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Embora sancionada duramente, economia russa se fortalece e desafia o domínio do dólar, diz analista

© Fotolia / Alexey BelikovRublo russo (foto de arquivo)
Rublo russo (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 09.12.2022
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Em entrevista à Sputnik Brasil, economista destaca que Moscou vem estreitando parcerias para driblar sanções e ajudando a criar um novo polo de poder, enquanto EUA e Europa se tornam vítimas de sua própria estratégia.
A Rússia vem sendo alvo de pesadas sanções dos Estados Unidos e seus aliados europeus desde que iniciou sua operação militar na Ucrânia, em fevereiro.
A estratégia ocidental tinha como objetivo asfixiar a economia russa, de forma a pressionar Moscou a desistir de seus objetivos. Porém, ao contrário do que se esperava, Moscou vem conseguindo driblar com bastante eficiência os efeitos das sanções e a economia russa vem tendo um desempenho superior em relação às de países da Europa e dos Estados Unidos.
Segundo dados divulgados neste mês, por exemplo, a Rússia ultrapassou a Índia e subiu para o quarto lugar entre as maiores economias do mundo em termos de reservas cambiais.
Esse "efeito bumerangue" é fruto de uma série de fatores, como explica, em entrevista à Sputnik Brasil, o economista e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) Fábio Sobral.
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Sobral explica que a pressão monetária é uma das armas usadas pelos Estados Unidos em conflitos ou mesmo em estágios anteriores a conflitos. Segundo ele, o objetivo é "fazer a moeda do país em conflito com o poder americano ser desvalorizada".

"Houve essa iniciativa no começo da operação especial na Ucrânia, e a moeda russa, o rublo russo, se desvalorizou. Mas a Rússia conseguiu contornar por uma série de mecanismos, apesar de ter sido sancionada pesadamente, principalmente não podendo usar o sistema de pagamentos internacionais controlado pelos Estados Unidos", diz Sobral.

Segundo Sobral, a estratégia usada pela Rússia teve como base três medidas. A primeira "foi passar a usar o sistema chinês de pagamentos internacionais"; a segunda "foi aceitar o pagamento pelo gás e petróleo nas moedas dos países compradores".
"Em terceiro lugar, [a Rússia] ampliou a ligação com a China por meio do seu segundo gasoduto. Já havia o primeiro, agora tem o segundo. Inclusive destinando gás que iria para a Europa para atendimento das compras chinesas. Acordos foram assinados também com a Índia", explica o economista.
Ele acrescenta que "houve uma série de vendas feitas com descontos aos países parceiros". "Inclusive em acordos de fornecimento mútuo em exploração de petróleo e gás entre Irã e a Rússia. Então a fuga do sistema do dólar permitiu à Rússia se manter firme e não abalada com as sanções americanas."
Segundo o especialista, três parcerias da Rússia ganharam força em especial nessa condição: com a China, com a Índia e com o Irã.
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A parceria com a China se fortaleceu porque Pequim "obteve alguns contratos de gás e petróleo a preços menores". Ademais, segundo Sobral, Moscou fortaleceu a parceria com a Índia, que havia se aproximado dos Estados Unidos por desconfianças em relação à China, por meio de acordos firmados na área de segurança e em compras de armamentos. "Isso reforçou a proximidade com a Índia, deslocando-a dessa esfera mais americana para uma esfera mais de interesse russo", explica Sobral.
Por fim, Sobral aponta para o estreitamento de laços da Rússia com o Irã, tanto por meio da produção industrial e exploração de gás e petróleo quanto pelo fornecimento de armas e pelas relações entre Teerã e Moscou no cenário de combate na Síria.

"Sem contar que a Rússia começou a se afastar de Israel na questão síria e começa a divergir e a tomar medidas um pouco mais cautelosas, [...] [havendo] até [...] [a] possibilidade de rompimento. Nós não podemos esquecer que há muitos russos instalados no território de Israel, tanto russos quanto ucranianos; eles têm uma força eleitoral muito grande. Mas pelo apoio que Israel tem dado à Ucrânia, acaba por haver um distanciamento. Israel tem apoiado a Ucrânia e a OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte]", opina Sobral.

Outros parceiros também ganharam ao estreitar laços com a Rússia. Segundo Sobral, o principal benefício é a aproximação com o BRICS. Ele destaca que países como Egito, Argentina e Indonésia já expressaram intenção de ingressar no agrupamento.

"Há um fortalecimento dessas relações de desenvolvimento econômico e comercial por meio do BRICS e de seu banco, o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), em que o Egito também pediu para ingressar. É a fuga de um sistema dominado pelo Fundo Monetário Internacional [FMI] e Banco Mundial, que são, essencialmente, controlados política e financeiramente pelos Estados Unidos e pelos países da OTAN."

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O economista destaca que essa tendência indica "a formação de um outro polo de poder, muito mais promissor", na medida em que as relações entre esses países do BRICS "são muito mais igualitárias e menos exploratórias".

"Não é de exploração, é muito mais uma parceira de ganha-ganha. Como o próprio presidente chinês, Xi Jinping, afirmou. Então há uma tentativa de fugir ao sistema de domínio colonial americano, britânico, europeu de modo geral."

Em contrapartida, foram os autores das sanções quem saíram prejudicados. Segundo Sobral, as sanções americanas acabaram se voltando contra a própria OTAN, elevando a inflação, provocando descontentamento social, e provocando crise energética entre seus países-membros e nos Estados Unidos.
"Durante esse período, o dólar deixou de ser a única moeda na qual os contratos futuros de petróleo são negociados. O yuan, a moeda chinesa, já é aceito e começa a ser um adversário, um competidor cada vez mais forte com o dólar."
Segundo ele, "o domínio do dólar é uma arma poderosa do poder americano para impor sua vontade ao mundo". "Então os países ligados ao sistema cambial do dólar podem sofrer um grande abalo, na medida em que parte enorme do mercado produtor e consumidor mundial volta as costas a esse sistema, o que pode levar, inclusive, a um colapso do dólar por ele ter uma quantidade de moeda circulando muito maior do que a de bens", explica Sobral.
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A perda de influência do dólar, bem como a menor quantidade da moeda americana em circulação, pode levar a uma crise de confiança, segundo Sobral, criando um efeito dominó.
"As pessoas vão tentar se livrar dos dólares que têm comprando objetos reais, e esses objetos sofrerão um processo inflacionário em dólar gigantesco, desequilibrando mercados financeiros de Nova York, Londres, as bolsas de commodities ligadas ao dólar, as bolsas europeias, como a de Paris e a de Frankfurt. Essa mudança pode implicar em um processo inflacionário ainda mais alto, no empobrecimento das populações europeias, americana e canadense e talvez japonesa. E isso pode desequilibrar politicamente esses sistemas de governo, com enormes conflitos sociais de diversas ordens", explica o economista.
Sobral finaliza destacando que o cenário se torna ainda mais grave por conta do aumento no custo da energia, que ameaça o setor industrial da Europa.

"O preço da energia é básico para a manutenção de uma indústria. A indústria alemã, francesa, inglesa, italiana, espanhola começa a ser profundamente ameaçada, porque os custos de energia subindo diminuem as margens de lucro, e essas empresas podem colapsar, fazendo com que os empregos sejam perdidos e a crise social seja ainda mais intensa."

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