Construção do mundo multipolar será turbulenta e Brasil deve se preparar para isso, diz analista
09:33 15.06.2023 (atualizado: 13:48 15.06.2023)
© AP Photo / Ministério da Defesa da Coreia do SulLançamento do míssil balístico de curto alcance sul-coreano Hyunmoo II durante as manobras conjuntas dos EUA e Coreia do Sul
© AP Photo / Ministério da Defesa da Coreia do Sul
Nos siga no
Especiais
Novos dados revelam um aumento no investimento mundial em armas nucleares. Para uma especialista ouvida pela Sputnik Brasil, o aumento das tensões na Ásia leva ao aumento do arsenal da China e o Brasil precisará se preparar para um cenário inseguro.
Nesta semana, o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês) revelou um aumento no investimento dos países nucleares em seus arsenais.
Os nove países nucleares considerados pelo SIPRI – EUA, Rússia, China, França, Reino Unido, Índia, Paquistão, Israel e Coreia do Norte – mantêm planos de modernização ou expansão de seus arsenais, que devem levar ao incremento no número de armas nucleares operacionalmente ativas na próxima década.
De acordo com os dados, EUA e Rússia seguem na posse de 90% das cerca de 12.512 ogivas nucleares existentes no mundo. Destas, cerca de duas mil se encontram em estado de alerta operacional elevado, isto é, instaladas em mísseis ou mantidas em bases aéreas que mantêm bombardeiros nucleares.
© AP Photo / Charlie RiedelImagem de ogiva nuclear norte-americana instalada no interior do estado de Dakota do Norte
Imagem de ogiva nuclear norte-americana instalada no interior do estado de Dakota do Norte
© AP Photo / Charlie Riedel
Apesar das tensões causadas pelo conflito ucraniano, Rússia e EUA mantiveram seus arsenais praticamente estáveis. No entanto, a China elevou seu arsenal de 350 ogivas em janeiro de 2022 para 410 no mesmo mês de 2023.
Para a vice-coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da UFSC Graciela De Conti Pagliari, a situação geopolítica da China encontra-se bastante tensionada atualmente, o que requer análise cuidadosa do aumento dos arsenais nucleares chineses.
"A vizinhança chinesa conta com Índia, Paquistão e Coreia do Norte com capacidade nuclear e o Japão reforçando suas capacidades de defesa", disse à Sputnik Brasil. "Temos a iniciativa Quad, que é outro elemento que visa pressionar a China em sua região."
O Diálogo de Segurança Quadrilateral, conhecido como Quad, consiste em um grupo de troca de informações de inteligência e militares entre EUA, Japão, Austrália e Índia.
© AP Photo / Andy WongVeículos blindados do Exército de Libertação Popular da China (ELP)
Veículos blindados do Exército de Libertação Popular da China (ELP)
© AP Photo / Andy Wong
Além disso, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) avalia a possibilidade de abrir um escritório na capital japonesa, Tóquio, para coordenar operações com aliados asiáticos, como Nova Zelândia, Coreia do Sul, Japão e Austrália, conforme relatou a Reuters nesta terça-feira (13).
"Com o sistema internacional multipolar em curso, precisa-se olhar para o entorno chinês e sua balança bastante importante para a geopolítica asiática", declarou Pagliari.
O aumento da percepção de insegurança não se restringe à China ou às tensões na região asiática. O SIPRI destacou o plano de modernização de arsenais nucleares de baseamento marítimo anunciado pela França. Já o Reino Unido não só anunciou que elevará o seu número de ogivas de 225 para 260, mas também que deixará de divulgar informações sobre seus níveis de operacionalidade.
"Se olharmos os dados gerais, os gastos militares aumentaram em praticamente todas as regiões do mundo", notou Pagliari. "A Europa, por exemplo, está desenvolvendo um incremento nos gastos que tem levado os especialistas a apontarem para uma corrida armamentista."
© AP Photo / Gonzalo FuentesO presidente francês Emmanuel Macron, à direita, e o primeiro-ministro britânico Rishi Sunak realizam uma coletiva de imprensa conjunta como parte da cúpula franco-britânica no Palácio do Élysée, em Paris, na sexta-feira, 10 de março de 2023.
O presidente francês Emmanuel Macron, à direita, e o primeiro-ministro britânico Rishi Sunak realizam uma coletiva de imprensa conjunta como parte da cúpula franco-britânica no Palácio do Élysée, em Paris, na sexta-feira, 10 de março de 2023.
© AP Photo / Gonzalo Fuentes
Segundo ela, "os montantes são equivalentes ao período crítico do final da Guerra Fria, portanto, a leitura dos países é de que o mundo está e continuará inseguro".
Posição do Brasil
O aumento dos investimentos em arsenais nucleares mundiais vai na contramão da aposta brasileira no desarmamento internacional.
"O Brasil é signatário do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares e sua postura como potência regional deve seguir no fortalecimento dos acordos e tratados internacionais", acredita Pagliari. "A América Latina está entre as regiões com os menores gastos militares do mundo, além de ser uma zona livre da fabricação e circulação de armamentos nucleares."
© Foto / Divulgação / Marinha do BrasilSubmarino Riachuelo, o primeiro do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), que prevê a produção de cinco navios do tipo, entre eles o primeiro submarino brasileiro convencionalmente armado com propulsão nuclear
Submarino Riachuelo, o primeiro do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), que prevê a produção de cinco navios do tipo, entre eles o primeiro submarino brasileiro convencionalmente armado com propulsão nuclear
© Foto / Divulgação / Marinha do Brasil
Nesse sentido, o país deve se preparar para enfrentar o "cenário bastante conturbado em que a segurança internacional se encontra atualmente".
"O Brasil precisa estar atento às possibilidades de cooperação sem perder de vista que a construção do sistema internacional multipolar vai gerar instabilidades e tensões geopolíticas", concluiu a especialista.
No dia 11 de junho, o IInstituto Internacional de Estocolmo para a Pesquisa sobre a Paz (SIPRI), publicou seu novo relatório anual sobre a conjuntura internacional nas áreas de armamentos, desarmamento e segurança. De acordo com os dados estimados, a Rússia mantém o maior inventário total nuclear do mundo, com 5.889 ogivas, seguida pelos EUA, com 5.244, China, França Reino Unido, Paquistão, Índia, Israel e Coreia do Norte.