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Crítico, irreverente e atrativo, como o Carnaval impacta o Brasil e a identidade brasileira?
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É Carnaval! O festejo, que é uma das maiores manifestações culturais do planeta, já arrasta multidões em todo o Brasil com muitas cores, batuques e purpurinas... 20.02.2023, Sputnik Brasil
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Uma festa popular que reúne multidões, evidentemente, não pode ser vista fora de seu contexto social, político e econômico. É notório o impacto do Carnaval nas mais diversas áreas. O apelo midiático, a força econômica e a capacidade de levantar debates sem o menor pudor faz com que o festejo seja mais do que um momento de descontração e impacte diretamente no conjunto da sociedade. Essa força ultrapassa as fronteiras e pode até ser instrumento para a diplomacia brasileira.Durante esses dias de samba, frevo, axé, suor e cerveja, o podcast Jabuticaba Sem Caroço, da Spuntik Brasil, comandado pelas jornalistas Bárbara Pereira e Francini Augusto, ouviu uma série de especialistas que trataram sobre as diversas potências dessa grande festa popular.Carnaval movimenta a economiaSegundo o levantamento Carnaval de Dados, realizado pela Prefeitura do Rio de Janeiro, o Carnaval carioca deve movimentar um montante de R$ 4,5 bilhões. Em entrevista ao Jabuticaba Sem Caroço, o jornalista João Gustavo Melo destacou que os valores movimentados pelo Carnaval do Rio apenas no mês de fevereiro superam o produto interno bruto (PIB) de muitas cidades brasileiras."Tudo isso movimentado em um período muito curto. Ou seja, o Carnaval é um colosso, economicamente é um colosso. Muitas vezes a gente não se dá conta disso. O dinheiro investido no Carnaval retorna multiplicado em várias vezes", afirmou Melo.Na apresentação do estudo da prefeitura, Rafaella Bastos, presidente da Fundação João Goulart, destacou que a cada R$ 1 investido no festejo, voltam R$ 6 para os cofres públicos."A gente observa como a infraestrutura para o Carnaval impacta e fica de legado para a cidade, como o Carnaval tem a ver com o desenvolvimento humano para o carioca, para crianças, comunidades, e também [com] os aspectos econômicos, que impactam. A cada R$ 1 investido na cidade, são R$ 6 de retorno", disse ao G1.O Carnaval de rua por si só deve movimentar R$ 1,2 bilhão. Também em entrevista ao podcast da Sputnik, a jornalista Rita Fernandes, presidente da associação de blocos Sebastiana, deu detalhes sobre todos os processos que o Carnaval de rua movimenta, da confecção de acessórios e camisetas até a contratação de carros de som e os ambulantes que matam a sede dos foliões. A jornalista defende que seja realizado um estudo mais aprofundado sobre toda a cadeia produtiva da festa, que acaba sendo marcada pela informalidade.Fernandes aponta ainda que o Carnaval de rua do Rio de Janeiro tem um modelo democrático que permite "todas as formas de participação".Leonardo Antan, produtor cultural, pesquisador e editor do selo Carnavalize, pondera que os argumentos econômicos são importantes para a reafirmação da potência da festa, mas destaca que o Carnaval é a maior manifestação cultural do Rio de Janeiro e é fundamental para a construção da identidade da cidade. No próprio documento em que a prefeitura traz os dados econômicos, há um registro de que 91,8% dos cariocas se consideram amantes do Carnaval ou são simpatizantes da manifestação cultural e 86,4% são fãs do desfile das escolas de samba.E tem muita política no CarnavalMovendo multidões, girando a roda da economia e forjando uma identidade cultural, é inevitável que Carnaval e política se misturem. Enquanto nos anos 1980 algumas escolas de samba — em especial Império Serrano, Caprichosos de Pilares, Unidos de Vila Isabel e São Clemente — se impunham e faziam críticas à ditadura militar, nos dias de hoje a crítica social se faz muito mais presente.Da autointitulada "subversiva" Beija-Flor de Nilópolis, que vai levar o Grito dos Excluídos no Bicentenário da Independência para a Sapucaí neste ano — "a revolução começa agora", diz o samba nilopolitano —, aos já históricos desfiles da Estação Primeira de Mangueira em 2019 falando sobre os heróis que não estão na história oficial e do Paraíso do Tuiuti em 2018 sobre o legado negativo deixado pela escravidão, é evidente o aumento da presença de pautas sociais no Sambódromo da Marquês de Sapucaí nos anos mais recentes.O pesquisador Guilherme Guaral, autor do livro "Unidos da democracia — as escolas de samba do Rio de Janeiro e os enredos políticos da década de 1980", reforçou à Sputnik Brasil que "a política faz parte da festa, faz parte da organização de uma escola de samba".Guaral apontou que, no processo de redemocratização, as escolas de samba tiveram um papel importante de se tornarem porta-vozes de pautas e questões críticas de uma forma lúdica e com ampla capacidade de comunicação com o grande público. O especialista faz uma reverência em especial ao desfile de 1986 do Império Serrano, que trazia o enredo "Eu quero". No samba, versos como: "Quero que meu amanhã, meu amanhã seja um hoje bem melhor"."De muitas coisas importantes as escolas de samba foram meio que porta-vozes. Talvez a gente trabalhasse de uma forma mais lúdica e lírica do que propriamente como um discurso político. Hoje eu percebo como tinha discurso político ali nas letras que a gente cantava e pulava, e talvez nem sempre entendia a intencionalidade que estava ali", completou.Antan também comentou as mensagens políticas no Carnaval, tanto no Sambódromo quanto nas folias de rua, e afirmou que a festa, "sem dúvidas, é um retrato brasileiro, sobretudo".A educadora Cristiana Tramonte, professora de educação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e pesquisadora do Carnaval catarinense, frisou que a festa, em qualquer parte do Brasil, é uma tradição e faz parte da identidade nacional.
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Crítico, irreverente e atrativo, como o Carnaval impacta o Brasil e a identidade brasileira?
10:00 20.02.2023 (atualizado: 13:02 20.02.2023) Especiais
É Carnaval! O festejo, que é uma das maiores manifestações culturais do planeta, já arrasta multidões em todo o Brasil com muitas cores, batuques e purpurinas. A folia momesca acaba na quarta-feira de cinzas (22), mas já começou bem antes da sexta-feira (17) e movimenta tanto os foliões quanto a economia e a política brasileiras.
Uma festa popular que reúne multidões, evidentemente, não pode ser vista fora de seu contexto social, político e econômico. É notório o impacto do Carnaval nas mais diversas áreas. O apelo midiático, a força econômica e a capacidade de levantar debates sem o menor pudor faz com que o festejo seja
mais do que um momento de descontração e impacte diretamente no conjunto da sociedade. Essa força
ultrapassa as fronteiras e pode até ser instrumento para a diplomacia brasileira.
Durante esses dias de samba, frevo, axé, suor e cerveja, o
podcast Jabuticaba Sem Caroço, da Spuntik Brasil, comandado pelas jornalistas Bárbara Pereira e Francini Augusto, ouviu uma série de especialistas que trataram sobre
as diversas potências dessa grande festa popular.
16 de fevereiro 2023, 10:00
Carnaval movimenta a economia
Segundo o
levantamento Carnaval de Dados, realizado pela Prefeitura do Rio de Janeiro,
o Carnaval carioca deve movimentar um montante de R$ 4,5 bilhões. Em entrevista ao Jabuticaba Sem Caroço, o jornalista João Gustavo Melo destacou que os valores movimentados pelo Carnaval do Rio apenas no mês de fevereiro superam o produto interno bruto (PIB) de muitas cidades brasileiras.
"Tudo isso movimentado em um período muito curto. Ou seja, o Carnaval é um colosso, economicamente é um colosso. Muitas vezes a gente não se dá conta disso. O dinheiro investido no Carnaval retorna multiplicado em várias vezes", afirmou Melo.
"A festa é uma criação coletiva, o Carnaval das escolas de samba principalmente. É uma criação coletiva que envolve vários atores, vários setores. Carnaval e economia são assuntos indissociáveis", frisou o jornalista.
Na apresentação do estudo da prefeitura, Rafaella Bastos, presidente da Fundação João Goulart, destacou que a cada R$ 1 investido no festejo, voltam R$ 6 para os cofres públicos.
"A gente observa como a infraestrutura para o Carnaval impacta e fica de legado para a cidade, como o Carnaval tem a ver com o desenvolvimento humano para o carioca, para crianças, comunidades, e também [com] os aspectos econômicos, que impactam. A cada R$ 1 investido na cidade, são R$ 6 de retorno",
disse ao G1.
O Carnaval de rua por si só deve movimentar R$ 1,2 bilhão. Também em entrevista ao podcast da Sputnik, a jornalista Rita Fernandes, presidente da associação de blocos Sebastiana, deu detalhes sobre todos os processos que o Carnaval de rua movimenta, da confecção de acessórios e camisetas até a contratação de carros de som e os ambulantes que matam a sede dos foliões. A jornalista defende que seja realizado um estudo mais aprofundado sobre toda a cadeia produtiva da festa, que acaba sendo marcada pela informalidade.
Fernandes aponta ainda que o Carnaval de rua do Rio de Janeiro tem um modelo democrático que permite "todas as formas de participação".
"É o modelo mais democrático, muito animado, traz uma sensação de pertencimento e permite todas as formas de participação. [A pessoa] pode cantar, pode tocar, pode ser só folião, só observador. Ao mesmo tempo, é um modelo que gira a cadeia produtiva de uma forma muito democratizada porque o próprio ambulante não tem que pedir licença para estar nesse lugar. Por isso esse modelo repercutiu no Brasil todo", aponta a presidente da Sebastiana.
Leonardo Antan, produtor cultural, pesquisador e editor do selo Carnavalize, pondera que os argumentos econômicos são importantes para a reafirmação da potência da festa, mas destaca que o Carnaval é a maior manifestação cultural do Rio de Janeiro e é fundamental para a construção da identidade da cidade. No próprio documento em que a prefeitura traz os dados econômicos, há um registro de que 91,8% dos cariocas se consideram amantes do Carnaval ou são simpatizantes da manifestação cultural e 86,4% são fãs do desfile das escolas de samba.
"O Carnaval é a nossa maior identidade cultural, e a gente tem que se orgulhar disso. É aí que construímos grandes artistas, grandes nomes, grandes momentos da nossa cultura e da nossa arte", disse Antan.
E tem muita política no Carnaval
Movendo multidões, girando a roda da economia e forjando uma identidade cultural, é inevitável que Carnaval e política se misturem. Enquanto nos anos 1980 algumas escolas de samba — em especial Império Serrano, Caprichosos de Pilares, Unidos de Vila Isabel e São Clemente — se impunham e faziam críticas à ditadura militar, nos dias de hoje a crítica social se faz muito mais presente.
Da autointitulada
"subversiva" Beija-Flor de Nilópolis, que vai levar o
Grito dos Excluídos no Bicentenário da Independência para a Sapucaí neste ano —
"a revolução começa agora", diz o samba nilopolitano —, aos já históricos desfiles da Estação Primeira de Mangueira em 2019 falando sobre os heróis que não estão na história oficial e do Paraíso do Tuiuti em 2018 sobre o legado negativo deixado pela escravidão,
é evidente o aumento da presença de pautas sociais no Sambódromo da Marquês de Sapucaí nos anos mais recentes.
O pesquisador Guilherme Guaral, autor do
livro "Unidos da democracia — as escolas de samba do Rio de Janeiro e os enredos políticos da década de 1980", reforçou à Sputnik Brasil que
"a política faz parte da festa, faz parte da organização de uma escola de samba".
"Não tem como pensar o Carnaval só pela 'alienação', pelo aspecto mais lúdico, de só prazer e alegria, descontração, como se ele fosse alienante e alienado. Desde o surgimento das escolas de samba, a questão política está ali. Às vezes ela não era explicitamente colocada no enredo, mas estava na luta por espaço, na conquista de espaço, na busca de representatividade, na ação cultural, na cidadania. Então o que eu percebo é que desde a saída do desfile em si já há um ato de resistência política."
Guaral apontou que, no processo de redemocratização, as escolas de samba tiveram um papel importante de se tornarem porta-vozes de pautas e questões críticas de uma forma lúdica e com ampla capacidade de comunicação com o grande público. O especialista faz uma reverência em especial ao desfile de 1986 do Império Serrano, que trazia o enredo "Eu quero". No samba, versos como: "Quero que meu amanhã, meu amanhã seja um hoje bem melhor".
"Inicialmente eram pequenas pitadas, e isso, ao longo do tempo, foi sendo ampliado até explodir em, por exemplo, 'Quero votar diretamente para presidente' [Caprichosos de Pilares, 1985] e o engajamento maior no movimento das Diretas Já. Com todo o engajamento da própria população, uma mudança da imprensa também — começando a ser mais aberta à questão da redemocratização —, mais escolas entraram nessa pauta. E [os desfiles de] 1985, 1986 e 1987 foram um marco. Escola falando de FMI [Fundo Monetário Internacional], de problemas... E o Império Serrano em 1986 faz como se fosse uma espécie de carta de intenções. A constituinte que estava para ser iniciada, [e o desfile do Império estava] desejando educação, saúde, ecologia."
"De muitas coisas importantes as escolas de samba foram meio que porta-vozes. Talvez a gente trabalhasse de uma forma mais lúdica e lírica do que propriamente como um discurso político. Hoje eu percebo como tinha discurso político ali nas letras que a gente cantava e pulava, e talvez nem sempre entendia a intencionalidade que estava ali", completou.
Antan também comentou as mensagens políticas no Carnaval, tanto no Sambódromo quanto nas folias de rua, e afirmou que a festa, "sem dúvidas, é um retrato brasileiro, sobretudo".
"O Carnaval também é complexo e contraditório. É supostamente uma festa da libertação, uma festa em que as amarras sociais se tornariam mais fluidas, mas ao mesmo tempo essas amarras também estão sublinhadas naquela festa. Então, para mim, é sempre as duas coisas, e uma coisa não anula a outra. Mesmo que se contrapondo, estão ali", disse o integrante do Carnavalize.
A educadora Cristiana Tramonte, professora de educação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e pesquisadora do Carnaval catarinense, frisou que a festa, em qualquer parte do Brasil, é uma tradição e faz parte da identidade nacional.
"Nós já fomos considerados o país do Carnaval — o escritor Jorge Amado tem até um livro com esse título. Acho que faz parte da identidade nacional, com o futebol. Faz parte da cultura. E em Santa Catarina também. Ao contrário do que se poderia supor, em termos de ser um estado com uma configuração étnica bem específica em relação ao resto do Brasil, nós temos um Carnaval forte, significativo, que vem desde 1948, tendo sido interrompido pouquíssimas vezes. Sempre com muita luta pelo pessoal da escola de samba para que se mantivesse, mas vem desde 1948. É alguma coisa bastante significativa."