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Acordo nuclear do Irã pode ser retomado?
Acordo nuclear do Irã pode ser retomado?
Sputnik Brasil
As negociações sobre o novo acordo nuclear iraniano se arrastam há dois anos, contrariando expectativas e promessas do presidente norte-americano, Joe Biden... 06.12.2022, Sputnik Brasil
2022-12-06T18:51-0300
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Após negociações abrangentes, o Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês) original foi assinado em 2015 por China, França, Alemanha, Irã, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos, assim como pela União Europeia (UE). À época, o acordo foi tido como um grande avanço diplomático, retirando uma série de sanções econômicas impostas a Teerã.Em 2018, porém, o então presidente dos EUA, Donald Trump, retirou Washington do acordo de forma unilateral e reimpôs as sanções ao Irã, em um movimento que visava minar o legado político de seu antecessor na Casa Branca, o democrata Barack Obama. Desde então, o imbróglio geopolítico voltou a crescer e o Irã abandonou gradativamente seus compromissos com o documento.Após a chegada de Joe Biden à Casa Branca, em 2020, o acordo voltou a ser discutido entre Irã e EUA, mas as negociações não avançaram. O professor de relações internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) de São Paulo Leonardo Trevisan recorda que Biden chegou a demonstrar algum interesse na questão do acordo nuclear iraniano ainda durante a campanha presidencial. A posição do democrata seria um contraponto à saída "intempestiva" e unilateral do acordo pelo ex-presidente Trump.Apesar da suposta disposição para rediscutir o tema, Trevisan acredita que a questão foi congelada pelo governo Biden devido ao conflito ucraniano, uma vez que o Irã é um aliado próximo de Moscou. Para o pesquisador, por esse posicionamento de Washington, o futuro do acordo nuclear iraniano depende da situação na Ucrânia.O pesquisador também ressalta que há pelo menos dois aliados dos EUA no Oriente Médio com interesse direto no acordo devido às tensões particulares com o Irã — Arábia Saudita e Israel.Cenário interno dos EUA pode influenciar?A política interna dos EUA também é um fator relevante para os rumos da negociação do acordo, segundo o pesquisador. A correlação das forças políticas em Washington foi alterada recentemente após o não cumprimento das expectativas de vitória arrasadora dos republicanos nas eleições legislativas. Para Trevisan, esse cenário pode ter impacto no âmbito internacional.Para o professor, a partir desse resultado, Biden pode demonstrar mais disposição para negociar no campo das relações internacionais, inclusive com Rússia e China."Isso não é nenhum segredo de Estado, é público", ressalta.Petróleo e inverno europeu podem mudar cenárioPara o pesquisador Leonardo Trevisan, há um cenário interno no Irã que também cria uma situação mais favorável às negociações.Apesar de condicionar as mudanças na negociação do acordo nuclear ao andamento do conflito ucraniano, Trevisan salienta que a oferta de petróleo do Irã no mercado mundial pode ser um fator importante para que as negociações avancem no atual cenário.Diante desses fatores, Trevisan avalia que a retomada das negociações com o Irã deve ocorrer a partir do próximo verão europeu e depende do desdobramento do conflito ucraniano ao longo do inverno no Hemisfério Norte.
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Acordo nuclear do Irã pode ser retomado?
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As negociações sobre o novo acordo nuclear iraniano se arrastam há dois anos, contrariando expectativas e promessas do presidente norte-americano, Joe Biden. Para discutir o assunto, a Sputnik Brasil conversou com um pesquisador de relações internacionais, que apontou o impacto do conflito ucraniano e da política interna dos EUA nas negociações.
Após negociações abrangentes, o Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês) original foi assinado em 2015 por China, França, Alemanha, Irã, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos, assim como pela União Europeia (UE). À época, o acordo foi tido como um grande avanço diplomático, retirando uma série de sanções econômicas impostas a Teerã.
Em 2018, porém, o então presidente dos EUA, Donald Trump, retirou Washington do acordo de forma unilateral e reimpôs as sanções ao Irã, em um movimento que visava minar o legado político de seu antecessor na Casa Branca, o democrata Barack Obama. Desde então,
o imbróglio geopolítico voltou a crescer e o Irã
abandonou gradativamente seus compromissos com o documento.
Após a chegada de Joe Biden à Casa Branca, em 2020,
o acordo voltou a ser discutido entre Irã e EUA, mas as negociações não avançaram. O professor de relações internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) de São Paulo Leonardo Trevisan recorda que Biden chegou a demonstrar algum interesse na questão do acordo nuclear iraniano
ainda durante a campanha presidencial. A posição do democrata seria um contraponto à saída
"intempestiva" e unilateral do acordo pelo ex-presidente Trump.
Apesar da suposta disposição para rediscutir o tema, Trevisan acredita que a questão foi congelada pelo governo Biden devido ao conflito ucraniano, uma vez que o Irã é um aliado próximo de Moscou. Para o pesquisador, por esse posicionamento de Washington, o futuro do acordo nuclear iraniano depende da situação na Ucrânia.
"Neste momento, talvez, o acordo iraniano seja um dos pontos dentro deste novo desenho geopolítico mundial que está aguardando alguma solução da questão ucraniana. Em outras palavras, quando se resolver a questão ucraniana, provavelmente o acordo nuclear dos seis — das potências europeias, Rússia, China e Estados Unidos — volte à baila, volte a vigorar, volte a ser rediscutido", afirma Trevisan em entrevista à Sputnik Brasil.
O pesquisador também ressalta que há pelo menos
dois aliados dos EUA no Oriente Médio com interesse direto no acordo devido às tensões particulares com o Irã — Arábia Saudita e Israel.
"Neste contexto, nós precisamos entender que dois aliados norte-americanos têm interesses muito fortes em que Washington consiga voltar a uma situação de conversa quanto ao enriquecimento do urânio pelos iranianos", aponta.
Cenário interno dos EUA pode influenciar?
A política interna dos EUA também é um fator relevante para os rumos da negociação do acordo, segundo o pesquisador. A correlação das forças políticas em Washington foi alterada recentemente após
o não cumprimento das expectativas de vitória arrasadora dos republicanos nas eleições legislativas. Para Trevisan, esse cenário pode ter impacto no âmbito internacional.
"Os resultados das eleições mostraram uma situação curiosíssima. Primeiro a preservação do poder [do Partido Democrata] no Senado, que, no caso de política externa, é o essencial. E, na Câmara dos Deputados, a famosa onda vermelha, a famosa onda de vitória republicana, não aconteceu [...]. Se nós olharmos os resultados da eleição norte-americana com alguma calma, vamos encontrar um presidente Biden mais vitorioso do que derrotado", avalia.
Para o professor, a partir desse resultado, Biden pode demonstrar mais disposição para negociar no campo das relações internacionais, inclusive com Rússia e China.
"Isso não é nenhum segredo de Estado, é público", ressalta.
Petróleo e inverno europeu podem mudar cenário
Para o pesquisador Leonardo Trevisan, há um cenário interno no Irã que também cria uma situação mais favorável às negociações.
"Nós podemos ter um cauteloso otimismo de que também nesse aspecto — dada a mudança na situação interna iraniana — seja possível alguma evolução nas negociações", afirma.
Apesar de condicionar as mudanças na negociação do acordo nuclear ao andamento do conflito ucraniano, Trevisan salienta que a oferta de petróleo do Irã no mercado mundial pode ser um fator importante para que as negociações avancem no atual cenário.
"Não podemos esquecer que o preço do petróleo é um condicionante essencial em torno dessas negociações. Se o acordo com o Irã avançar, de imediato haverá uma oferta de mais de 1 milhão de barris de petróleo por dia. Isso é uma música para os ouvidos de Biden, para que o preço do petróleo seja controlado e não provoque mais inflação nos Estados Unidos", recorda.
Diante desses fatores, Trevisan avalia que a retomada das negociações com o Irã deve ocorrer a partir do próximo verão europeu e depende do desdobramento do conflito ucraniano ao longo do inverno no Hemisfério Norte.
"De alguma forma, o contexto do duro inverno europeu e ucraniano vai, de alguma forma, empurrar para a mesa de negociações todos os integrantes. Esse processo, se a gente for marcar algum tempo, talvez a retomada das negociações e a possibilidade de abrir negociações com o Irã aconteça na chegada do verão europeu do próximo ano", conclui.