Jogada arriscada: a que vai levar a redução da produção de petróleo saudita?
© AP Photo / Amr NabilHomem caminha próximo das bandeiras da Arábia Saudita e dos EUA
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A Arábia Saudita decidiu reduzir a produção de petróleo ao mínimo, em uma década, para aumentar os preços. Essa decisão acabou sendo inesperada e polêmica: a participação dos sauditas nos principais mercados já está diminuindo, passando para as mãos de seus concorrentes, principalmente a Rússia.
Na reunião da OPEP+ (Organização dos Países Exportadores de Petróleo e associados) em junho, a Arábia Saudita, maior exportadora de petróleo, anunciou que em julho vai cortar voluntariamente sua produção em 10% de uma só vez, até 9 milhões de barris por dia (bpd). Isso é 1,5 milhão a menos do que no início de 2023 e, em geral, o mínimo para uma década. O restante do cartel apenas estendeu as restrições anteriores até o final de 2024.
No momento, é apenas julho, mas uma extensão é muito provável. Nesse sentido, o ministro da Energia, príncipe Abdulaziz bin Salman Saud, explicou que "fará tudo o que estiver ao seu alcance para que o mercado recupere a estabilidade".
Os países da OPEP+ produzem 40% do petróleo do mundo. "No entanto, os dois maiores aliados da organização não estão agindo em uníssono desta vez. Moscou não vai cortar nada", disse a Bloomberg. A Rússia, por sua vez, parece estar satisfeita com os preços atuais.
Perspectiva deficitária
O mercado de ações recebeu a notícia positivamente e o petróleo brent subiu mais de 3%, para US$ 78,6 (R$ 368,73) o barril. No entanto, no dia seguinte, caiu para US$ 74,7 (R$ 359,58). Segundo analistas, o efeito real vai se manifestar quando começar o corte real anunciado pelos sauditas.
"Esta é a segunda rodada de cortes de oferta da OPEP+ em 2023, refletindo a fraqueza da economia mundial: os países desenvolvidos estão em recessão, a China não está se recuperando tão rapidamente quanto o esperado. Os estímulos que estão sendo falados em Pequim podem aumentar a demanda pela matéria-prima, mas com uma defasagem de seis meses", disse o diretor-geral de Investimentos da gestora russa Promsvyaz, Andrei Rusetsky.
Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), o mercado pode sofrer um déficit de cerca de 1,5 milhão de bpd nos próximos seis meses. Isso vai aumentar os preços. No entanto, outras previsões indicam que a decisão dos sauditas só vai evitar que os preços caiam ainda mais.
"Enquanto não houver uma tendência clara no mercado de ações, tudo estará à mercê dos especuladores. Rumores de que Washington e Teerã estariam chegando a um acordo para suspender as restrições às exportações iranianas foram suficientes para derrubar os preços instantaneamente, compensando todo o crescimento", enfatizou o especialista em mercados financeiros internacionais, Georgy Svirin.
Assim, a decisão de Riad parece controversa. Por um lado, é importante para os sauditas manter o petróleo acima de US$ 80 (R$ 385,09) o barril. Eles precisam de dinheiro para mega-projetos, em particular a construção da "cidade do futuro" Neom, avaliada em cerca de US$ 1 trilhão (aproximadamente R$ 4,8 trilhões). Por outro lado, contratar apenas a produção é bastante arriscado. Riad já está perdendo participação em mercados-chave — China e Índia — para a Rússia e os Emirados Árabes Unidos, que podem vender petróleo mais barato.
"Moscou está competindo cada vez mais com os aliados do Oriente Médio da OPEP+ na Ásia, virando as costas para a Europa", afirmou artigo do Wall Street Journal.
As tentativas de aumentar o preço de sua principal exportação provavelmente vão exigir que Riad sacrifique ainda mais sua participação no mercado.
Pode ser um erro de cálculo?
A estatal Saudi Aramco elevou os preços de venda para julho, embora muitos analistas e traders acreditem que a gigante do petróleo deveria ter baixado os preços para competir com a Rússia e os Emirados Árabes Unidos. Além disso, o aumento de preços ainda não compensa a perda de receita com os cortes na produção.
Enquanto Moscou tem bons descontos, Riad teve que se afastar um pouco da Ásia. Por exemplo, de acordo com a Refinitiv Oil Research, a China comprou 2,03 milhões de bpd de petróleo bruto russo em janeiro e 1,77 milhão de petróleo saudita.
As medidas atuais e o desejo de vender a um preço mais alto podem sair pela culatra para os sauditas, já que a Ásia pode fazer a aposta final nos hidrocarbonetos russos.