Compra de Rafale-M pela Índia sinaliza divisão entre França e aliados da OTAN?

© AP Photo / Exército da FrançaCaças franceses Rafale voam rumo à Síria em setembro de 2015
Caças franceses Rafale voam rumo à Síria em setembro de 2015 - Sputnik Brasil, 1920, 10.07.2023
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A França ainda está se recuperando dos efeitos posteriores da decisão da Austrália de rescindir um contrato multibilionário para seus submarinos depois que Camberra se juntou à aliança AUKUS no ano passado.
A decisão relatada de Nova Deli de adquirir 26 caças Rafale-M para o porta-aviões INS Vikrant vai levar a uma melhor integração entre sua Marinha e a Força Aérea, disse um veterano militar.
Os comentários do comodoro Anil Jai Singh, um especialista em submarinos que passou quase três décadas na força de águas azuis da Índia, vêm dias antes da visita do primeiro-ministro indiano Narendra Modi a Paris, onde ele deve finalizar o acordo com o presidente francês Emmanuel Macron.

Modi vai visitar a França no Dia da Bastilha

O líder indiano vai visitar a França por dois dias em 13 e 14 de julho, quando supostamente deve assinar dois contratos de defesa megabilionários — um para o Rafale-M e outro para três submarinos convencionais diesel-elétricos.
Para a Índia, os dois contratos são vitais para aprimorar seu aparato de segurança na região do oceano Índico, especialmente em um momento em que os concorrentes vêm expandindo suas capacidades marítimas em ritmo acelerado.
O presidente Joe Biden, ao centro, fala enquanto o primeiro-ministro australiano Anthony Albanese, à esquerda, e o primeiro-ministro britânico Rishi Sunak escutam na base naval de Point Loma, em San Diego, 13 de março de 2023, ao revelarem o AUKUS, um pacto trilateral de segurança entre Austrália, Reino Unido e Estados Unidos. - Sputnik Brasil, 1920, 28.06.2023
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França ainda se recupera de briga submarina

Em setembro de 2022, a Austrália renunciou a um contrato para adquirir 12 novos submarinos diesel-elétricos da França, no que supostamente foi um negócio no valor de US$ 66 bilhões (cerca de R$ 322,4 bilhões).
Posteriormente, Camberra anunciou formalmente a formação de uma parceria de segurança trilateral chamada AUKUS, com Reino Unido e Estados Unidos, e optou por adquirir submarinos movidos a energia nuclear de seus dois parceiros estratégicos.
A França classificou o desenvolvimento como uma traição de seus aliados do Atlântico Norte.
"O cancelamento do programa de submarinos da classe Attack, que vincula a Austrália e a França desde 2016, e o anúncio de uma nova parceria com os Estados Unidos – destinada a lançar estudos sobre uma possível cooperação futura em submarinos movidos a energia nuclear — constituem um comportamento inaceitável entre aliados e parceiros, cujas consequências afetam diretamente a visão que temos de nossas alianças, de nossas parcerias e da importância do Indo-Pacífico para a Europa", disse o chanceler francês, Jean-Yves Le Drian, em comunicado na época.
Nesse contexto, a aquisição da Índia de um caça naval e submarino da França poderia intensificar ainda mais a brecha existente entre Paris e seus parceiros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), já que Washington tem tentado atrair Nova Deli para seu campo e ofereceu uma ampla gama de transferências de tecnologia para fabricar localmente muitos sistemas de armas críticos, incluindo motores a jato de combate.
Diante desse cenário, Singh, que atua como vice-presidente do think tank naval baseado em Nova Deli, Indian Maritime Foundation, afirmou que a competição era entre o Rafale-M e os caças F-18 Hornet dos EUA.
Segundo ele, enquanto os dois aviões de guerra passaram nos testes realizados na Índia, foi uma questão de a Marinha decidir qual é a melhor aeronave para seus requisitos.
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Por que a Índia escolheu o Rafale em vez do F-18 dos EUA?

O oficial reformado da Marinha indiana explicou que, quando se escolhe uma aeronave, não se trata necessariamente de qual é o melhor caça a jato: na verdade, não existe a melhor aeronave ou a segunda melhor aeronave. Pelo contrário, trata-se da aeronave mais adequada às exigências da Marinha indiana.
"Já temos o Rafale com a Força Aérea indiana [IAF, na sigla em inglês]. Portanto, muitos problemas serão resolvidos. Será mais barato porque a cadeia de suprimentos já está lá e o ecossistema de logística e manutenção também está lá", disse Singh à Sputnik nesta segunda-feira (10).
Ele enfatizou que, dessa forma, a Marinha vai poder compartilhar todos esses recursos com a IAF e vice-versa e que desta forma vai ser mais fácil manter a aeronave.
"Se a Índia tivesse escolhido uma aeronave completamente diferente, a necessidade de estabelecer toda uma cadeia de suprimentos, incluindo instalações de reparo, teria surgido", observou Singh, que passou 28 anos como especialista em submarinos.
Ele enfatizou que o pedido era apenas para 26 aeronaves que não eram muitas e eram necessárias para atender aos requisitos até que a Organização de Pesquisa e Desenvolvimento de Defesa da Índia desenvolvesse o caça baseado em plataforma de dois motores (TEDBF, na sigla em inglês).
O TEDBF é um jato de combate marítimo em desenvolvimento para a Marinha indiana, que deve se tornar a parte essencial de todos os futuros porta-aviões da Índia.
"Até que o TEDBF esteja pronto, a Marinha indiana precisava de algumas aeronaves porque não pode funcionar com dois porta-aviões com apenas um punhado de MiG-29s", apontou Singh.
"É por isso que acho que a Marinha tomou uma decisão muito ponderada depois de analisar os prós e os contras e examinar qual a aeronave que escolheu, que neste caso é o Rafale-M", concluiu.
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