Que legado deixou Berlusconi à Itália e quem herdará seu papel na política do país?
© AP Photo / Luca BrunoO ex-primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi.
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A saída da política italiana de Silvio Berlusconi, fundador e líder permanente do partido Força Itália e ex-primeiro-ministro, que morreu na segunda-feira (12) aos 86 anos, levanta questões sobre seu legado político diversificado, disse à Sputnik Tiberio Graziani, presidente do instituto de análise global Vision & Global Trends.
"Com a morte de Berlusconi, novos cenários se abrem na vida política italiana. Podemos dizer, com razão, que sua morte também marcou o fim da Segunda República, da qual ele foi o protagonista indiscutível nos últimos trinta anos", enfatizou o cientista político italiano.
Que papel o partido Força Itália desempenhará agora, se é que ele continuará sendo um ator ativo no cenário político? De acordo com Graziani, essa é a pergunta que muitos italianos estão fazendo hoje.
"O fato é que o Força Itália é um partido personalista. Sem o carismático Berlusconi, ele corre o risco de desaparecer em questão de meses. Não há realmente nenhum político no horizonte que tenha as qualidades pessoais de Cavaliere [o Cavaleiro – Berlusconi] e que possa substituí-lo", disse Graziani.
O analista político considera que um dos principais problemas da situação atual é o futuro equilíbrio de poder na atual coalizão governamental, que, além do partido de Berlusconi, inclui o Irmãos de Itália da primeira-ministra Giorgia Meloni e a Liga Norte do vice-primeiro-ministro Matteo Salvini.
"O Força Itália precisa encontrar no curto prazo um líder forte capaz de competir com Meloni e Salvini e adquirir uma nova estratégia. Caso contrário, é muito provável que [o partido] tenha que tolerar as iniciativas de seus parceiros, os quais, de qualquer maneira, fortalecerão sua posição na coalizão governista", destacou.
De acordo com o especialista, a coalizão de centro-direita na Itália pode agora se transformar rapidamente em uma coalizão com clara predominância da influência da direita.
"Vale lembrar que o Força Itália sempre desempenhou o papel de um partido centrista, pró-europeu e liberal em todas as coalizões governamentais e de oposição. Agora, esse legado provavelmente será dividido entre os partidos moderados de direita e as alianças centristas, chamadas na Itália de 'Terceiro Polo'", observou Graziani.
"Mas há outro legado que Berlusconi deixa para trás. Esse legado está em suas políticas, que em alguns aspectos eram antissistema, populistas e personalistas, destinadas a abalar a ordem estabelecida. Essas são as mesmas políticas que, por um lado, permitiram que ele contribuísse para o fortalecimento do sistema bipolar da Segunda República e, por outro, permitiram que ele assumisse repetidamente posições dissonantes na política externa com o restante dos parceiros europeus. Quem ficará com essa parte do legado de Berlusconi? Essa pergunta ainda é difícil de responder", concluiu.