Brasil deve exigir contrapartidas para EUA realizarem exercícios na Amazônia, diz analista militar
03:56 02.05.2023 (atualizado: 13:47 02.05.2023)
© Divulgação Exército BrasileiroExército Brasileiro em patrulhamento na floresta (foto de arquivo)
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O novo chefe do Comando Militar do Norte (CMN) anunciou exercícios militares com os EUA na Amazônia. Para o analista militar e oficial da reserva da Marinha do Brasil, comandante Robinson Farinazzo, as relações militares com os EUA não favorecem o Brasil, que deveria exigir contrapartidas de seu vizinho do norte.
O novo comandante do Exército para a região norte do Brasil quer priorizar a realização de exercícios militares com os EUA na região da Amazônia, gerando polêmica entre especialistas do setor de defesa.
Durante seu discurso de posse, no 2º Batalhão de Infantaria da Selva (2º BIS), na cidade de Belém, o general Luciano Guilherme Cabral Pinheiro destacou que um dos principais projetos da nova gestão será a Operação CORE 23, realizada com o Exército dos Estados Unidos, reportou o portal Toca News.
"Essa operação é uma das que vão ocorrer. Será o coroamento do nosso ano de instrução. É a primeira vez que será realizado na região amazônica", declarou o general Cabral Pinheiro.
Ao assumir o Comando Militar do Norte (CMN), Cabral Pinheiro comandará as tropas do Exército nos estados do Amapá, Maranhão, Pará e parte do Tocantins, em área correspondente a 20% do território brasileiro.
De acordo com o especialista militar e oficial da reserva da Marinha do Brasil, comandante Robinson Farinazzo, o Brasil deveria exigir contrapartidas dos EUA por garantir o treinamento de militares americanos em ambiente de selva.
© Foto / Vincent LevelevEquipe de Combate da 3ª Brigada e paraquedistas da 82ª Divisão Aerotransportada dos EUA e soldados brasileiros planejam estratégia operacional durante exercícios conjuntos em Fort Polk, EUA, 6 de fevereiro de 2021
Equipe de Combate da 3ª Brigada e paraquedistas da 82ª Divisão Aerotransportada dos EUA e soldados brasileiros planejam estratégia operacional durante exercícios conjuntos em Fort Polk, EUA, 6 de fevereiro de 2021
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"O Brasil deve exigir contrapartidas porque os EUA têm poucas oportunidades para se adestrar em ambiente de selva como o nosso", disse Farinazzo à Sputnik Brasil. "As relações bilaterais militares precisam ter o mínimo de reciprocidade."
Segundo ele, "as autoridades brasileiras deveriam explicar por que o país permite que os EUA realizem exercícios no nosso território sem pedir nada em troca."
"Tivemos recentemente voos de espionagem realizados pelos EUA com aeronaves Boeing WC-135R [...] sobrevoando o nosso litoral por duas vezes. Que aliado militar é esse que nos espiona?", questionou Farinazzo.
© Foto / Força Aérea dos EUABoeing WC-135 Constant Phoenix da Força Aérea dos EUA
Boeing WC-135 Constant Phoenix da Força Aérea dos EUA
© Foto / Força Aérea dos EUA
Este tipo de atitude pode ser classificado como hostil, o que deveria exigir "no mínimo uma nota de protesto por parte do Itamaraty", considerou o comandante.
Além disso, o senador norte-americano Ted Cruz, potencial candidato à presidência pelo Partido Republicano dos EUA, ameaçou a imposição de sanções econômicas contra o Brasil, em retaliação à autorização dada a um navio iraniano para atracar no Rio de Janeiro.
"Precisamos também ficar atentos ao artigo publicado pelo ex-comandante militar da OTAN, almirante James Stavridis, que descreveu o Brasil como uma ameaça à segurança climática dos EUA", alertou Farinazzo.
O comandante questionou a inação do Itamaraty perante este tipo de declarações, que "relativizam a soberania nacional".
"Não temos um relacionamento de igualdade [com os EUA]. Temos ameaças chegando de lá", declarou Farinazzo. "Vamos fazer exercícios militares com um país que tem atitudes hostis como essa contra nós?"
© Foto / Roberto CaiafaCoronel Jason Curl, comandante do Grupo do Centro de Operações em Fort Polk, repassa ordens de operação com o então ministro da Defesa do Brasil, Fernando Azevedo e Silva, em Fort Polk, EUA, 1º de fevereiro de 2021
Coronel Jason Curl, comandante do Grupo do Centro de Operações em Fort Polk, repassa ordens de operação com o então ministro da Defesa do Brasil, Fernando Azevedo e Silva, em Fort Polk, EUA, 1º de fevereiro de 2021
© Foto / Roberto Caiafa
Segundo ele, as relações militares entre Brasil e EUA poderiam ser equilibradas, caso o Brasil solicitasse contrapartidas materiais de seu vizinho do norte.
"Os EUA não compram equipamentos militares brasileiros, como os aviões Super Tucano da Embraer", notou Farinazzo. "Poderíamos também solicitar a transferência de tecnologias militares, como a transferência de tecnologia do submarino nuclear à Austrália."
Outra contrapartida de interesse do Brasil seria a compra de sistemas de foguetes Astros, produzidos pela empresa brasileira do setor de defesa Avibrás, cujos funcionários não recebem salário há seis meses, sugeriu o comandante.
© Foto / Sindicato dos Metalúrgicos Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e região faz campanha pela estatização da empresa de defesa Avibrás, atualmente em recuperação judicial.
Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e região faz campanha pela estatização da empresa de defesa Avibrás, atualmente em recuperação judicial.
© Foto / Sindicato dos Metalúrgicos
"Precisamos abandonar a política do espelhinho. Temos que pedir contrapartidas, como diversos países fazem. Isso faz parte das relações entre os países e o Brasil precisa de muitas coisas na área militar", concluiu Farinazzo.
No dia 24 de abril, o general Luciano Guilherme Cabral Pinheiro tomou posse do Comando Militar do Norte (CMN) do Exército Brasileiro, em cerimônia realizada na cidade de Belém. Durante seu discurso de posse, o general revelou a iminente realização de exercícios militares conjuntos com os EUA em território amazônico.