialistas russos se reuniram em Moscou para debater o resultado das eleições gerais brasileiras e suas consequências para as relações entre Brasil e Rússia. O clube de discussão de Valdai é um think tank criado em 2014 para fomentar o debate e a pesquisa em relações internacionais e defesa no país.
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luiz inácio lula da silva, jair bolsonaro, rússia, brasil, relações bilaterais, operação militar especial, brics, unasul, celac, prognóstico, exclusiva, sergei lavrov
'Lula e Bolsonaro se mostraram independentes, e isso para a Rússia é positivo', diz especialista
18:33 06.10.2022 (atualizado: 07:43 07.10.2022) Especiais
Moscou surpreendeu ao ser capaz de gerar boas relações tanto com Lula quanto com Bolsonaro. Mas será que os candidatos modificarão a política brasileira em relação à operação militar especial? Especialistas russos debatem.
Nesta quinta-feira (6), especialistas russos se reuniram no clube de Discussão Valdai para debater o resultado das eleições brasileiras e suas consequências para as relações entre Brasil e Rússia.
O ano de 2022 trouxe mudanças fundamentais para a geopolítica mundial como um todo e para a Rússia em particular. Países ocidentais liderados pelos EUA impuseram sanções econômicas contra Moscou e estão engajados em seu isolamento diplomático. Apesar de não representarem maioria, a aliança ocidental tem significativo peso econômico, político e militar nas relações internacionais.
Nesse contexto, a Rússia redobra seus esforços para manter relações estreitas com países da Ásia, África e América Latina. As eleições gerais brasileiras de 2022 foram acompanhadas de perto pelos principais especialistas russos.
"Para a política externa russa, as relações com o Brasil têm uma importância significativa. Para nós é crucial saber quem será o próximo presidente do Brasil", disse a chefe da cátedra de História e Política da Europa e América do Instituto de Relações Internacionais de Moscou (MGIMO), Lyudmila Okuneva, à Sputnik Brasil. "O embate é não só entre dois líderes, dois políticos, dois caráteres pessoais, mas também entre dois modelos de desenvolvimento diametralmente opostos."
Os especialistas notaram que a Rússia foi capaz de um feito que poucos esperavam: estabelecer
relações bilaterais sólidas tanto com Lula, quanto com Bolsonaro.
"A Rússia está em uma posição surpreendentemente confortável em relação às eleições brasileiras, porque ambos os cenários lhe são favoráveis", disse o diretor do Instituto da América Latina da Academia de Ciências da Rússia, Dmitry Razumovsky, à Sputnik Brasil.
Razumovsky nota que as elites políticas de Brasil e Rússia mantêm a memória histórica dos anos do governo Lula, durante os quais "as relações atingiram o seu auge histórico". Já com Bolsonaro, Moscou também conseguiu "estabelecer uma relação pragmática importante".
O especialista descarta o que chamou de "mitos" propagados durante a campanha eleitoral brasileira, que retrataram Lula como candidato pró-americano.
"Durante a campanha circulou um mito de que o Lula estaria em conluio com os EUA, o que seria evidenciado pela sua aliança com o candidato a vice [Geraldo] Alckmin. Mas não houve nenhuma prova desta ligação", asseverou Razumovsky.
Segundo o especialista, a campanha de Bolsonaro baseava essas suspeitas na disposição dos EUA de reconhecerem o resultado das eleições brasileiras rapidamente e sem questionamentos.
No entanto, ele nota que "pela biografia de Lula, vemos que ele foi capaz de manter uma boa relação com os EUA, enquanto enterrou alguns projetos importantes [de Washington], como no caso da ALCA".
"Não há base para aceitar essa categoria reducionista de que Lula seria uma marionete dos EUA", acredita o especialista.
Para ele, "ambos os candidatos mostraram ser líderes políticos independentes, e isso para a Rússia é com certeza um fator positivo".
O diretor do Centro de Estudos Ibero-Americanos da Universidade Estatal de São Petersburgo, Viktor Jeifets, no entanto, alerta que Lula e Bolsonaro não necessariamente se manteriam igualmente próximos à Rússia.
"Não acredito que Bolsonaro realizaria mudanças desvantajosas para a Rússia em sua política externa", acredita Jeifets. "Já Lula […] poderá ser pressionado por membros do PT que regularmente expressam sua posição contrária à operação militar especial russa nas redes sociais. Lula, com certeza, sentirá essa pressão."
A posição do Brasil em relação a operação militar especial russa tem sido um fator importante na cooperação entre os dois países. Apesar de o Brasil ter condenado o início da operação em fevereiro de 2022,
o país não adotou sanções econômicas contra a Rússia.
Além disso, Brasília não se engajou no isolamento diplomático da Rússia, preferindo a abstenção em resoluções para expulsar Moscou de órgãos como o
Conselho de Direitos Humanos da ONU. No Conselho de Segurança da ONU, o Brasil também opta pela abstenção em resoluções sensíveis para a Rússia.
"O Brasil tradicionalmente adota posições de neutralidade, esse é um dos elementos constantes da política exterior do país. Desde os tempos do Barão do Rio Branco, a ênfase é na solução pacífica de controvérsias, através do diálogo e da busca de consenso", explicou Okuneva.
Segundo a pesquisadora sênior do Instituto de América Latina da Academia de Ciências da Rússia, a tradição diplomática brasileira determina a sua neutralidade, apesar da cobertura midiática local crítica à operação militar.
"Apesar de serem antípodas políticos, as posições de Lula e Bolsonaro se aproximam: ambos acreditam que o conflito deve ser resolvido de forma pacífica", disse Okuneva. "Eles não chegam a dizer como isso poderia se concretizar, [...] mas defendem o diálogo de paz."
Os especialistas também se mostraram otimistas quanto ao engajamento do Brasil no BRICS. Depois de um susto no início do governo Bolsonaro, sobram poucas dúvidas de que o Brasil manterá a cooperação com o grupo.
"A política externa de Bolsonaro passou por mudanças muito significativas durante o seu primeiro mandato, que foram muito positivas para a Rússia", disse Razumovsky. "No início, havia quem dissesse que o Brasil poderia inclusive sair do BRICS, mas a presidência temporária do Brasil no grupo [...] foi bem sucedida."
O especialista ainda nota que o BRICS está citado diversas vezes no plano de governo do candidato Jair Bolsonaro. Já o ex-presidente Lula, como um dos fundadores da agremiação, teria poucos motivos para abandoná-la.
"Os brasileiros são muito pragmáticos, independentes e [...] calculam o que lhes é mais vantajoso", disse Jeifets. "Está claro que o BRICS pode tirar o país da recessão econômica. Eles sabem que o BRICS é necessário economicamente e não estão preparados para renunciar ao grupo."
Apesar das coincidências entre Lula e Bolsonaro, quando o assunto é Rússia, os candidatos têm visões diametralmente opostas quanto à integração latino-americana.
Durante o governo Lula, foram feitos avanços históricos para a unidade regional, com a fundação de agremiações como a UNASUL e a CELAC. Já Bolsonaro empreendeu a retirada do Brasil de ambos os fóruns, o que Razumovsky chamou de "o ponto mais baixo da política regional brasileira".
Como um país empenhado na construção de um mundo multipolar, a Rússia veria com bons olhos a formação de um polo de poder sólido na América Latina, independente dos EUA.
"Nas últimas décadas o interesse da América Latina e da Rússia foi o mesmo: a formação de um mundo multipolar. E a unidade latino-americana é sem dúvida um passo nesse sentido", acredita Razumovsky. "Se a América Latina se unir novamente [...] acredito que isso será positivo para a Rússia".
Mas a situação é mais complexa do que parece. A classe empresarial russa estaria interessada em uma abertura maior das economias regionais, por vezes demasiadamente protegidas por blocos regionais como o Mercosul.
"O processo de abertura do Mercosul seria muito bom para a Rússia. Nossos empresários enfrentam dificuldades para acessar o mercado mercosulino, por causa das altas tarifas, sobretudo na área de máquinas de construção", revelou o especialista.
A necessidade de
reduzir a Tarifa Externa Comum do Mercosul, no entanto, divide os líderes do Brasil, da Argentina, do Paraguai e do Uruguai. Especialistas brasileiros temem que
o fim da tarifa poderia levar à redução drástica na relevância do Mercosul.
"Para o Mercosul, isso não necessariamente seria bom, mas para grupos empresariais russos seria vantajoso. Então, vemos que a posição russa sobre a unidade latino-americana não é preto-no-branco", concluiu o especialista.
Nesta quinta-feira (6), especialistas russos se reuniram em Moscou para debater o resultado das eleições gerais brasileiras e suas consequências para as relações entre Brasil e Rússia. O clube de discussão de Valdai é um think tank criado em 2014 para fomentar o debate e a pesquisa em relações internacionais e defesa no país.