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Brasil tem potencial para promover a descarbonização do setor da aviação, diz especialista

CC BY-SA 3.0 / Aeroprints.com / B-5271 Boeing B.737 China EasternAvião Boeing 737 da companhia aérea China Eastern (foto de arquivo)
Avião Boeing 737 da companhia aérea China Eastern (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 09.11.2022
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Em entrevista à Sputnik Brasil, pesquisadora destaca que o Brasil tem bons projetos e iniciativas para desenvolver combustível de aviação sustentável, faltando apenas investimentos mais robustos para torná-lo comercial.
Muito antes da COP27, em 2015, 193 países-membros da Organização das Nações Unidas (ONU) se comprometeram com um plano de ação global visando práticas mais adequadas à mitigação dos impactos climáticos, com a assinatura da Agenda 2030. O plano engloba 17 objetivos, divididos em 169 metas, para alcançar o desenvolvimento sustentável nas áreas social, ambiental e econômica.
Uma das metas da Agenda 2030 é reduzir em 50% a emissão de gases do efeito estufa e neutralizar as emissões de carbono até 2050. Como signatário, o Brasil vem tomando ações para conter as emissões de carbono, e um dos setores que estão na mira é o da aviação civil. Isso porque o setor é responsável por grande parte das emissões, por conta do uso de combustíveis fósseis.
Segundo um estudo publicado em 2020 na revista científica Global Environmental Change, apenas 1% da população global faz uso frequente de viagens aéreas. Porém esse pequeno percentual é responsável por 50% das emissões de carbono geradas pela aviação civil. São os chamados "superpoluidores", que, segundo o estudo, contribuem para o lançamento de cerca de 7.500 toneladas de carbono por ano na atmosfera.
Uma iniciativa que pode reduzir o impacto ambiental causado pelos superpoluidores é o incentivo ao uso de combustíveis de aviação sustentáveis (SAF, do inglês Sustainable Aviation Fuels). Para entender o que são os SAFs e como eles poderiam contribuir para a redução na emissão de carbono na aviação civil, a Sputnik Brasil conversou com Fabíola Correia, pesquisadora do Instituto Senai de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER).
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"Combustível de aviação sustentável (SAF) é o nome adotado para combustíveis de aviação alternativos, que são produzidos a partir de matérias-primas que são sustentáveis e/ou renováveis. Elas podem ser de origem biológica, como as algas, por exemplo; ou partir de resíduos industriais, como a glicerina oriunda da indústria do biodiesel, ou mesmo [...] do CO2 [dióxido de carbono] capturado do ar. Além dessas, existem várias matérias-primas potenciais para a produção do SAF, como a biomassa, óleos vegetais e açúcares, entre outras", explica a pesquisadora.
Ela destaca que a grande vantagem do combustível de aviação sustentável é justamente a redução na emissão de gases do efeito estufa. "A queima do querosene fóssil traz problemas ambientais, uma vez que emite gases de efeito estufa, que contribuem para o aumento do aquecimento global. A grande vantagem do combustível sustentável é que, na sua utilização, há redução na emissão desses gases, principalmente CO2", diz Correia.
Ela afirma que incentivar o uso do SAF é de grande importância para que a meta de redução das emissões de carbono traçada pela Agenda 2030 seja alcançada.
"Pensando na indústria da aviação, ela é responsável por cerca de 2,5% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE), o equivalente a mais de 900 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2), com projeções crescentes, que atingem 3% até 2050", diz a pesquisadora, acrescentando que "o fator principal [para essa tendência] é o uso de querosene de aviação de origem fóssil".

"O SAF apresenta um potencial para diminuir em até 80% as emissões de GEE dos aviões, sendo necessários para isso investimentos que promovam avanços em escala de produção e atratividade no custo final do produto", ressalta a pesquisadora.

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Questionada sobre se seria necessário substituir frotas aéreas para a adoção do combustível sustentável, Correia diz que "o SAF tem as mesmas propriedades químicas que o querosene fóssil de aviação". Porém ela destaca que a ASTM International, órgão estadunidense que traça normas e diretrizes para a aviação, "permite utilizar uma mistura de 50% de SAF no fóssil sem nenhuma modificação nas aeronaves, sendo essa porcentagem dependente do tipo de SAF utilizado".

"Existem sete diferentes processos tecnológicos aprovados internacionalmente para produção do SAF, [...] [e] o mais utilizado é o processo de Fischer–Tropsch [processo que usa gás de síntese para a produção de hidrocarbonetos líquidos]", explica a pesquisadora.

A pesquisadora sublinha que o Brasil tem várias iniciativas e projetos em andamento para fomentar o uso do SAF e que "o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) lançou neste ano editais de pesquisa e desenvolvimento estratégicos para o setor de aviação e desenvolvimento de SAF".
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"Além disso, existe a Rede Brasileira de Bioquerosene e Hidrocarbonetos Sustentáveis para Aviação (Rbqav), que tem como objetivo o apoio a pesquisa, desenvolvimento e inovação no setor por meio de parcerias entre instituições de pesquisa, empresas privadas e instituições governamentais", explica Correia.

A pesquisadora finaliza afirmando que apesar das iniciativas em curso, ainda vai demandar mais investimentos e tempo para que o Brasil alcance uma produção comercial e de custo aceitável ao mercado dos combustíveis de aviação.

"O importante é que já iniciamos o processo de desenvolvimento de tecnologias e produção de SAF no Brasil. Agora, precisamos de investimentos mais robustos para torná-lo comercial e promover a descarbonização do setor da aviação no país", conclui a especialista.

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