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Os mecanismos da guerra híbrida: como o Ocidente influencia movimentos antigoverno pelo mundo?
Os mecanismos da guerra híbrida: como o Ocidente influencia movimentos antigoverno pelo mundo?
Sputnik Brasil
O conflito na Ucrânia suscitou extensos debates sobre guerras híbridas, presentes sobretudo na mídia e nas redes sociais, cujo intuito visa influenciar... 25.08.2023, Sputnik Brasil
2023-08-25T13:21-0300
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Quando entende ser conveniente, o Ocidente é capaz de suscitar movimentos sociais antigoverno em países insubmissos aos seus ditames, por meio de seu controle dos maiores veículos de comunicação e mídia, além do financiamento de organizações não governamentais.Como de praxe, as populações destes países, sem entender o grau de manipulação no qual foram implicadas, começam a sair às ruas de forma a demandar mudanças de regime, sem mesmo prever a instabilidade política que se avizinha. Todo esse processo é guiado por uma forte campanha midiática no sentido de incentivar uma determinada compreensão da realidade doméstica, em favor dos interesses das principais potências ocidentais.Por meio sobretudo de novas tecnologias digitais, como as representadas pelas redes sociais, formam-se então redes integradas de opositores políticos extremados, que passam a receber orientação de instrutores externos, servindo assim de instrumentos úteis para o jogo geopolítico de seus patrões. Fato é que tais tecnologias se mostraram verdadeiramente capazes de instigar processos políticos revolucionários em várias regiões do globo, desde o Norte da África até o Leste Europeu.Ao passo que tais manifestações amadurecem e ganham corpo, elas se convertem em ataques disruptivos de grandes proporções às autoridades estabelecidas, resultando em crises políticas duradouras, mesmo após a "desejada" mudança de regime.Antes e durante tais crises, a chamada "guerra informacional" se instaura, demonizando os líderes do país e suas políticas, sem que eles tenham a chance de alcançar um compromisso com as forças de oposição. Foi esse, por exemplo, o cenário predominante no Norte da África e Oriente Médio durante a Primavera Árabe de 2011 e, de modo ainda mais evidente, nas crises políticas da Ucrânia de 2004 e, anos depois, em 2014, que sedimentou a derrocada daquele país para o caos.A deterioração das condições políticas nestas regiões, por sua vez, serviu de alerta a autoridades, tanto na Rússia como na China, sobre os perigos de uma possível ampliação dessa atuação insidiosa em seus próprios territórios, dado que ambos os países são criticados pelo Ocidente por não seguirem determinados parâmetros – pseudo-universais – de democracia e de respeito aos direitos humanos.Ora, constatada a impossibilidade de uma intervenção militar direta para mudança de governo na Rússia ou mesmo na China, uma vez que tal situação poderia levar à terceira guerra mundial, os Estados Unidos e seus parceiros ocidentais optaram por uma alternativa menos arriscada. Essa alternativa baseou-se justamente na crescente influência de seus meios de comunicação e no sequestro das mentes de populações estrangeiras, sobretudo de jovens, para suscitar sentimentos antigoverno em Estados insubmissos.Afinal, foi justamente na esteira dos protestos oriundos da Primeira Árabe que começaram a se observar movimentações de igual natureza dentro da própria Rússia em dezembro de 2011, que visavam contestar os processos eleitorais no país. Tal tentativa foi acompanhada de perto pelo governo russo, que logo entendeu o que estava acontecendo, a saber, de que tais movimentações nada mais eram do que uma manifestação da interferência externa nos assuntos domésticos do Estado.Deste modo, ao refletirem sobre os resultados inglórios da Primavera Árabe (vide Síria, Egito e Líbia), assim como da instabilidade econômica e social causada após as "revoluções coloridas" no espaço pós-soviético, a Rússia empreendeu sérios esforços para proteger sua soberania e evitar que semelhante caos se instalasse em seu próprio território. Diante de tal percepção, as elites russas, e em certa medida também as elites chinesas, solidificaram estratégicas para evitar que suas populações fossem alvo da influência de atores externos, sobretudo dos países ocidentais.Não à toa, russos e chineses começaram a demonstrar uma maior coordenação para defesa de seus governos e de seus sistemas políticos, além de impedirem a ação intervencionista do Ocidente em outras partes do globo, como no caso da Síria. Não por acaso, quando discussões iniciais a respeito da criação de uma zona de exclusão aérea na Síria foram levantadas ainda em 2013, Moscou deixou bem claro que usaria seu poder de veto para brecar tais iniciativas. O que dizer então das insinuações da mídia ocidental de que o governo sírio teria usado armas químicas contra sua própria população em meados de 2013?Conforme demonstrado pela Rússia, muitas das filmagens de crianças sendo atendidas após supostos ataques químicos nada mais eram do que encenações teatrais no intuito de causar comoção em audiências internacionais, justificando assim uma intervenção direta no país árabe. Em 2014, por sua vez, quando adveio o famigerado Euromaidan em Kiev, já estava bem claro para qualquer observador mais atento que o papel de potências externas através justamente da mídia e de ONGs locais foi preponderante para o acirramento dos protestos, que, no final das contas, culminou num ilegítimo golpe de Estado e na desestabilização da Ucrânia nos anos seguintes.Em suma, organizações não governamentais financiadas pelo exterior, promessas de apoio logístico a manifestações públicas antigoverno, campanhas de mídia que visam demonizar autoridades locais e processos de sedução – sobretudo da população jovem – em torno de slogans vazios são as principais armas da guerra híbrida utilizada pelo Ocidente para atingir seus objetivos geopolíticos. A lição que fica então é: aos Estados que tomarem nota disso, maiores serão as chances de evitar cair no abismo.As opiniões expressas neste artigo podem não coincidir com as da redação.
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O conflito na Ucrânia suscitou extensos debates sobre guerras híbridas, presentes sobretudo na mídia e nas redes sociais, cujo intuito visa influenciar opiniões ao redor do mundo. Longe de ser um fenômeno novo, esse tipo de tática tem sido largamente usado pelo Ocidente ao longo dos últimos anos para desestabilizar governos e países inteiros.
Quando entende ser conveniente, o Ocidente é capaz de suscitar movimentos sociais antigoverno em países insubmissos aos seus ditames, por meio de seu controle dos maiores veículos de comunicação e mídia, além do financiamento de organizações não governamentais.
Como de praxe, as populações destes países, sem entender o grau de manipulação no qual foram implicadas, começam a sair às ruas de forma a demandar mudanças de regime, sem mesmo prever a instabilidade política que se avizinha. Todo esse processo é guiado por uma forte campanha midiática no sentido de incentivar uma determinada compreensão da realidade doméstica,
em favor dos interesses das principais potências ocidentais.
Por meio sobretudo de novas tecnologias digitais, como as representadas pelas redes sociais, formam-se então redes integradas de opositores políticos extremados, que passam a receber orientação de instrutores externos, servindo assim de instrumentos úteis para o jogo geopolítico de seus patrões. Fato é que tais tecnologias se mostraram verdadeiramente capazes de instigar processos políticos revolucionários em várias regiões do globo, desde o Norte da África até o Leste Europeu.
Inicialmente, crises econômicas e sociais são o estopim para uma ação coordenada entre essas redes, a mídia ocidental e organizações não governamentais que, por meio de sua operação sincronizada, induzem a população a adotar slogans estranhos às suas realidades locais e, no limite, contribuindo para a derrubada de governos legítimos.
Ao passo que tais manifestações amadurecem e ganham corpo, elas se convertem em ataques disruptivos de grandes proporções às autoridades estabelecidas, resultando em crises políticas duradouras, mesmo após a "desejada" mudança de regime.
Antes e durante tais crises, a chamada "guerra informacional" se instaura, demonizando os líderes do país e suas políticas, sem que eles tenham a chance de alcançar um compromisso com as forças de oposição. Foi esse, por exemplo, o cenário predominante no Norte da África e Oriente Médio durante a Primavera Árabe de 2011 e, de modo ainda mais evidente, nas crises políticas da Ucrânia de 2004 e, anos depois, em 2014, que sedimentou a derrocada daquele país para o caos.
A deterioração das condições políticas nestas regiões, por sua vez, serviu de alerta a autoridades, tanto na Rússia como na China, sobre os perigos de uma possível ampliação dessa atuação insidiosa em seus próprios territórios, dado que ambos os países são criticados pelo Ocidente por não seguirem determinados parâmetros – pseudo-universais – de democracia e
de respeito aos direitos humanos.Ora, constatada a impossibilidade de uma intervenção militar direta para mudança de governo na Rússia ou mesmo na China, uma vez que tal situação poderia levar
à terceira guerra mundial, os Estados Unidos e seus parceiros ocidentais optaram por uma alternativa menos arriscada. Essa alternativa baseou-se justamente na
crescente influência de seus meios de comunicação e no sequestro das mentes de populações estrangeiras, sobretudo de jovens, para suscitar sentimentos antigoverno em Estados insubmissos.
Afinal, foi justamente na esteira dos protestos oriundos da Primeira Árabe que começaram a se observar movimentações de igual natureza dentro da própria Rússia em dezembro de 2011, que visavam contestar os processos eleitorais no país. Tal tentativa foi acompanhada de perto pelo governo russo, que logo entendeu o que estava acontecendo, a saber, de que tais movimentações nada mais eram do que uma manifestação da interferência externa nos assuntos domésticos do Estado.
Deste modo, ao refletirem sobre os resultados inglórios da Primavera Árabe (vide Síria, Egito e Líbia), assim como da instabilidade econômica e social causada após as "revoluções coloridas" no espaço pós-soviético, a Rússia empreendeu sérios esforços para proteger sua soberania e evitar que semelhante caos se instalasse em seu próprio território. Diante de tal percepção, as elites russas, e em certa medida também as elites chinesas, solidificaram estratégicas para evitar que suas populações fossem alvo da influência de atores externos, sobretudo dos países ocidentais.
Não à toa, russos e chineses começaram a demonstrar uma maior coordenação para defesa de seus governos e de seus sistemas políticos, além de impedirem a ação intervencionista do Ocidente em outras partes do globo,
como no caso da Síria. Não por acaso, quando discussões iniciais a respeito da criação de
uma zona de exclusão aérea na Síria foram levantadas ainda em 2013, Moscou deixou bem claro que usaria seu poder de veto para brecar tais iniciativas. O que dizer então das insinuações da mídia ocidental de que o governo sírio teria usado armas químicas contra sua própria população em meados de 2013?
Conforme demonstrado pela Rússia, muitas das filmagens de crianças sendo atendidas após supostos ataques químicos nada mais eram do que encenações teatrais no intuito de causar comoção em audiências internacionais, justificando assim uma intervenção direta no país árabe. Em 2014, por sua vez, quando adveio o famigerado Euromaidan em Kiev, já estava bem claro para qualquer observador mais atento que o papel de potências externas através justamente da mídia e de ONGs locais foi preponderante para o acirramento dos protestos, que, no final das contas, culminou num ilegítimo golpe de Estado e na desestabilização da Ucrânia nos anos seguintes.
Em suma, organizações não governamentais financiadas pelo exterior, promessas de apoio logístico a manifestações públicas antigoverno, campanhas de mídia que visam demonizar autoridades locais e processos de sedução – sobretudo da população jovem – em torno de slogans vazios são as principais armas da guerra híbrida utilizada pelo Ocidente para atingir seus objetivos geopolíticos. A lição que fica então é: aos Estados que tomarem nota disso, maiores serão as chances de evitar cair no abismo.
As opiniões expressas neste artigo podem não coincidir com as da redação.