Cinco países e um destino: como a Cúpula do BRICS promete mudar o rumo das relações internacionais?
16:17 22.08.2023 (atualizado: 18:09 22.08.2023)
© Sputnik / Grigory SysoevO presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa, o primeiro-ministro indiano Narendra Modi, o ministro chinês do Comércio Wang Wentao e a presidente do Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS, Dilma Vana Rousseff, participam da 15ª Cúpula do BRICS em Joanesburgo, 22 de agosto de 2023
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A expectativa em torno da 15ª Cúpula do BRICS envolve a possível decisão de seus membros originais sobre os critérios de admissão de novos países ao grupo. Com cerca de duas dezenas de Estados interessados em se juntar ao BRICS, a Cúpula na África do Sul pode muito bem ser um ponto de virada na história das relações internacionais.
Os líderes da China, Índia e Brasil já desembarcaram em Joanesburgo e o presidente russo Vladimir Putin vai participar das reuniões por videoconferência. Cyril Ramaphosa, que receberá seus colegas de BRICS durante os próximos três dias, já prometeu que, nas últimas etapas do evento, ocorrerá uma reunião ampliada de representantes não somente do BRICS, mas também de outros 40 países convidados.
Estamos falando aqui de um acontecimento ímpar, que representa claramente o aumento do interesse pelo BRICS por parte de atores importantes nos mais diversos cantos do planeta.
Ainda assim, mesmo que decisões sobre a inevitável expansão do grupo sejam finalmente adotadas, é preciso ter em mente que uma maior diversidade de países dentro do BRICS poderá implicar também maiores dificuldades quanto à obtenção de consenso sobre questões-chave da agenda global.
© Sputnik / Grigory SysoevO presidente sul-africano Cyril Ramaphosa discursa na 15ª Cúpula do BRICS em Joanesburgo, África do Sul, 22 de agosto de 2023
O presidente sul-africano Cyril Ramaphosa discursa na 15ª Cúpula do BRICS em Joanesburgo, África do Sul, 22 de agosto de 2023
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Ao mesmo tempo, a ideia de expansão do BRICS apresenta vantagens inegáveis, representando um símbolo da perda de importância do G7 e do Ocidente no sistema internacional. Hoje, os cinco atuais membros do BRICS, espalhados por quatro continentes diferentes (América, África, Europa e Ásia), representam um núcleo central de países que buscam melhorar sua posição na ordem global, atraindo para si diversos outros parceiros potenciais.
Isso porque o BRICS se apresenta como uma plataforma global aberta e flexível, em que qualquer país interessado pode discutir questões importantes da agenda internacional, assim como estratégias para o seu desenvolvimento.
Todavia, vale lembrar que, logo após o lançamento do BRICS em meados dos anos 2000, foi criada também uma aliança informal de potências médias incluindo a Indonésia, Coreia do Sul, Turquia e Austrália, cujo objetivo era servir justamente de contrapeso ao grupo na geração de ideias e propostas para as agendas de reuniões importantes, como a do G20.
© Sputnik / Grigory SysoevParticipantes assistem à transmissão do discurso do presidente russo Vladimir Putin durante a 15ª Cúpula do BRICS em Joanesburgo, África do Sul, 22 de agosto de 2023
Participantes assistem à transmissão do discurso do presidente russo Vladimir Putin durante a 15ª Cúpula do BRICS em Joanesburgo, África do Sul, 22 de agosto de 2023
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Ainda assim, após algum tempo, alguns destes países acabaram manifestando seu interesse de aprofundar sua cooperação com o BRICS, como é o caso da Turquia e Indonésia, para frustração do Ocidente.
Aliás, esse mesmo Ocidente percebeu que o projeto BRICS escapou de seu controle e agora não pode fazer mais nada para deter o aumento de sua importância no sistema, uma vez que o potencial econômico do BRICS já excede o do G7 por exemplo. Em 2020, a contribuição do grupo para o PIB global era de 31,5%, contra 30% dos países do G7.
Não obstante, segundo estimativas do Fundo Monetário Internacional, essa contribuição do BRICS para o PIB mundial - em paridade do poder de compra (PPC) - tende a superar a marca de 50% em 2030. Juntos, os 5 cinco países do BRICS também representam mais de 40% da população do planeta.
Essa realidade tem causado uma verdadeira dissonância cognitiva aguda nas lideranças ocidentais, que passaram a enxergar com hostilidade o BRICS. Entretanto, como o mundo multipolar já está na prática formado, quaisquer tentativas de sabotar a associação por parte dos poderes hegemônicos estão fatalmente destinadas ao fracasso.
© Sputnik / Grigory SysoevO presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, discursa na 15ª Cúpula do BRICS em Joanesburgo, África do Sul
O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, discursa na 15ª Cúpula do BRICS em Joanesburgo, África do Sul
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Tudo na vida tem o seu ciclo e a sua duração. Hoje, testemunhamos o ocaso das potências ocidentais, devido à dispersão do poder político e econômico para novos centros de influência. Enquanto o dia vai chegando ao fim para os antigos poderes hegemônicos, ele está só começando para o BRICS.
Aliás, os países membros do BRICS já foram bem-sucedidos em criar alternativas de investimento para Estados emergentes, por meio do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), que funciona em paralelo a instituições como o Banco Mundial e o FMI.
Não por acaso, o NDB atingiu alguns marcos políticos importantes nos últimos tempos, expandindo o quadro oficial de seus membros, que hoje conta com Bangladesh, Uruguai, Egito e Emirados Árabes Unidos. Com isto, vemos a consolidação de uma ordem mundial multipolar mais justa e plural.
© Sputnik / Grigory SysoevO primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, discursa na 15ª Cúpula do BRICS em Joanesburgo, África do Sul, 22 de agosto de 2023
O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, discursa na 15ª Cúpula do BRICS em Joanesburgo, África do Sul, 22 de agosto de 2023
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No mais, como mencionou Sergei Lavrov (que representará a Rússia na Cúpula do BRICS) em entrevista ao jornal sul-africano Ubuntu, as tentativas do Ocidente de reverter essa tendência já não podem mais surtir qualquer efeito.
O mundo já está cansado das chantagens e da pressão das elites ocidentais, manifestada pelo uso de sanções e a intervenções externas nos assuntos domésticos de outros Estados no intuito de atingir seus objetivos políticos escusos.
Diante desse contexto, o BRICS continuará trabalhando para a democratização das relações internacionais, para a formação de uma arquitetura financeira global mais justa e para a defesa da diversidade cultural e civilizacional dos povos.
Tudo isso ganha ainda mais força diante de uma Cúpula que ocorre em solo africano. Afinal, a África foi vítima das políticas colonialistas ocidentais ao longo de boa parte de sua história, além do militarismo intervencionista de europeus e americanos.
© Sputnik / Grigory SysoevO Ministro do Comércio chinês, Wang Wentao, discursa na 15ª Cúpula do BRICS em Joanesburgo, África do Sul, 22 de agosto de 2023
O Ministro do Comércio chinês, Wang Wentao, discursa na 15ª Cúpula do BRICS em Joanesburgo, África do Sul, 22 de agosto de 2023
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Por conta desse passado, não é de surpreender que muitas lideranças no continente tenham manifestado interesse em se unir ao BRICS, sobretudo porque muitos africanos ampliaram sua cooperação com países como Rússia e China nos últimos tempos.
Para além disso, o BRICS defende abertamente o fortalecimento da posição da África na ordem mundial multipolar e seu esforço por desempenhar um papel cada vez mais significativo nas principais organizações multilaterais.
Em suma, o enfrentamento dos principais desafios de nosso tempo passa justamente pelo BRICS e por sua esperada ampliação (independentemente do formato no qual ela ocorrer).
Isso porque o BRICS se tornou um verdadeiro bastião e símbolo da multipolaridade nas relações internacionais, um grupo no qual países que representam diferentes sistemas políticos, organizações sociais e visões de mundo podem cooperar em pé de igualdade.
Afinal, apesar de diferentes, seus cinco membros originais (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) compartilham um mesmo destino em comum: o de trabalhar como uma força positiva capaz de fortalecer a solidariedade entre os Estados, baseada em uma nova ordem mundial mais justa e policêntrica.