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Países devem se livrar do 'vampiro sugador' do sistema financeiro dos EUA, diz analista

© AP Photo / Jin LeePlaca de rua em Wall Street, nos Estados Unidos
Placa de rua em Wall Street, nos Estados Unidos - Sputnik Brasil, 1920, 05.04.2023
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Hegemonia do dólar está em franco declínio e EUA têm poucas armas para evitá-lo, disse analista canadense durante simpósio em Moscou. Ao se livrarem de "vampiro sugador" do mercado financeiro dos EUA, países não ocidentais terão seus produtos e moedas devidamente valorizados.
Nesta quarta-feira (5), especialistas russos e canadenses reunidos no clube de discussão Valdai debateram o declínio da hegemonia do dólar na economia mundial.
A nova configuração geopolítica trouxe o tema da desdolarização para o centro da agenda, sendo inclusive incluído na nova concepção de política externa russa.
De acordo com o chefe do Departamento de Cooperação Econômica do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Dmitry Birichevsky, a desdolarização veio para ficar e é fruto da perda de confiança no Ocidente.

"Eles congelam os ativos de diversos países e no nosso caso praticamente roubaram ativos avaliados em US$ 300 bilhões [cerca de R$ 1,5 trilhão]", disse Birichevsky à Sputnik Brasil. "Outros países entendem que hoje isso é feito contra a Rússia, mas amanhã pode ser feito com qualquer um deles."

De acordo com o jornal Financial Times, cerca de US$ 300 bilhões dos US$ 630 bilhões de reservas internacionais da Rússia foram detidos por EUA, União Europeia, Reino Unido e Canadá, após o agravamento do conflito ucraniano. Anteriormente, países como Venezuela e Irã já haviam sido alvo de confiscos semelhantes.
© Foto / Pavel CheremisinChefe do Departamento de Cooperação Econômica do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Dmitry Birichevsky, durante encontro do clube de discussão Valdai, em Moscou, Rússia, 5 de abril de 2023.
Chefe do Departamento de Cooperação Econômica do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Dmitry Birichevsky, durante encontro do clube de discussão Valdai, em Moscou, Rússia, 5 de abril de 2023.  - Sputnik Brasil, 1920, 05.04.2023
Chefe do Departamento de Cooperação Econômica do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Dmitry Birichevsky, durante encontro do clube de discussão Valdai, em Moscou, Rússia, 5 de abril de 2023.
Por isso, países do BRICS "discutem ativamente" a formação de sistemas de pagamentos alternativos ao liderado pelos EUA e diminuem a formação de reservas em dólares.
"O sistema financeiro forjado após a Segunda Guerra Mundial garantiu que o centro privilegiado fosse financiado às custas da maioria mundial", explicou o diplomata russo. "Para nós, isso é um sistema neocolonial."
Acordos como o firmado por Brasil e China para comercializar em moedas nacionais são um passo fundamental para superar a hegemonia do dólar. No entanto, analistas brasileiros temem uma possível retaliação de Washington para defender a sua moeda.
© Foto / Divulgação / Ricardo StuckertO vice-presidente da China, Wang Qishan, dá os cumprimentos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva após a posse. Brasília, Brasil, 1º de janeiro de 2023
O vice-presidente da China, Wang Qishan, dá os cumprimentos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva após a posse. Brasília, Brasil, 1º de janeiro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 05.04.2023
O vice-presidente da China, Wang Qishan, dá os cumprimentos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva após a posse. Brasília, Brasil, 1º de janeiro de 2023
"A posição da economia americana ainda é considerável [...] sua capacidade de chantagear e pressionar países terceiros ainda é grande", considerou Birichevsky. "Vemos como os norte-americanos conseguem resultados, por exemplo, na Assembleia Geral da ONU: através da chantagem e da intimidação que, infelizmente, muitos países ainda não têm condições de resistir."
Por outro lado, a capacidade dos EUA de reagir ao declínio do dólar é, atualmente, limitada, acredita a professora do Departamento de Estudos Políticos da Universidade de Manitoba do Canadá, Radhika Desai.
"Os EUA no passado foram de fato à guerra contra países que questionaram a hegemonia do dólar, como o Iraque e a Líbia", disse Desai à Sputnik Brasil. "Mas os Estados Unidos não ganharam essas guerras, o que abalou o apoio popular a esse tipo de medida."
Além disso, os EUA enfrentam problemas econômicos internos graves, como a crise bancária e o aumento recorde da desigualdade social doméstica.
© Foto / Pavel CheremisinProfessora do Departamento de Estudos Políticos da Universidade de Manitoba do Canadá, Radhika Desai, durante encontro do clube de discussão Valdai, em Moscou, Rússia, 5 de abril de 2023.
Professora do Departamento de Estudos Políticos da Universidade de Manitoba do Canadá, Radhika Desai, durante encontro do clube de discussão Valdai, em Moscou, Rússia, 5 de abril de 2023. - Sputnik Brasil, 1920, 05.04.2023
Professora do Departamento de Estudos Políticos da Universidade de Manitoba do Canadá, Radhika Desai, durante encontro do clube de discussão Valdai, em Moscou, Rússia, 5 de abril de 2023.
"A habilidade dos EUA de reagir a movimentos como o brasileiro está limitada. Eles com certeza gostariam [de reagir] e estão comprometidos com o sistema do dólar", considerou Desai. "Mas as contradições internas do sistema estão em ebulição dentro dos próprios EUA."
A especialista canadense acredita que o fim da hegemonia do dólar liberará o mundo do "vampiro sugador que é o sistema financeiro norte-americano" e será positivo para países não ocidentais, que sofrem com a desvalorização artificial de suas moedas e produtos.

"Uma das maiores vantagens de substituir esse sistema delirante com um mais são é que os produtos fabricados por países não ocidentais atingirão o valor que merecem. As moedas dos países não ocidentais são artificialmente desvalorizadas, por isso produtos russos, indianos e até chineses não recebem o valor que merecem", apontou Desai.

Nesta quarta-feira (5), especialistas russos e canadenses se reuniram no simpósio "A nova ordem econômica: é realmente possível acabar com o monopólio do dólar?", promovido pelo clube de discussão Valdai, em Moscou.
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