https://noticiabrasil.net.br/20230801/a-russia-vencera-a-visao-de-john-mearsheimer-sobre-o-futuro-do-conflito-na-ucrania--29774068.html
'A Rússia vencerá': a visão de John Mearsheimer sobre o futuro do conflito na Ucrânia
'A Rússia vencerá': a visão de John Mearsheimer sobre o futuro do conflito na Ucrânia
Sputnik Brasil
Em entrevista recente para mídias ocidentais, o renomado pensador neorrealista John Mearsheimer avaliou o futuro do conflito na Ucrânia. Segundo ele, a Rússia... 01.08.2023, Sputnik Brasil
2023-08-01T13:36-0300
2023-08-01T13:36-0300
2023-08-01T13:36-0300
operação militar especial russa
opinião
rússia
ucrânia
conflito ucraniano
john j. mearsheimer
análise
realismo
política internacional
https://cdn.noticiabrasil.net.br/img/07e7/08/01/29773797_0:80:2682:1589_1920x0_80_0_0_6ef020dd1464deddee704019f86fae0e.jpg
A afirmação de Mearsheimer ocorre em um contexto muito peculiar. Vale lembrar que o atual secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte, Jens Stoltenberg, deixou bem claro que a Ucrânia não seria admitida na aliança até que tivesse vencido os russos. Em outras palavras, a Ucrânia necessita vencer a Rússia militarmente primeiro, antes de poder ser trazida para o quadro da Aliança Atlântica. Em caso de derrota (como pontua Mearsheimer), portanto, Kiev não terá nenhuma condição de ver seu desejo de participação na OTAN atendido.Como escolástico, John Mearsheimer é uma das vozes mais respeitadas no estudo das relações internacionais e um dos principais representantes do pensamento neorrealista, desenvolvido sobretudo a partir da segunda metade da década de 1970. Desde então, o neorrealismo tornou-se a teoria mais dominante na academia e em análises de conjuntura internacional, muito por conta das contribuições de Mearsheimer e do também respeitado teórico Keneth Waltz.No mais, a compreensão neorrealista da realidade internacional (defendida por Mearsheimer) fundamenta-se por cinco pressupostos centrais. O primeiro é o de que não existe nenhuma autoridade acima dos Estados nacionais, e, portanto, compete unicamente a cada governo a defesa de seus interesses legítimos e de segurança.O segundo pressuposto é o de que: por possuírem poderio militar, os Estados representam naturalmente uma ameaça uns para os outros. Em terceiro lugar, nenhum Estado detém a certeza quanto às intenções de seus pares. Quarto, os Estados são motivados por uma preocupação com a sua sobrevivência e integridade territorial perante ameaças externas. E por fim, os Estados são atores funcionalmente racionais.Dados todos esses pressupostos, Mearsheimer, com razão, foi uma das principais vozes a condenar o comportamento da OTAN em expandir o bloco militar para perto das fronteiras russas, imaginando que tal avanço não teria quaisquer consequências para o sistema internacional. Em entrevistas concedidas durante as primeiras semanas do conflito, Mearsheimer chamou atenção para a falta de empatia do Ocidente para com as legítimas preocupações de segurança de Moscou em relação à Aliança Atlântica.Não por acaso, Mearsheimer frequentemente propunha um exercício imaginativo no sentido de provocar o seu público. O exercício consistia em perguntar a seus interlocutores sobre o que os Estados Unidos achariam se, digamos, México ou Canadá resolvessem fazer parte de uma aliança militar liderada pela Rússia ou pela China. Não é preciso aqui nem mesmo dizer qual seria a resposta.Com efeito, a mais recente cúpula da OTAN em Vilnius apenas veio a confirmar a natureza agressiva do bloco, que planeja aumentar suas tropas e infraestrutura militar em torno da Rússia. Em meio a esse cenário, defende Mearsheimer, era de se esperar que Moscou reagisse (ainda que por meio de seu hard power militar) para defender seus interesses de segurança no espaço pós-soviético.Afinal, segundo um entendimento neorrealista, a expansão indefinida de blocos militares (como a OTAN) representa uma ameaça potencial para aqueles Estados contra os quais esses blocos parecem se dirigir. Foi nesse sentido que a partir dos anos 2000 Moscou passou a criticar veemente a ampliação da Aliança Atlântica na Europa.Sobre o conflito na Ucrânia, por sua vez, Mearsheimer pontua que hoje ambos os lados estão profundamente comprometidos em vencer o confronto pela via militar. Contudo, no começo a situação era bastante diferente. De início, Zelensky mostrou-se propenso a iniciar tratativas com Vladimir Putin, no sentido de encontrar caminhos para um cessar-fogo.Todavia, conforme a participação — direta e indireta — do Ocidente foi aumentando ao longo do tempo, a disposição de Zelensky em negociar foi sendo paulatinamente minada, culminando no enfraquecimento dos mecanismos de diálogo entre russos e ucranianos e na sabotagem dos acordos de paz.Disso seguiu-se que o Ocidente transformou o conflito na Ucrânia em uma guerra por procuração contra a Rússia, ao custo das vidas dos próprios soldados ucranianos e de legiões estrangeiras lutando em favor de Kiev. Diante desse contexto, o único resultado atingido até o momento pelo Ocidente é o do aumento no número de baixas ucranianas no âmbito de uma atabalhoada contraofensiva, que já vem comprometendo seriamente as reservas estratégicas de Kiev. Esta tem sido, como lembra Mearsheimer, uma situação desastrosa para a Ucrânia, e que só faz aproximar uma vitória russa no conflito.Nada mais inglório para os senhores da guerra em Washington e Bruxelas. Ora, sempre esteve claro para o próprio John Mearsheimer que os Estados Unidos foram os principais responsáveis por causar a crise na Ucrânia. Isso porque a Casa Branca foi quem impulsionou as políticas de expansão da OTAN para o Leste, fazendo com que a Rússia enxergasse nesse movimento uma ameaça existencial para a sua segurança.Em suma, como ponderou Mearsheimer, Moscou não estava interessada em dominar a Ucrânia, mas sim em impedir que ela se tornasse um trampolim de ataque contra a Rússia em sua fronteira meridional composta por estepes. Afinal, o aspecto determinante para se entender as causas do conflito não está na enganosa narrativa ocidental sobre a Rússia, mas sim nas interpretações de Moscou quanto às ações da Aliança Atlântica durante os últimos anos. Seja como for, independentemente dos motivos que levaram à eclosão do confronto, o importante é que a Rússia se sairá vitoriosa no final das contas.As opiniões expressas neste artigo podem não coincidir com as da redação.
https://noticiabrasil.net.br/20230731/jornal-destaca-misseis-formidaveis-da-russia-usados-contra-cidades-portuarias-ucranianas-29754997.html
https://noticiabrasil.net.br/20230714/brasileiros-lutando-por-kiev-correm-risco-de-vida-e-de-processo-penal-alerta-presidente-da-adepol-29585764.html
ucrânia
Sputnik Brasil
contato.br@sputniknews.com
+74956456601
MIA „Rossiya Segodnya“
2023
Valdir da Silva Bezerra
https://cdn.noticiabrasil.net.br/img/07e7/0b/11/31534004_442:403:2086:2047_100x100_80_0_0_d805a9dc808d7cbb8a7e0afbd56c1fa7.jpg
Valdir da Silva Bezerra
https://cdn.noticiabrasil.net.br/img/07e7/0b/11/31534004_442:403:2086:2047_100x100_80_0_0_d805a9dc808d7cbb8a7e0afbd56c1fa7.jpg
notícias
br_BR
Sputnik Brasil
contato.br@sputniknews.com
+74956456601
MIA „Rossiya Segodnya“
https://cdn.noticiabrasil.net.br/img/07e7/08/01/29773797_0:0:2682:2013_1920x0_80_0_0_c75b08e46bcd2af51ea03ea2296935c1.jpgSputnik Brasil
contato.br@sputniknews.com
+74956456601
MIA „Rossiya Segodnya“
Valdir da Silva Bezerra
https://cdn.noticiabrasil.net.br/img/07e7/0b/11/31534004_442:403:2086:2047_100x100_80_0_0_d805a9dc808d7cbb8a7e0afbd56c1fa7.jpg
opinião, rússia, ucrânia, conflito ucraniano, john j. mearsheimer, análise, realismo, política internacional
opinião, rússia, ucrânia, conflito ucraniano, john j. mearsheimer, análise, realismo, política internacional
'A Rússia vencerá': a visão de John Mearsheimer sobre o futuro do conflito na Ucrânia
Especiais
Em entrevista recente para mídias ocidentais, o renomado pensador neorrealista John Mearsheimer avaliou o futuro do conflito na Ucrânia. Segundo ele, a Rússia invariavelmente se sairá vencedora, frustrando em definitivo as aspirações da OTAN no Leste Europeu e seu desejo de subjugar Moscou no campo de batalha.
A
afirmação de Mearsheimer ocorre em um contexto muito peculiar. Vale lembrar que o atual secretário-geral da
Organização do Tratado do Atlântico Norte, Jens Stoltenberg, deixou bem claro que a Ucrânia não seria admitida na aliança
até que tivesse vencido os russos. Em outras palavras, a Ucrânia necessita vencer a Rússia militarmente primeiro, antes de poder ser trazida para o quadro da Aliança Atlântica.
Em caso de derrota (como pontua Mearsheimer), portanto, Kiev não terá nenhuma condição de ver seu desejo de participação na OTAN atendido.Como escolástico, John Mearsheimer é uma das vozes mais respeitadas no estudo das relações internacionais e um dos principais representantes do pensamento neorrealista, desenvolvido sobretudo a partir da segunda metade da década de 1970. Desde então, o neorrealismo tornou-se a teoria mais dominante na academia e em análises de conjuntura internacional, muito por conta das contribuições de Mearsheimer e do também respeitado teórico Keneth Waltz.
Segundo o postulado neorrealista, os Estados agem de acordo com incentivos estruturais e materiais (como mudanças na balança de poder) dentro do sistema. Logo, o comportamento de determinado Estado refletiria sua posição dentro do jogo de forças global, ao mesmo tempo em que se basearia na busca por poder e influência diante de seus rivais.
No mais, a compreensão neorrealista da realidade internacional (defendida por Mearsheimer) fundamenta-se por cinco pressupostos centrais. O primeiro é o de que não existe nenhuma autoridade acima dos Estados nacionais, e, portanto, compete unicamente a cada governo a defesa de seus interesses legítimos e de segurança.
O segundo pressuposto é o de que: por possuírem poderio militar, os Estados representam naturalmente uma ameaça uns para os outros. Em terceiro lugar, nenhum Estado detém a certeza quanto às intenções de seus pares. Quarto, os Estados são motivados por uma preocupação com a sua sobrevivência e integridade territorial perante ameaças externas. E por fim, os Estados são atores funcionalmente racionais.
Dados todos esses pressupostos, Mearsheimer, com razão, foi uma das principais vozes a condenar o comportamento da OTAN em expandir o bloco militar para perto das fronteiras russas, imaginando que tal avanço não teria quaisquer consequências para o sistema internacional. Em entrevistas concedidas durante as primeiras semanas do conflito, Mearsheimer chamou atenção para a falta de empatia do Ocidente para com as legítimas preocupações de segurança de Moscou em relação à Aliança Atlântica.
Não por acaso, Mearsheimer frequentemente propunha um exercício imaginativo no sentido de provocar o seu público. O exercício consistia em perguntar a seus interlocutores sobre o que os Estados Unidos achariam se, digamos, México ou Canadá resolvessem fazer parte de uma aliança militar liderada pela Rússia ou pela China. Não é preciso aqui nem mesmo dizer qual seria a resposta.
Com efeito, a mais recente
cúpula da OTAN em Vilnius apenas veio a confirmar a natureza agressiva do bloco, que
planeja aumentar suas tropas e infraestrutura militar em torno da Rússia. Em meio a esse cenário, defende Mearsheimer, era de se esperar que Moscou reagisse (ainda que por meio de seu hard power militar) para defender seus interesses de segurança no espaço pós-soviético.
Afinal, segundo um entendimento neorrealista, a expansão indefinida de blocos militares (como a OTAN) representa uma ameaça potencial para aqueles Estados contra os quais esses blocos parecem se dirigir. Foi nesse sentido que a partir dos anos 2000 Moscou passou a criticar veemente a ampliação da Aliança Atlântica na Europa.
Todavia, o fato de o Ocidente considerar-se como o legítimo "vencedor" da Guerra Fria resultou em sua ignorância diante das demandas e das preocupações da Rússia no Leste Europeu, sendo essa uma das principais razões pelas quais Moscou precisou empreender sua operação militar especial em fevereiro do ano passado.
Sobre o conflito na Ucrânia, por sua vez, Mearsheimer pontua que hoje ambos os lados estão profundamente comprometidos em vencer o confronto pela via militar. Contudo, no começo a situação era bastante diferente. De início, Zelensky mostrou-se propenso a iniciar tratativas com Vladimir Putin, no sentido de encontrar caminhos para um cessar-fogo.
Todavia, conforme a participação — direta e indireta — do Ocidente foi aumentando ao longo do tempo, a disposição de Zelensky em negociar foi sendo paulatinamente minada, culminando no enfraquecimento dos mecanismos de diálogo entre russos e ucranianos e na sabotagem dos acordos de paz.
Disso seguiu-se que o Ocidente transformou o conflito na Ucrânia em
uma guerra por procuração contra a Rússia, ao custo das vidas dos próprios soldados ucranianos e de legiões estrangeiras lutando em favor de Kiev. Diante desse contexto, o único resultado atingido até o momento pelo Ocidente é o do aumento no número de baixas ucranianas no âmbito de uma atabalhoada contraofensiva, que já vem comprometendo seriamente as reservas estratégicas de Kiev. Esta tem sido, como lembra Mearsheimer, uma situação desastrosa para a Ucrânia, e que só faz aproximar uma vitória russa no conflito.
Nada mais inglório para os senhores da guerra em Washington e Bruxelas. Ora, sempre esteve claro para o próprio John Mearsheimer que os Estados Unidos foram os principais responsáveis por causar a crise na Ucrânia. Isso porque a Casa Branca foi quem impulsionou as políticas de expansão da OTAN para o Leste, fazendo com que a Rússia enxergasse nesse movimento uma ameaça existencial para a sua segurança.
Em suma, como ponderou Mearsheimer, Moscou não estava interessada em dominar a Ucrânia, mas sim em impedir que ela se tornasse um trampolim de ataque contra a Rússia em sua fronteira meridional composta por estepes. Afinal, o aspecto determinante para se entender as causas do conflito não está na enganosa narrativa ocidental sobre a Rússia, mas sim nas interpretações de Moscou quanto às ações da Aliança Atlântica durante os últimos anos. Seja como for, independentemente dos motivos que levaram à eclosão do confronto, o importante é que a Rússia se sairá vitoriosa no final das contas.
As opiniões expressas neste artigo podem não coincidir com as da redação.