Europa corre risco de desindustrialização? Montadora alemã parece preferir instalar fábrica nos EUA
© AFP 2023 / JENS SCHLUETERUm funcionário da Volkswagen apresenta o novo logotipo da marca no novo modelo do carro elétrico Volkswagen ID 3 da montadora alemã no local de produção da Fábrica Transparente (Fabricante Glaeserne) em Dresden, leste da Alemanha, 1º de março de 2023
© AFP 2023 / JENS SCHLUETER
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A Volkswagen deixou claro que a empresa ainda está avaliando "locais adequados" para suas fábricas de baterias e que uma decisão final ainda não foi anunciada.
A montadora alemã Volkswagen está suspendendo os planos de construir uma fábrica de baterias no Leste Europeu e priorizando a construção de uma fábrica desse tipo na América do Norte, onde espera receber de € 9 bilhões a € 10 bilhões (cerca de R$ 49,2 bilhões a R$ 54,7 bilhões) em subsídios, afirmou um jornal do Reino Unido, citando fontes não identificadas.
As fontes afirmaram que a Volkswagen está "esperando" para ver qual vai ser a resposta da União Europeia (UE) à Lei de Redução da Inflação dos EUA antes de prosseguir com os planos de construir mais fábricas de baterias na Europa.
"Os planos na América do Norte avançaram mais rápido do que o esperado e ultrapassaram a tomada de decisões na Europa", argumentaram as fontes.
Um porta-voz da empresa, por sua vez, disse que a montadora "ainda está avaliando locais adequados" para suas "próximas fábricas de células no Leste Europeu e na América do Norte" e que "nenhuma decisão foi tomada ainda".
"Mantemos nosso plano de construir fábricas de células para cerca de 240 GWh na Europa até 2030, mas para isso precisamos das condições estruturais corretas. É por isso que esperamos para ver o que o chamado Green Deal [Acordo Verde] da UE trará", disse o porta-voz ao se referir ao acordo de 2020 do bloco que visa tornar a UE neutra em termos climáticos até 2050.
As declarações seguem o aviso do membro do conselho da Volkswagen, Thomas Schmall, na semana passada, de que a Europa corre o risco de perder "a corrida por bilhões de investimentos que serão decididos nos próximos meses e anos" para o que ele descreveu como as condições atraentes oferecidas pela Lei de Redução da Inflação dos EUA.
Em um desenvolvimento separado na semana passada (1º), o diretor financeiro da Volkswagen, Arno Antlitz, afirmou que "a Lei [de Redução de Inflação] nos dá um vento favorável em termos de velocidade e consequência, então temos a possibilidade de ampliar nossa presença global ainda mais rapidamente nos EUA com a lei".
Europa à beira da desindustrialização?
O anúncio da empresa foi precedido pelo aviso do presidente francês Emmanuel Macron de que a legislação norte-americana ameaça a Europa com a desindustrialização.
"A Europa está passando por um período difícil por causa da guerra [na Ucrânia] e também por causa das decisões comerciais tomadas por nossos colegas nos Estados Unidos. Se a Europa não responder, acelerar o 'esverdeamento' da economia dos EUA significará a desindustrialização da Europa", argumentou Macron, se referindo à operação militar especial russa na Ucrânia e as condições incompatíveis de concorrência entre Europa e EUA.
O presidente francês também pediu pelo que descreveu como "um despertar europeu" neste ponto.
Macron foi ecoado pelo chefe-executivo da desenvolvedora e fabricante sueca de baterias Northvolt, Peter Carlsson, que disse a um jornal do Reino Unido que a lei norte-americana "está mudando muito o ímpeto da Europa para os EUA" e que a mesma não estava afetando apenas as empresas europeias.
Segundo Carlsson, "há novos players asiáticos que estão realocando seus planos estratégicos e investimentos para a América do Norte". O mesmo tom foi dado pelo ministro da Economia alemão, Robert Habeck, que chamou o apoio dos EUA de "excessivo" e algo que está "aspirando investimentos da Europa".
A vice-diretora-geral do grupo pan-europeu de lobby BusinessEurope, Luisa Santos, declarou, ainda de acordo com a mídia, que a Lei de Redução de Inflação envia um "sinal perigoso" que pode encorajar outras jurisdições a tomarem medidas protecionistas.
Por sua vez, o presidente russo, Vladimir Putin, alertou que os atuais problemas econômicos da UE e a atitude hostil de Washington em relação a Bruxelas decorrem da fraqueza demonstrada pelos líderes do bloco.
"Hoje, o principal parceiro da UE, os EUA, está adotando políticas que levam diretamente à desindustrialização da Europa. Eles até tentam reclamar disso para seu senhor americano. Às vezes, mesmo com ressentimento, eles perguntam: 'Por que você está fazendo isso conosco?' Eu quero perguntar: 'O que você esperava? O que mais acontece com aqueles que permitem que pés sejam limpos em si?", observou Putin.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, criticou anteriormente os incentivos fiscais para consumidores que compram produtos norte-americanos, introduzidos pela legislação. Ela alertou que tais iniciativas podem "levar à concorrência desleal, fechar mercados e, assim, fragmentar cadeias de suprimentos críticas".
A Lei de Redução de Inflação dos EUA, que foi sancionada pelo presidente dos EUA, Joe Biden, em agosto de 2022, libera US$ 369 bilhões (cerca de R$ 1,9 trilhão) em créditos fiscais e subsídios para consumidores e empresas norte-americanos que fabricam produtos de tecnologia verde no país a partir de janeiro de 2023. Várias empresas da UE sinalizaram que estão prontas para investir nos EUA em vez da UE, com o aumento dos preços da energia na Europa sendo supostamente um fator crucial.
Os acontecimentos se desenrolam entre os temores da UE de que a lei possa desencadear uma corrida por subsídios entre os aliados transatlânticos em um momento em que eles procuram mostrar unidade diante do conflito ucraniano.