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Protecionismo da UE travestido de ambientalismo não interessa ao Brasil, diz analista

© AFP 2023 / Ludovic Marin Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente da França, Emmanuel Macron, após reunião no Palácio do Eliseu, em Paris, 23 de junho de 2023.
Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente da França, Emmanuel Macron, após reunião no Palácio do Eliseu, em Paris, 23 de junho de 2023. - Sputnik Brasil, 1920, 23.06.2023
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Presidente Lula classificou as exigências ambientais europeias à assinatura do acordo com Mercosul de "agressão". A Sputnik Brasil conversou com especialista para saber quais exigências são essas e se o acordo com os europeus é, de fato, neocolonial.
Nesta sexta-feira (23), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que a União Europeia (UE) ameaça o Brasil com suas exigências para a ratificação do acordo comercial com o Mercosul.
As declarações foram realizadas ao lado do presidente francês, Emmanuel Macron, durante a Cúpula sobre Novo Pacto de Financiamento Global em Paris.
"Eu estou doido para fazer um acordo com a União Europeia. Mas não é possível, a carta adicional que foi feita pela União Europeia não permite que se faça um acordo. Nós vamos fazer a resposta, e vamos mandar a resposta, mas é preciso que a gente comece a discutir. Não é possível que nós temos uma parceira estratégica, e haja uma carta adicional que faça ameaça a um parceiro estratégico", afirmou o presidente.
Durante sua fala, o presidente faz referência ao documento apresentado pela UE aos países do Mercosul no início do ano, no qual o bloco europeu faz exigências ambientais que extrapolam os acordos internacionais em vigor.
© AP Photo / Lewis JolyO presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a sessão de encerramento da cúpula do Novo Pacto Financeiro Global, 23 de junho de 2023, em Paris
O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a sessão de encerramento da cúpula do Novo Pacto Financeiro Global, 23 de junho de 2023, em Paris - Sputnik Brasil, 1920, 23.06.2023
O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a sessão de encerramento da cúpula do Novo Pacto Financeiro Global, 23 de junho de 2023, em Paris
Para o professor de relações internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), Vinícius Rodrigues Vieira, a indignação de Lula com o conteúdo da carta europeia é justificada.
"O Lula avaliou a carta da UE de maneira dura porque nela estão contidos mecanismos protecionistas travestidos de preocupação ambiental", disse Vieira à Sputnik Brasil. "O presidente tem uma alguma razão ao dizer que o acordo é neocolonial, já que não coloca os dois lados em nível parelho."
Segundo ele, o governo Lula estaria aberto a negociar condicionalidades ambientais para selar o acordo com os europeus, "mas os termos de agora são tão duros que permitem a aplicação de sanções econômicas contra o Brasil [...] no futuro".
© AP Photo / Andre PennerTrabalhadores conduzem tratores dentro de campo de soja em Mato Grosso, em 27 de março de 2022
Trabalhadores conduzem tratores dentro de campo de soja em Mato Grosso, em 27 de março de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 23.06.2023
Trabalhadores conduzem tratores dentro de campo de soja em Mato Grosso, em 27 de março de 2022
"Lula já deixou muito clara a sua posição em relação às sanções: o Brasil não aceita sanções que não sejam multilaterais, então colocar-se à mercê da UE, que, por razões protecionistas atendem aos interesses de lobbies internos [....] seria ir contra os princípios da política externa brasileira e contra os nossos interesses", considerou Vieira.
A carta europeia foi reforçada por decisão do Parlamento francês, que aprovou resolução contra a ratificação do acordo com o Mercosul, no dia 13 de junho. Ainda que não tenha poder de lei, a resolução dificulta o objetivo de Lula de encerrar as negociações do acordo ainda este ano.
Para o professor da FAAP, "faz parte do processo negociador puxar as posições para níveis extremos, a fim de conduzir uma barganha".
"Mas vejo a França e o Macron em um beco sem saída. Macron já queimou muito capital político aprovando a reforma da Previdência goela abaixo dos franceses ", considerou Vieira. "Agora ele tem pouca margem de manobra para atuar em outros temas polêmicos, como a liberalização do mercado agrícola [para o Mercosul]."
As limitações de Macron impedem que objetivos ambiciosos possam ser atingidos durante a visita da Lula à França. Por outro lado, a "diplomacia francesa tem interesse em manter o Brasil em sua órbita" e, por isso, faz exercícios de boa vontade durante a recepção do presidente brasileiro em Paris.
© AFP 2023 / Anna KurthPresidente Luiz Inácio Lula da Silva discursa durante o concerto 'Cidadão Global', em Paris, França, 22 de junho de 2023
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursa durante o concerto 'Cidadão Global', em Paris, França, 22 de junho de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 23.06.2023
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursa durante o concerto 'Cidadão Global', em Paris, França, 22 de junho de 2023
"A viagem se insere no contexto de reinserir o Brasil na agenda internacional, em particular nos debates ambientais, e de atender o interesse pessoal de Lula de ampliar a sua projeção", concluiu Vieira.
O empenho de Lula na agenda externa foi demonstrado pela decisão do presidente de estender sua estadia na França para incluir novos encontros bilaterais em sua agenda. Nesta sexta-feira (23), o presidente se reunirá com o presidente da República do Congo, Denis Sassou-Nguesso, e jantará com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman.
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