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Lula deve valorizar multilateralismo com BRICS e ajudar a aparar 'arestas', dizem analistas

© Sputnik / Aleksei DruzhininEncontro entre Luiz Inácio Lula da Silva, então presidente da República, e Vladimir Putin, presidente da Rússia, em 14 de maio de 2010 (foto de arquivo)
Encontro entre Luiz Inácio Lula da Silva, então presidente da República, e Vladimir Putin, presidente da Rússia, em 14 de maio de 2010 (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 01.11.2022
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A Sputnik Brasil consultou especialistas em relações internacionais para projetar a relação do novo governo Lula com o BRICS. Segundo eles, o presidente eleito tende a intensificar laços com o grupo formado por Rússia, Índia, China e África do Sul.
Luiz Inácio Lula da Silva assumirá o cargo de presidente da República no dia 1º de janeiro de 2023. Até lá, o petista, vencedor das eleições contra o presidente Jair Bolsonaro, terá dois meses para planejar sua equipe e formular suas diretrizes de governo.
Um dos pilares importantes diz respeito à política externa brasileira. Em um mundo cada vez mais multipolar e menos ocidentalizado, o BRICS ganhou força e relevância na última década.
Para projetar a relação do novo governo com os membros do grupo, o podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, conversou com Luis Fernandes, professor do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), e Eduardo Gomes, coordenador do Núcleo de Estudos dos Países BRICS (NuBRICS) da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Segundo Fernandes, baseado na trajetória de Lula, a tendência é que o Brasil passe a ter uma política externa muito mais ativa e atuante que a do governo atual.
Ele afirma que o país com o ex-presidente "sempre foi um ator que se movimentou muito" e "valorizou a projeção da imagem da liderança do Brasil no mundo".

"É uma presidência que tende a valorizar os processos de multipolarização que estão em curso no mundo, destacando a importância do BRICS, dos grandes países em desenvolvimento no mundo com uma agenda reformista da ordem mundial, com uma crítica do domínio das antigas potências dominantes do sistema internacional no século XX", apontou.

O professor da PUC-Rio pontua que, embora o governo Bolsonaro não tenha se afastado do BRICS, também não dava tanto peso ao grupo. Com Lula, afirma, será "um governo que, na sua visão geopolítica, vai dar mais importância à iniciativa do BRICS".
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'Soberania dos países deve ser respeitada'

Diante de disputas eleitorais, os países-membros do BRICS sempre foram muito respeitosos e cautelosos em se posicionar, aponta Fernandes. Segundo ele, o Brasil pode ajudar a fortalecer ainda mais esse conceito, com uma eventual postura atuante.

"Um dos princípios que regem o BRICS é que a soberania dos países deve ser respeitada, que não deve haver ingerência de um país sobre assuntos de outros", afirma.

Ele lembra que há um posicionamento comum entre os membros, inclusive do Brasil — seja com Bolsonaro ou Lula —, em relação à operação especial da Rússia na Ucrânia, no que tange à escalada de sanções e da militarização do conflito.
Com isso, o BRICS pode ser "uma força de defesa da paz no mundo", na busca por "uma solução negociada" para os conflitos internacionais.

"Apesar de terem votado em algumas resoluções da ONU [Organização das Nações Unidas] de forma diferente, todos os países se somaram na crítica à escalada das tensões associadas ao conflito, à adoção unilateral de sanções econômicas e outras medidas restritivas contra a Rússia", afirmou.

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Segundo o especialista, as políticas das potências de escalar o apoio militar forçam o prolongamento do conflito, em vez de abreviá-lo "via solução negociada".
Fernandes aponta que os membros do BRICS terão "um papel importante" na crítica à governança da economia mundial.

"O que nós temos visto no conflito mais recentemente é a instrumentalização das reservas internacionais mantidas em dólar como mecanismo de guerra econômica", indicou. "Então acho que haverá maior pressão pela reforma do sistema monetário internacional, com uma diversificação das moedas que servem de referência de valor para o comércio e para o investimento internacional."

China tem muito a oferecer ao Brasil, diz especialista

Para Eduardo Gomes, coordenador do NuBRICS, da UFF, o BRICS está em um momento de redefinição. O especialista aponta que o grupo é "o melhor parceiro que se apresenta neste momento" para o Brasil.

"É cedo para prever exatamente como ele [Lula] vai lidar, mas a trajetória dele foi muito proveitosa. Então acredito que isso vá se repetir", disse Gomes.

Ele avalia que atualmente a agenda do BRICS está muito dinâmica e todos podem absorver um pouco de cada membro.
© Sputnik / Aleksei DruzhininO presidente russo, Vladimir Putin (à esquerda), e o presidente chinês, Xi Jinping, durante reunião na Diaoyutai State Guesthouse, em Pequim, na China, em 4 de fevereiro de 2022
O presidente russo, Vladimir Putin (à esquerda), e o presidente chinês, Xi Jinping, durante reunião na Diaoyutai State Guesthouse, em Pequim, na China, em 4 de fevereiro de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 01.11.2022
O presidente russo, Vladimir Putin (à esquerda), e o presidente chinês, Xi Jinping, durante reunião na Diaoyutai State Guesthouse, em Pequim, na China, em 4 de fevereiro de 2022. Foto de arquivo
Segundo o coordenador do NuBRICS, a China, por exemplo, tem muito a oferecer ao Brasil. Ele acredita que o país pode incorporar aspectos bem-sucedidos na China para elevar seu patamar de bem-estar social.

"Acho que o problema está mais na execução de políticas públicas, porque as políticas que promovem o bem-estar social, com renda mínima, assistência de saúde, educação, são consensuais entre países em desenvolvimento. As questões têm sido como implementar e os possíveis entraves", disse.

Para ele, o presidente eleito Lula está alinhado a essa orientação e "não tem praticamente" nenhum ponto de discordância quanto ao funcionamento do BRICS.

"Agora [Lula] pode ajudar a solucionar as arestas que o BRICS acumula e, ao mesmo tempo, fazer a transição para um novo momento de paz internacional, multilateralismo e criação de uma nova moeda interna", indicou.

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