Silêncio sobre morte de Tatarsky é 'arma' para evitar que OTAN seja acusada, diz analista brasileiro
10:38 04.04.2023 (atualizado: 10:45 04.04.2023)
© Foto / SPUTNIKVladlen Tatarsky
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Especialista comenta sobre a diferença de tratamento dada pela mídia ocidental diante da morte violenta do famoso correspondente de guerra russo, e relembrou o caso de Daria Dugina no ano passado, o qual também não teve grande destaque nos jornais. Em sua visão, há um interesse maior por trás desse "silêncio".
Vladlen Tatarsky, o jornalista de Donetsk morto em atentado terrorista em São Petersburgo, vem sendo homenageado por russos dentro e fora da Federação nas últimas horas, havendo grande comoção pública em torno de seu nome.
No último domingo (2), uma bomba explodiu em um café na segunda maior cidade russa, matando Tatarsky e deixando 32 pessoas feridas. Ontem (3), o Comitê Nacional Antiterrorista informou que o ataque foi planejado por serviços ucranianos com o envolvimento de agentes da Fundação Anticorrupção (FBK, na sigla em russo, reconhecida como agência estrangeira na Rússia) de Aleksei Navalny.
© Sputnik / Aleksei DanichevUma mulher coloca flores perto do local de uma explosão em um café que matou o blogueiro militar Vladlen Tatarsky em São Petersburgo, Rússia. Pelo menos uma pessoa morreu e 32 ficaram feridas pela explosão de um artefato explosivo não identificado em um café em 2 de abril de 2023
Uma mulher coloca flores perto do local de uma explosão em um café que matou o blogueiro militar Vladlen Tatarsky em São Petersburgo, Rússia. Pelo menos uma pessoa morreu e 32 ficaram feridas pela explosão de um artefato explosivo não identificado em um café em 2 de abril de 2023
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Porém, mesmo com as informações e com o próprio ocorrido, que é gravíssimo, a mídia ocidental continua ignorando o caso, como se nada tivesse acontecido.
Para o politólogo Lucas Leiroz, há um motivo muito claro para o silêncio ocidental: levando em conta que os perpetradores do ato são sabotadores internos da Rússia ligadas ao governo ucraniano, certamente há também conexões com a inteligência ocidental em algum grau.
"Como Kiev é uma capital ocupada pela OTAN, sendo todas as atividades ucranianas previamente autorizadas e apoiadas pelos 'patrões' ocidentais [...] o silêncio se torna uma arma para evitar que suspeitas sejam levantadas nessa direção e oficiais da OTAN sejam acusados. Isso tende a mudar no futuro, já que certamente em algum momento as investigações chegarão aos verdadeiros culpados", afirmou Leiroz à Sputnik Brasil.
O especialista também relembrou o assassinato de Daria Dugina em agosto de 2022. Na época, "a mídia ocidental também permaneceu calada – exceto para difamar Daria", pontua.
Depois, quando as investigações russas já estavam avançadas, o The New York Times publicou um artigo mencionando uma fonte interna do governo americano alegando que Kiev havia sido responsável sozinha pelo ato, sem participação americana.
"Considerando que o governo ucraniano e a inteligência ocidental agem de forma totalmente integrada, é muito difícil que o atentado tenha ocorrido sem pelo menos 'autorização' da OTAN. O mais provável é que os agentes ocidentais tenham de alguma forma participado do ataque, mobilizando em seguida a mídia mainstream para 'apagar as evidências'. É possível que o mesmo ocorra no caso Tatarsky no futuro próximo", analisou.
Leiroz também sublinha que "obviamente, se o alvo fosse um jornalista ocidental ou correspondente de guerra para alguma agência mainstream, a reação seria outra".
"Haveria comoção pública induzida pelos veículos de mídia e o caso seria usado como ferramenta de legitimação para eventuais escaladas antirrussas. Mas isso felizmente nunca foi uma práxis russa. Ao contrário de Kiev, que deliberadamente mira alvos civis com sua artilharia e executa atentados contra jornalistas, Moscou tem mantido uma estratégia focada em alvos militares e de infraestrutura, se preocupando ao extremo em evitar baixas inocentes."
A opinião do especialista vai de encontro ao comunicado divulgado no próprio domingo (2) pela chancelaria russas. A porta-voz oficial do órgão, Maria Zakharova, disse que "jornalistas russos estão sob constantes ameaças de represálias do regime de Kiev e seus mentores [...] tudo isso está sendo silenciosamente ignorado por agências internacionais especializadas [...]".
A razão para Ucrânia continuar mantendo uma política aberta de ataques a civis, na visão de Leiroz, é que sua orientação política é frontalmente antirrussa.
"O inimigo do regime neonazista instaurado em 2014 não é o governo Putin ou o Estado russo, mas todo o 'mundo russo', incluindo etnia, cultura, religião e idioma. Isso explica a perseguição à Igreja Ortodoxa, a proibição da língua russa, o banimento da literatura e, claro, o genocídio étnico", explicou.
O politólogo acrescenta que "trazendo para o caso concreto, esse pensamento racista antirrusso 'justifica' que alvos sem relevância política e militar sejam atingidos, pelo simples fato de serem populares entre os russos, atuando como ícones patrióticos".