Enviado da China na França pode ser declarado persona non grata: Crimeia é 'historicamente russa'
© AFP 2023 / FREDERICK FLORINMembros do Parlamento Europeu participam de sessão de votação durante sessão plenária em Estrasburgo, leste da França, 14 de março de 2023
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Membros do Parlamento Europeu acusaram um diplomata chinês de violar o direito internacional e ameaçar a segurança dos parceiros europeus da França.
Cerca de 80 membros do Parlamento Europeu instaram a ministra das Relações Exteriores da França, Catherine Colonna, a declarar o embaixador chinês na França, Lu Shaye, uma persona non grata por suas observações sobre o status das ex-repúblicas soviéticas.
Em carta a Colonna publicada por um jornal francês nesta segunda-feira (24), os eurodeputados observaram que o diplomata chinês "declarou publicamente que as ex-repúblicas da União Soviética não têm status efetivo no âmbito do direito internacional".
Segundo os eurodeputados, Lu argumentou especificamente que não existe "nenhum acordo internacional para materializar" o status das ex-repúblicas soviéticas, observações que disseram "insultar a história, a cultura e a integridade dos países".
Os eurodeputados também argumentaram que os "comentários agressivos de Lu [...] violam claramente o direito internacional e devem ser vistos como uma ameaça à segurança dos parceiros europeus da França".
"Tais comentários vão muito além dos limites do discurso diplomático aceitável. Esta é a pior atividade do guerreiro lobo e não deve ficar sem resposta. [...] Pedimos que você declare o embaixador Lu Shaye persona non grata imediatamente como resposta ao seu comportamento completamente inaceitável", dizia a carta.
O documento vem depois que Lu comentou a situação da Crimeia em entrevista a uma rede de notícias francesa na semana passada.
O embaixador chinês afirmou que "mesmo esses países da ex-União Soviética não têm status efetivo, como dizemos, sob o direito internacional porque não há acordo internacional para concretizar seu status de país soberano".
Sobre a Crimeia, Lu lembrou que a península inicialmente fazia parte da Rússia e que foi o líder soviético Nikita Khrushchev quem decidiu transferi-la para a então República Socialista Soviética da Ucrânia, em 1954. A Crimeia voltou a se unir à Rússia em março de 2014 após um referendo em que mais de 96% dos eleitores da península disseram "sim" à reunificação.
O Ministério das Relações Exteriores da China reagiu afirmando que Pequim "respeita a soberania de todas as repúblicas que anteriormente faziam parte da União Soviética".
Enquanto isso, uma agência de notícias dos EUA informou que, ao fazer comentários sobre a Crimeia e o status das ex-repúblicas soviéticas, Lu jogou água fria nos planos do presidente francês, Emmanuel Macron, de levar Pequim a cooperar com Kiev.
"Os comentários de Lu na sexta-feira [21] minaram a pressão de Macron para usar as negociações entre seu conselheiro de política externa Emmanuel Bonne e o principal diplomata da China, Wang Yi, para estabelecer uma estrutura que poderia ser usada como base para futuras negociações entre a Ucrânia e a Rússia", apontou o meio de comunicação.
Isso ocorreu após o presidente francês dizer que vê um papel importante para a China e que, graças ao seu relacionamento com a Rússia, poderia "trazer Moscou de volta à razão", uma aparente referência a possíveis negociações de paz entre a Rússia e a Ucrânia. Enquanto o presidente ucraniano, Vladimir Zelensky, emitiu um decreto para proibir Kiev de se reunir com Moscou, o Kremlin sinalizou repetidamente que está pronto para negociações.