Analista: fala de Biden sobre 'bomba-relógio' chinesa visa distração de problemas econômicos dos EUA
09:55 12.08.2023 (atualizado: 13:01 12.08.2023)
© AP Photo / Patrick SemanskyO presidente dos EUA, Joe Biden, fala com membros da imprensa antes de embarcar no Força Aérea Um, na Base Aérea de Andrews, Maryland, 11 de abril de 2023
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O presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou que a situação econômica da China é uma "bomba-relógio" na quinta-feira (10), citando aparentes desafios e crescimento supostamente fraco. O prognóstico sombrio de Biden é apoiado por evidências?
Biden colocou em dúvida a capacidade da China de prosperar na quinta-feira (10), dizendo que o país estava "em apuros" durante seu discurso em um evento político para arrecadar fundos em Park City, Utah.
"A China é uma bomba-relógio [...]. A China está com problemas. A China estava crescendo 8% ao ano para manter o crescimento. Agora perto de 2% ao ano", disse o presidente dos EUA, distorcendo os indicadores de crescimento do país. "Isso não é bom porque quando pessoas ruins têm problemas, elas fazem coisas ruins."
Na realidade, no segundo trimestre de 2023 a economia chinesa expandiu 6,3% na comparação ano-a-ano, apresentando um crescimento mais acelerado face aos 4,5% registados no primeiro trimestre.
"A taxa de crescimento da China desacelerou para 6,3% este ano, ainda é a mais alta do mundo entre as principais economias e com apenas 2% de inflação", disse o autor de The China Trilogy (A trilogia chinesa), editor da China Rising Radio Sinoland, e co-fundador e curador da Comissão da Verdade sobre Armas Biológicas, Jeff J. Brown, à Sputnik.
"Nenhum outro país chega perto. Mesmo a Índia, altamente divulgada pela mídia, estima um crescimento de 5,7%, mas com inflação de 4,8%. E os EUA? Crescimento de 1,1% e inflação de 3%. Esses números zombam das reivindicações vazias de Biden, que são apenas um desvio grosseiro da realidade", afirmou Brown.
Além do mais, os problemas demográficos também entram em jogo, argumentou.
"Muitos países desenvolvidos estão tendo problemas populacionais. No entanto, a China, sendo um país socialista, tem muitas ferramentas macro e microeconômicas à sua disposição para ajudar a aliviar o problema. Pequim não está parada. Numerosas leis e regulamentos estão sendo aprovados para incentivar os cidadãos a se casarem e terem filhos. Levará tempo, mas suas soluções com certeza superam as do Ocidente, que é deixar entrar levas de imigrantes ilegais para preencher a brecha", continuou o especialista em China.
No entanto, a inflação dos EUA continua a desafiar a Casa Branca. O índice de preços ao consumidor (IPC) dos EUA subiu 3,2% em relação ao ano anterior em julho e de 3% em junho, conforme informou a Secretaria de Estatísticas Trabalhistas dos Estados Unidos na quinta-feira (10). A grande imprensa dos EUA chamou a atenção para o fato de que a inflação subiu em julho pela primeira vez em 13 meses devido ao aumento dos preços dos aluguéis, sugerindo que a batalha para domar os crescentes preços ao consumidor não seria tão fácil para os EUA.
Nesse contexto, parece que a observação da "bomba-relógio" de Biden visava desviar o foco dos problemas econômicos domésticos da América, como o colapso do teto da dívida, a inflação e o colapso dos principais bancos.
"A China é a maior economia [paridade do poder de compra — PPP] do mundo, importadora, exportadora, fabricante, tem uma dívida nacional comparativamente baixa e tem um enorme investimento estrangeiro direto entrando no país, além de investir internacionalmente. O yuan está se normalizando no comércio transfronteiriço. A economia da China constrói e cria produtos. A economia dos EUA foi devastada pela globalização, financeirização, devendo dezenas de trilhões de dólares que nunca serão pagos de volta, desintegrando a infraestrutura e tem graves problemas sociais em todo o país", disse Brown, acrescentando que "não é difícil prever qual país vai resistir ao colapso global que se aproxima."
Não é a primeira vez que Biden faz comentários depreciativos sobre a China e sua liderança. Em junho, o presidente dos EUA chamou seu homólogo chinês de "ditador" com o Departamento de Estado dos EUA deixando claro que as palavras de Biden não eram uma "gafe", mas a opinião do establishment dos EUA. Antes disso, Biden se preocupava e se irritava com o chamado escândalo do "balão de espionagem" chinês, que acabou sendo um hambúrguer de nada. Além disso, o presidente norte-americano cutucou repetidamente Pequim sobre Taiwan, que é vista pela República Popular como seu território inalienável.
Notavelmente, ao mesmo tempo, a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, enfatizou repetidamente a importância de manter um relacionamento com a China, apesar de haver divergências sobre certas questões.
"Com relação aos comentários, acho que o presidente Biden e eu acreditamos que é fundamental manter a comunicação [...] para esclarecer percepções errôneas, erros de cálculo. Precisamos trabalhar juntos sempre que possível", afirmou ela durante uma coletiva de imprensa em junho em Paris.
Em julho, Yellen realizou uma viagem de quatro dias à China, com o objetivo de consertar as diferenças entre os dois países. Parece que o governo Biden está jogando um "jogo duplo" com Pequim: por um lado, Washington está tentando conter a ascensão da China; por outro lado, a liderança dos EUA entende que as economias americana e chinesa ainda estão interligadas.
"Começando com o 'Pivot to Asia' de Obama/Hillary em 2012, tem havido cada vez menos 'equilíbrio' na política dos EUA e mais confronto direto em relação a tudo na China. Embora não seja tão lunático quanto as sanções do Ocidente contra a Rússia, começando com o a operação militar especial russa na Ucrânia no ano passado, o ataque anti-China do Tio Sam mostra igual desespero. Em ambos os casos, o Ocidente está perdendo sua hegemonia unipolar, colonial-imperial de 500 anos em todo o planeta. China e Rússia são simplesmente grandes e poderosas demais, ricos e complementares como aliados, para o Ocidente acompanhar", concluiu Brown.