Cientistas alegam que as plantas 'gritam' em voz alta, nós apenas não escutamos (VÍDEO)
09:53 31.03.2023 (atualizado: 10:17 31.03.2023)
© Folhapress / Karime XavierTécnicas de jardinagem. Corte os galhos que cresceram demais com um alicate. O corte deve ser em diagonal para evitar que a superfície acumule água e apodreça, São Paulo, SP, 18 de fevereiro de 2016
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O pesquisador Roald Dahl pode ter descoberto algo realmente surpreendente, se você machucar uma planta, ela grita. Mas talvez não da forma que estamos pensando.
O grito das plantas é na verdade frequências ultrassônicas fora do alcance da audição humana que aumentam quando a planta fica estressada, é o que revela o novo estudo divulgado pela Science Alert.
"Mesmo em um campo silencioso, na verdade existem sons que não ouvimos, e esses sons carregam informações. Existem animais que podem ouvir esses sons, então existe a possibilidade de que esteja ocorrendo muita interação acústica", explica a bióloga da Universidade de Tel Aviv em Israel, Lilach Hadany, em seu estudo evolutivo.
De acordo com a pesquisadora, plantas interagem com insetos e outros animais o tempo todo, "e muitos desses organismos usam o som para comunicação, então seria muito abaixo do ideal para as plantas não usarem o som" a seu favor para possibilitar tais interações.
O estudo se apoiou justamente nesta premissa para compreender o que ocorre com esses organismos quando expostos ao estresse. Segundo as descobertas, eles passam por algumas mudanças bastante drásticas, uma das mais detectáveis (pelo menos para nós humanos) é a liberação de alguns aromas bastante poderosos. Eles também podem alterar sua cor e forma.
Essas mudanças podem sinalizar perigo para outras plantas próximas, que em resposta aumentam suas próprias defesas, ou ainda, podem acabar atraindo animais para lidar com as pragas que podem estar prejudicando a planta. Entretanto, no campo de sons, faltavam ainda estudos conclusivos.
Para descobrir a relação entre plantas e som, os cientistas registraram plantas de tomate e tabaco em várias condições. Primeiro, eles registraram plantas não estressadas, para obter uma linha de base. Em seguida, eles registraram plantas desidratadas e plantas que tiveram seus caules cortados. Essas gravações ocorreram primeiro em uma câmara acústica à prova de som e depois em um ambiente normal de estufa.
Em seguida, os pesquisadores treinaram um algoritmo de aprendizado de máquina para diferenciar entre o som produzido por plantas não estressadas, cortadas e desidratadas.
Os sons que as plantas emitem são como ruídos de estalo ou clique em uma frequência muito alta para os humanos entenderem, detectáveis em um raio de mais de um metro. Já as plantas não estressadas não fazem muito barulho em atividade de rotina.
Em contraste, as plantas estressadas são muito mais ruidosas, emitindo em média até cerca de 40 cliques por hora, dependendo da espécie. Plantas privadas de água têm um perfil sonoro perceptível. Elas começam a clicar mais antes mesmo de mostrar sinais visíveis de desidratação, aumentando à medida que a planta fica mais ressecada, antes de diminuir à medida que a planta murcha.
O algoritmo desenvolvido para o estudo foi capaz de distinguir entre esses sons, bem como a espécie de planta que os emitia — já que o estudo não se limitou apenas às plantas de tomate e tabaco, incluindo também as de trigo, milho, uva, cacto e henbit — e concluiu que a emissão desses sons era na verdade um comportamento compartilhado por várias espécies.
Apesar da conclusão do estudo, alguns pontos permanecem uma incógnita. Ainda não está claro como os sons estão sendo produzidos. Em pesquisas anteriores, descobriu-se que plantas desidratadas sofrem cavitação, um processo pelo qual bolhas de ar no caule se formam, se expandem e colapsam, como um estalar de dedos.
Apesar de ainda não compreendermos tudo ou sob que circunstâncias as plantas emitem sons, a hipótese mais apoiada é que esses organismos podem ter aprendido a responder a estímulos sonoros ao longo de sua existência, como um recurso adaptativo. Para compreender melhor essa interação, a equipe conseguiu desenvolver um algoritmo capaz de reconhecer e distinguir os sons das plantas, um recurso que pode ter sido desenvolvido até mesmo por outros organismos.
"Por exemplo, uma mariposa que pretende colocar ovos em uma planta ou um animal que pretende comer uma planta pode usar os sons para ajudar a orientar sua decisão", diz Hadany. Para nós, humanos, as implicações são bastante claras; poderíamos sintonizar os pedidos de socorro de plantas sedentas e regá-las antes que isso se tornasse um problema.
Mas se outras plantas estão ou não sentindo e respondendo ainda é um mistério. Mas se algumas estão emitindo som, talvez em uma tentativa de se comunicar de alguma forma, Hadany se pergunta "quem pode estar ouvindo?".